Luzes e sons alertaram o motorista do carro semi-autônomo Tesla Model X para que ele recolocasse as mãos no volante. Quando finalmente atendeu o pedido, já era tarde. Seis segundos depois, o engenheiro da Apple, Wei Huang, colidia com a barreira de segurança da pista na cidade americana de Mountain View, na Califórnia. A bateria que impulsiona o veículo elétrico pegou fogo. Huang foi retirado com vida do carro, mas morreu no hospital. O caso ocorreu em 23 de março deste ano e é mais uma das dezenas de milhares de mortes no trânsito que ocorrem todo ano nos Estados Unidos.

A notícia do desastre em Mountain View, porém, fez o valor da ação da montadora Tesla cair 8%. É o segundo acidente fatal da marca de carros elétricos e o terceiro envolvendo um veículo com tecnologia semelhante (o outro foi da Uber, que está um nível acima dos outros, pois já é autônomo). Mas essa não é a única dor de cabeça do fundador e CEO, Elon Musk. Na quinta-feira seguinte (29), veio o anúncio do recall de 123 mil unidades do Model S, o que provocou outra queda de 4%. O motivo seria uma troca de parafusos da direção hidráulica. “Ele prometeu atingir metas, não conseguiu e o mercado começou a questionar”, diz Ricardo Bacellar, líder do setor automotivo da consultoria KPMG no Brasil. Em uma reação teatral, Musk escreveu: “Vou voltar a dormir na fábrica. O negócio de carros é um inferno.” O objetivo seria supervisionar a linha do Model 3, carro que tem feito a Tesla sofrer com dificuldades na produção. A meta era atingir 2,5 mil carros por semana, mas não passa de 2 mil.

O mercado financeiro, que considerava a Tesla uma das estrelas do setor, não perdoou. Em 2017, a montadora de Musk chegou a ser a empresa mais valiosa do setor automotivo nos EUA, alcançando US$ 63 bilhões, superando marcas como as centenárias General Motors e Ford. Com a sequência de reveses, a empresa perdeu US$ 12 bilhões na bolsa até o início de abril, uma queda de 18% em relação ao seu pico (confira quadro). “Musk veio de tecnologia, uma área tolerante a erros”, afirma Bacellar, da KPMG. “Mas a indústria automotiva produz produtos seguros, um incidente pode custar uma vida”.

Quando lançou a função Autopilot, em 2015, a Tesla recomendou precaução. Mesmo assim, vídeos de usuários mostravam o carro dirigindo sozinho e evitando acidentes. Musk usou as imagens como marketing e as publicou nas redes sociais. “É inegável os ganhos na diminuição dos acidentes no futuro com o carro autônomo”, diz Milad Kalume Neto, consultor da Jato Dymanics no Brasil. Mas Li Shufu, chairman do grupo Zhejiang Geely, proprietário da marca Volvo, alerta. “Um acidente pode matar toda a indústria”, disse ele. Em fevereiro, Musk aproveitou um lançamento de sua empresa de foguetes SpaceX para colocar o modelo Roadster no espaço, em um ousado lance de marketing. Agora, ele precisa ajustar sua operação para que a Tesla não vá, literalmente, para o espaço.