A mais poderosa bomba econômica foi apontada para Moscou na manhã da quarta-feira (4). Apesar do arsenal de sansões e bloqueios do Ocidente nos últimos meses, em retaliação à invasão da Ucrânia, agora a União Europeia decidiu proibir completamente a importação de petróleo, combustíveis e derivados da Rússia até o fim do ano. A tentativa de encurralar o presidente Vladimir Putin em um xeque-mate financeiro, sem causar uma Terceira Guerra Mundial, é a sexta rodada de pressão sobre o ex-espião da KGB. O veto pode significar US$ 120 bilhões — ou um terço de toda exportação de petróleo da Rússia — a menos para o governo.

Ao anunciar o plano, que deverá ser ratificado pelos parlamentos dos países-membros do bloco nas próximas semanas, Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, afirmou que há alternativas energéticas e de fornecedores caso a Rússia se torne uma peça fora do tabuleiro. “A proibição será completa. Garantiremos a eliminação gradual do petróleo russo de forma ordenada, de uma maneira que permita a nós e a nossos parceiros garantir rotas alternativas de abastecimento e, assim, atenuar o impacto nos mercados globais.”

Mesmo com o apoio das maiores economias europeias, como Alemanha, França e Itália, nações como a Hungria e a Eslováquia, que dependem fortemente da energia russa, se opuseram a um corte repentino de petróleo, mas é inegável que a medida seria uma jogada importante no tabuleiro da guerra. Na avaliação do economista e cientista político Walter Bern, este será o maior golpe a Putin desde o início das invasões, em fevereiro. “Se o veto for realmente executado, a economia russa tende a entrar em colapso nos próximos três ou quatro anos, já que não haverá novos compradores ou reservas capazes de sustentar a máquina pública com esses bilhões a menos.”

Atualmente, a Europa é o principal comprador de petróleo, gás natural e combustível da Rússia. Mais de 25% do petróleo bruto do Velho Continente vêm da Rússia, mas há grandes diferenças no nível de dependência entre os países. As economias menos afetadas são Espanha, Portugal e França, que importam quantidades pequenas devido aos custos de transporte. Por outro lado, em países como Hungria, Eslováquia, Finlândia e Bulgária, a dependência russa chega a 75%. O acordo, se aprovado pela UE, acompanhará as decisões já tomadas pelos Estados Unidos e o Reino Unido. Ambos negociaram com outros fornecedores, entre eles Venezuela e Arábia Saudita, o aumento no fornecimento de petróleo.

EUA NO JOGO E o ataque ocidental contra a Rússia também terá a força americana. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, deve oficializar nos próximos dias um pedido ao Congresso americano de financiamento suplementar de US$ 33 bilhões para ajuda à Ucrânia, diante do agravamento dos combates. Com o sinal verde dos congressistas, o suporte de Washington a Kiev deve chegar a US$ 48 bilhões neste ano, a maior cifra já oferecida a um país em conflito direto desde a Segunda Guerra.

US$ 120 bi é a potencial perda da Rússia sem o mercado europeu no petróleo

25% do petróleo usado no Velho Continente vem das reservas russas

US$ 33 bi é o valor da ajuda à Ucrânia que o parlamento americano estuda liberar 

Do total proposto por Biden, US$ 20,4 bilhões serão usados na assistência militar e de segurança, US$ 5 bilhões irão para autoridades de saque, US$ 6 bilhões para a Iniciativa de Assistência à Segurança da Ucrânia e US$ 4 bilhões para o Programa de Financiamento Militar Estrangeiro do Departamento de Estado. Parte desse valor poderá ser utilizado para pagar as contribuições de munições e equipamentos de outros países, permitindo que eles se defendam totalmente. Há ainda recursos para o combate à desinformação russa e as narrativas de propaganda e financiamento de veículos de imprensa independentes.

Mesmo com jogadores experientes no comando do jogo de xadrez que a guerra da Ucrânia se tornou, todo cuidado é pouco e qualquer movimento mal calculado, seja pelo Ocidente, seja pelo Kremlin, pode resultar em uma reação inesperada.