Com a economia deixando a desejar em 2022 e a aproximação da corrida eleitoral, os principais candidatos ao mais alto cargo do Executivo já fazem suas apostas para chamar a atenção do mercado. Mais do que sinalizar quais economistas poderão fazer parte do governo, eles jogam cartas na mesa para seduzir a diversificada classe empresarial brasileira. Dos industriais aos banqueiros, o plano é mostrar quais caminhos deverão ser adotados caso ocupem o Palácio da Alvorada em 2023. Sem planos de deixar às margens do Lago Paranoá, Jair Bolsonaro também fala sobre o que faria na reeleição. E ainda que a distância política entre os presidenciáveis seja grande, há semelhanças nas propostas. Em especial em temas como fomento da indústria e condução da Petrobras.

REINDUSTRIALIZAÇÃO DO BRASIL A pandemia trouxe ao empresariado duas certezas. 1) O uso da tecnologia não é opção, é dever. 2) A deficiência da indústria é latente. E o candidato do PDT, Ciro Gomes, que unir os dois. “Não existe uma economia do conhecimento sem uma base industrial”, disse. E para isso, diz, é preciso olhar para dentro. “Por que importar US$ 17 bilhões do complexo industrial da saúde, só a União, com 80% desses produtos com patente vencida, se é permitido pelo nosso status de nação em desenvolvimento na OMC fabricar aqui?”, disse ele na sabatina da 8ª Brazil Conference. O ex-presidente Lula também olha a indústria de base, mas de outra forma. Dentro do PT o plano é reativar canteiros de obras. “Queremos um Estado que tenha força suficiente para induzir o desenvolvimento deste País”, disse Lula, em um evento com sindicalistas.

Mais à direita nessa linha, o ex-governador de São Paulo João Doria participou da mesma sabatina que Ciro Gomes. Ele, que se autodenomina Pai da Vacina contra Covid no Brasil, disse que levará a busca por inovação a Brasília. Com a máquina pública nas mãos, Bolsonaro aproveita o hoje para prometer o amanhã. Nos planos estão desoneração da folha, liberação de crédito para pequenas indústrias e renegociação de dívidas.

CAPITAL ESTRANGEIRO E para que a economia ande, o Brasil precisa voltar a ter mais atenção e confiança da comunidade internacional. O que para Doria passa pelo comprometimento com a responsabilidade fiscal e controle das contas públicas. Segundo ele, as reformas tributárias e administrativas estão entre suas prioridades, por serem temas que ajudam o desenvolvimento econômico do País, e melhoram as condições sociais. “São Paulo tem exemplos a mostrar. O PIB cresceu três vezes a média nacional. Recebeu RS 276,2 bilhões em investimentos por meio das iniciativas do estado, graças à reforma administrativa e permitiu investimentos em saúde”, afirmou. Já o atual presidente da República disse que o Brasil segue como um importe vetor da economia mundial, e que o Brasil “continua como um porto seguro para investimento estrangeiro.” Para “acalmar” os investidores apreensivos com 2023, o presidente disse que Paulo Guedes seguiria no governo, até segunda ordem.

“Ele tem muito crédito. Tem que ver se ele quer continuar. A princípio, continua.” Dentro do PT, o plano é que o capital estrangeiro volte. E rápido. E para isso Lula sabe que terá de reconstruir laços e reforçar acordos comerciais. “O governo vai ter que tomar uma atitude para ter credibilidade”, disse. Nos planos do petista estão a reaproximação com os Estados Unidos e países europeus, além do Mercosul e Brics. Mais taxativo, Ciro Gomes também quer uma guinada na política externa. Segundo ele, o Brasil precisa olhar suas próprias potencialidades como catalisadoras de negócios pelo mundo. Ele cita questões ligadas a meio ambiente e sustentabilidade como as apostas. Ciro, que algumas vezes já pediu ao investidor estrangeiro um voto de confiança, garante que sob sua tutela o Brasil terá mais a oferecer ao mundo do que produtos primários.

ENERGIA E PETROBRAS Se tem um assunto sensível no Brasil hoje é a questão energética. Todos os candidatos à presidência sabem disso. Parte do problema, Bolsonaro também quer ser parte da solução, e promete uma saída duradoura e eficiente para controlar os preços do petróleo sem interferir na Petrobras. Ele diz ainda que não descarta a privatização. Doria também tem falado bastante desse tema. Em um encontro com líderes empresariais no Lide, em São Paulo, disse pensar em privatização, mas com ressalvas. “Não para transferir o monopólio do Estado para a iniciativa privada, e sim dividida em três ou quatro empresas bem modeladas e competitivas”, disse.

Na contramão ficam Lula e Ciro. Ambos defendem que o Estado tenha não apenas a maior parte das ações da estatal, mas aponte soluções para que os preços não se descontrolem. O petista, por exemplo, defendeu no início de abril a reversão da política de desinvestimentos iniciada em 2016. “Precisamos produzir mais e melhorar a qualidade. O Brasil precisa ser exportador de derivados de petróleo.” Já o pedetista fala que que, se eleito, convocará o conselho de administração da Petrobras para revogar a política de preços de paridade internacional (PPI). “Ela não é um instrumento da lei e nem da lógica de mercado.” Agora é escolher quem te convence.