Fato político da semana: pela primeira vez, a ex-ministra Dilma Rousseff apareceu na frente de José Serra nas pesquisas eleitorais, tanto no Ibope como no instituto Vox Populi. A consequência imediata: esquentou muito, mas muito mesmo, a especulação sobre a formação da equipe econômica da eventual presidente petista.

A peça-chave em torno dessas articulações se chama Antônio Palocci, o ex-ministro da Fazenda que já não desgruda mais da candidata – além de assistirem juntos à vitória do Brasil sobre o Chile, na segunda-feira 28, os dois têm participado de vários encontros reservados com empresários. Já estiveram com nomes como Jorge Gerdau, Marcelo Odebrecht, Benjamin Steinbruch, da CSN, e Luiz Trabuco, do Bradesco.

87.jpg

 

 

Em todas as conversas, Palocci tem sido apresentado como uma espécie de fiador econômico da candidata – a garantia de continuidade da atual política, sem recaídas intervencionistas. Tais movimentos têm despertado no meio empresarial a percepção de que Palocci será para Dilma o que ela foi para Lula: o capitão do time, ou seja, o chefe da Casa Civil, com ascendência sobre todos os demais ministros.

Nesses mesmos encontros, com banqueiros e empresários, Palocci tem também transmitido uma mensagem sobre o principal adversário de Dilma. O mantra é “risco-Serra”, baseado em declarações do próprio candidato tucano sobre uma eventual intervenção no Banco Central.

Atento a esse discurso, José Serra, que finalmente encontrou seu vice na semana passada, o deputado Índio da Costa (DEM-RJ), tem preparado um antídoto. Em várias entrevistas, ele tem mencionado o nome do ex-presidente do BC Armínio Fraga, que introduziu o sistema de meta de inflação no País, em 1999.

Desde a polêmica entrevista defendendo um Ministério da Fazenda forte, Serra proibiu que a equipe abordasse o assunto publicamente. Mas eles ainda estão liberados para falar mal da política fiscal. Serra diz que vai reduzir os gastos, com isso reduzir os juros e estimular o crescimento com um custo menor para as contas públicas.

Na equipe de Marina Silva, o apelo é outro. A senadora e ex-ministra do Meio Ambiente tenta fugir da discussão sobre gastos públicos e intervenção estatal e se colocar como precursora de uma economia que combina desenvolvimento e respeito ao meio ambiente, a “economia do século XXI”. 

85.jpg

 

 

Nesse time, a interlocução com o setor produtivo é liderada pelo vice, Guilherme Leal, fundador da Natura, e o homem forte é João Carlos Capobianco, secretário-executivo no Ministério do Meio Ambiente e hoje coordenador da campanha. Apesar do foco no desenvolvimento sustentável, Marina não defende rupturas. Tanto que cita o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, como tendo “o perfil ideal” para ocupar o cargo.

Na disputa por mostrar qual equipe ameaçaria menos o mercado, Serra exibe outros tucanos que já ocuparam cargos no governo FHC. Um deles é Gesner Oliveira, ex-presidente do Cade e atual presidente da Sabesp, celebrado por transformar a empresa de saneamento paulista numa companhia lucrativa e com boa imagem ambiental.

Mas o núcleo central da equipe que o assessora na campanha é formado por ex-auxiliares no governo de São Paulo, como Mauro Ricardo Costa. Considerado um gestor implacável e conhecido pelos bons resultados, capitaneou na Secretaria de Fazenda um aumento acentuado na arrecadação estadual sem elevar impostos.

Do lado de Dilma, a continuidade não é apenas de políticas, mas também de nomes. Um que pode permanecer no governo é o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, um dos mais próximos da petista e considerado um gestor competente que poderia permanecer no cargo ou ganhar a presidência do Banco do Brasil.

86.jpg

 

 

Mentor da política industrial em curso, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, tem tido seu nome associado ao Ministério da Fazenda, enquanto o atual ocupante da cadeira, ministro Guido Mantega, já manifestou desejo de presidir a Petrobras.