Pufes e sofás coloridos, máquinas de chope, placas neon e uma mesa de pingue-pongue. A unidade da rede de escritórios colaborativos da americana WeWork, na avenida Paulista, em São Paulo, reúne todos os requisitos que se espera de uma típica startup. Não resta dúvida que o ambiente é perfeito para atrair empresas em estágio inicial. A grande surpresa é que não são só as novatas que têm buscado esses espaços descontraídos. Desde que fincou os pés no Brasil, há exatamente um ano, boa parte da demanda da WeWork vem de companhias com um perfil oposto. São grupos tradicionais e de grande porte, como a empresa de energia EDP e a consultoria EY (antiga Ernst & Young), que sustentam uma fatia relevante da expansão da rede – que já conta com dez unidades no País, 283 no mundo e um faturamento global de US$ 1,3 bilhão. Das mais de dez mil pessoas que trabalham em um espaço da WeWork no Brasil, 40% são funcionários de grandes corporações (com mais de mil colaboradores). Globalmente, essa fatia é um pouco menor, de cerca de 25%. “Era algo que ninguém imaginava alguns anos atrás, mas que hoje já virou realidade”, afirma Lucas Mendes, diretor-geral da WeWork no Brasil. “Temos inclusive empresas relevantes migrando a sede inteira para os nossos espaços.”

Além da EDP e da EY, nomes conhecidos do brasileiro, como o Facebook, Braskem e Unilever, decidiram fazer o mesmo movimento. Em busca de inspiração, networking ou para conseguir “pensar fora da caixinha”, essas empresas levaram parte de suas equipes – em geral, as áreas de inovação – para os espaços colaborativos. É justamente esse o caso da EDP. Em agosto do ano passado, a empresa, que atua na geração, distribuição e transmissão de energia elétrica, alocou 18 funcionários da área de inovação e de sua aceleradora de startups (a EDP Starter) em um espaço da WeWork. Em julho deste ano, a companhia levou outros três e está estudando se engrossará o caldo, com a inclusão das áreas de transformação digital e de analytics.

Perto do tamanho da EDP, que conta com cerca de três mil funcionários e faturamento de R$ 11,7 bilhões, os 21 alocados no escritório compartilhado parecem ter pouca relevância. Mas a entrada no co-working, garante Lívia Brando, gestora de inovação e estratégia da EDP, gerou transformações importantes na empresa, que passaram pela estrutura da sede e pelo mindset dos funcionários. “Todos os nossos colaboradores que experimentaram o co-working queriam trazer a experiência para a nossa sede”, afirma a executiva. “É um ambiente mais leve e que inspira a criatividade.” A demanda estimulou a empresa a fazer inclusive algumas mudanças em seu próprio escritório. As baias que separavam as mesas de trabalho foram retiradas e a EDP criou um sistema de agendamento para as salas de reunião (semelhante ao que existe na WeWork).

Divisão: na belga Regus, que está desde 1994 no Brasil, 30% dos membros da rede no País são de grandes empresas (Crédito:Thiago Bernardes/Frame)

O movimento da EY foi no mesmo sentido. Em dezembro do ano passado, a tradicional empresa de consultoria levou sua equipe de engenharia avançada, composta por quatro pessoas, para o espaço da WeWork. As razões foram três: buscar a troca com outras empresas, ter um espaço mais propicio à inovação e estimular a transformação cultural da própria EY. “Levamos com frequência o pessoal do escritório para visitar o co-working e essas culturas vão se misturando”, afirma Denis Balaguer, diretor de inovação da companhia. “Acho interessante usar isso como uma alavanca para a nossa transformação cultural.” Os dois exemplos ilustram um movimento mais contido de grandes companhias, que parecem ainda estar testando o terreno e entendendo os escritórios compartilhados.

Na rival belga Regus, uma das pioneiras no setor de co-working e que está desde 1994 em território nacional, a situação é bem semelhante: em torno de 30% dos membros da rede no Brasil são funcionários de empresas de grande porte – e a área também vem crescendo em um ritmo expressivo. Há três anos, por exemplo, a fatia era inferior aos 20%. “É um movimento notório. As grandes empresas estão buscando cada vez mais ambientes que fomentem o networking e o pensamento criativo”, diz o presidente da Regus no Brasil, Tiago Alves, que cita como exemplo a construtora Helbor, que alugou um andar inteiro de um de seus espaços da empresa para colocar toda a sua área de corretores de imóveis.

Como percebe-se, já existem casos bem mais avançados. A empresa de recursos humanos Cia. De Talentos deu um passo ainda maior do que a Helbor e decidiu migrar toda a sede, com seus 150 funcionários, para a unidade do complexo JK do WeWork. Nesse caso, pesou na decisão mais do que os benefícios de experiência, a questão financeira. Ao colocar no papel os gastos que tinha mantendo uma sede própria e os que teria mudando para um co-working, a fundadora da empresa, Sofia Esteves, constatou que a mudança geraria uma redução de mais de 30% nos custos operacionais. “Não temos que ter recepcionista, faxineiras e nem a área de facilities, que era um gasto muito grande na empresa”, afirma a empresária. Além da busca das grandes companhias pelos espaços da WeWork, a americana vai investir nessa área por meio de outra frente. Ela lançou, no último dia 15, um novo serviço no Brasil, chamado Powered By We. Com a solução, a empresa entra na sede de grandes companhias e redesenha todo o ambiente. Com todas essas transformações, cabe a pergunta: os espaços de trabalho como conhecemos estão perto do fim? Ao que tudo indica, a resposta parece ser um sim.