A fintech de pagamentos Zoop é muito menos conhecida do que gigantes como Cielo, Rede e Getnet. No mercado há cinco anos, ela se especializou em criar terminais de pagamentos de cartões sob medida para clientes que querem individualizar suas cobranças. No fim de julho, a Zoop anunciou uma parceria com a empresa de entrega de comida iFood. “Os entregadores terão uma maquininha personalizada”, diz o empresário Fabiano Cruz, fundador e principal executivo da Zoop. Cruz define sua empresa como uma plataforma de descentralização dos serviços financeiros.

Apesar de o empresário não revelar os números da Zoop, é possível concluir que seu faturamento está distante dos R$ 5,1 bilhões que a Cielo, líder do mercado de adquirência, faturou no primeiro semestre deste ano. No entanto, a fintech fundada por Cruz e novas empresas de adquirência, como PagSeguro e Stone, vêm sendo a principal fonte de preocupação para os adquirentes tradicionais. Além de motivar as companhias já estabelecidas a diversificar seus produtos, o aumento da concorrência vem fazendo os grandes bancos a reforçar a emissão de cartões de crédito e débito, de modo a não ter de abrir mão dos lucros polpudos.

Octávio de Lazari Jr., presidente do Bradesco: “Uma das melhores maneiras de aumentar nossos negócios com os clientes não correntistas é por meio dos cartões.” (Crédito:Claudio Gatti)

Os números mostram isso. No dia 26 de julho, o Bradesco divulgou um lucro líquido recorrente de R$ 10,3 bilhões no primeiro semestre deste ano, avanço de 9,7% em relação aos seis primeiros meses de 2017. As receitas com tarifas somaram R$ 15,9 bilhões. Desse total, R$ 5,5 bilhões, ou 34,6% vieram de cartões de crédito e débito. E Octávio de Lazari Jr., presidente do banco, não poderia ter sido mais claro ao comentar os resultados. “Temos 40 milhões de clientes que não são correntistas”, disse ele à DINHEIRO. “Uma das melhores maneiras de aumentar nossos negócios com eles é por meio dos cartões.”

Os demais gigantes do mercado adotaram discurso e estratégia semelhantes. Ao celebrar o 18º trimestre consecutivo de lucro, Sérgio Rial, presidente do Santander Brasil, disse que um dos pilares mais importantes dos bons resultados é emprestar mais dinheiro para os clientes de varejo, que pagam juros mais altos que as grandes empresas. Em junho deste ano, o Santander divulgou um crescimento de 13,1% nos empréstimos, em relação a 2017. O crédito para pessoa física cresceu 23%. Nesse período, as tarifas de cartões e a adquirência responderam por 33% dos R$ 8,4 bilhões de receitas de serviços. Sem divulgar números, Rial disse esperar que os empréstimos por cartões sejam uma das linhas com maior crescimento neste ano. “Nossa ambição para o mercado de cartões é ilimitada”, disse ele.

Sérgio Rial, presidente do Santander Brasil: “Nossa ambição para o mercado de cartões é ilimitada.” (Crédito:Olga Vlahou)

Já o Itaú Unibanco está desenvolvendo um cartão pré-pago para empresários não bancarizados, para que eles consigam adiantar o resultado de suas vendas. “O objetivo é posicionar o Itaú Unibanco em um nicho que não atuávamos, que engloba microempreendedores e autônomos”, disse Candido Bracher, presidente do banco. “Esse mercado movimenta R$ 350 bilhões por ano e ainda tem muito espaço para crescer, pois apenas 20% disso são explorados.”

Ao voltar ao básico – vender cartões – os bancos estão tentando garantir ganhos que têm sido ameaçados pela desregulamentação e pelo aumento da concorrência no setor de pagamentos. Há pouco mais de cinco anos, as empresas de adquirência desfrutavam de polpudas margens líquidas que chegavam a 30% ao ano, caso da Cielo. Na ponta do lápis, um de cada três reais faturado convertia-se em lucro. Esse conforto acabou, mas o tamanho desse mercado compensa o esforço.

Candido Bracher, presidente do Itaú Unibanco: “O mercado de microempreendedores e autônomos movimenta R$ 350 bilhões por ano e ainda tem muito espaço para crescer.” (Crédito:Gabriel Cabral/Folhapress)

Com ou sem crise, nos últimos dois anos o total de transações cresceu a taxas de dois dígitos considerando-se o desempenho do primeiro trimestre (observe o quadro abaixo). Com os plásticos, os bancos, especialmente os grandes, que respondem por cerca de 90% do total de cartões de crédito e débito emitidos no País, garantem o mais importante dos negócios, a antecipação dos recebíveis da venda e a concessão de empréstimos, com taxas que podem chegar a 150% ao ano, considerando-se os juros e as tarifas fixas por transação.

O crescimento da base de clientes também vai compensar uma perda de receita que deverá ocorrer em breve. Um dos filões desse mercado, a tarifa de intercâmbio, que é cobrada pelos bancos das empresas de adquirência em cada transação, terá seu teto fixado em 0,5% na média a partir de 1º de outubro deste ano. Há, ainda, as vantagens da fidelidade. Por trazerem um relacionamento bancário, algo demorado para uma empresa conquistar, os cartões são considerados menos sujeitos à concorrência do que as maquininhas. Por isso, a ordem nos bancos a partir de agora é dar força aos plásticos sem esquecer as maquininhas.