A menos de dois meses da eleição legislativa que pode colocar a oposição de volta no Congresso, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, rompeu relações com a Colômbia.  Fez isso depois que o vizinho denunciou a presença de guerrilheiros das Farc em território venezuelano. 

 

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O presidente Lula, em vez de se empenhar em manter a paz na região, acirrou o debate ao dizer que a ameaça de guerra entre os dois vizinhos não passa de “conflito verbal”. Lula parece ignorar a capacidade destrutiva de Chávez. Basta olhar o que o líder da “revolução bolivariana” fez com a economia do próprio país para entender o poder de suas bravatas no mundo real. 

 

Nos anos 1950, quando o Brasil ainda engatinhava em sua industrialização, a Venezuela começou a explorar comercialmente as imensas reservas de petróleo que descobrira nos anos 20. 

 

As décadas seguintes foram de bonança. Nos anos 70, enquanto a América Latina e boa parte do mundo sofriam com o choque do petróleo, os venezuelanos aproveitavam os petrodólares e o apelido de “Venezuela Saudita”. Mas a realidade sempre bate à porta.

 

Este ano, o melhor em muito tempo para a América Latina, quando a região deve crescer em torno de 5%, e o Brasil até 7%, a Venezuela está em recessão. A economia do país deve encolher entre 3,5% e 4%, com uma inflação de 31%.  Além disso, o país sofre com a escassez de alimentos, provocada pela combinação de queda na produção nacional com as dificuldades de importar. Com isso, cresce o mercado negro, alimentado ainda por um dólar fixo que tem quatro cotações diferentes. Como um país com um dos recursos naturais mais valiosos do mundo se encontra nessa situação?

 

A resposta está no Palácio de Miraflores, no centro de Caracas. Quando o presidente Chávez chegou ao poder, em 1999, a estatal PDVSA produzia 3,2 milhões de barris de petróleo ao dia. 

 

Dez anos depois, o preço do combustível aumentou quatro vezes e o consumo mundial subiu, mas a produção venezuelana caiu para 2,4 milhões de barris por dia. Neste período, a Venezuela descobriu novos campos, e hoje tem a segunda maior reserva do mundo, depois da Arábia Saudita. 

 

Há muitos anos, no entanto, que os recursos do petróleo não são investidos adequadamente na PDVSA, mas transferidos ao caixa do Tesouro para os programas políticos de Chávez. Sem novos investimentos, a produção de petróleo vai minguando.

 

Mas o assalto do presidente venezuelano à economia de mercado não se restringe a isso. A interferência de Chávez chegou ao comércio, ao controlar os preços dos alimentos no varejo, oferecer produtos mais baratos em lojas do governo e quebrar os pequenos varejistas. 

 

Exemplo clássico da “maldição do petróleo”, a Venezuela nunca se preocupou em desenvolver uma indústria nacional para reduzir a dependência do “ouro negro”. Com Chávez, essa política se intensificou, apesar do discurso nacionalista. Para o Brasil, até que foi um bom negócio. 

 

Em 2007 e 2008, o país teve superávits comerciais superiores a US$ 4 bilhões com a Venezuela. No ano passado, com a crise, foi de US$ 3 bilhões, mas voltou a crescer este ano. Por isso, muitos empresários brasileiros gostam de Chávez como cliente, mas não como sócio no Mercosul.