São 80 anos de história, completados em 2021, e um portfólio com 15 mil produtos fabricados em dez plantas no Brasil e 14 no exterior. Tudo sob a supervisão e controle total da família Hansen, já em sua terceira geração. O roteiro, no entanto, sofreu importante mudança desde a sexta-feira 18, quando a Tigre acertou a venda de 25% dos negócios ao fundo Advent, por R$ 1,35 bilhão. A estratégia da fabricante de tubos e conexões é acelerar o crescimento das operações diante dos cenários que se desenham nacional e internacionalmente.

Segundo Otto von Sothen, presidente da Tigre, o investimento da Advent permitirá uma expansão mais acelerada da empresa em três frentes prioritárias: infraestrutura brasileira com foco no desenvolvimento do saneamento básico, aquecido em razão do Marco Legal do Saneamento; o aquecimento do setor de infraestrutura nos Estados Unidos, resultado dos investimentos do governo Joe Biden; e as oportunidades do mercado andino.

O governo federal brasileiro espera investimentos de ao menos R$ 600 bilhões até 2033 com o Marco Legal do Saneamento, e a Tigre planeja ampliar a presença no crescente mercado de saneamento básico. Segundo dados do Instituto Trata Brasil, existem 35 milhões de brasileiros sem acesso à água potável, além de 100 milhões sem esgoto tratado — são cerca de 26 milhões de residências. Já nos Estados Unidos, o presidente Joe Biden programa um pacote que deve injetar US$ 70 bilhões no segmento de infraestrutura.

O sólido histórico de investimento no Brasil, e em diversos setores, faz da Advent o parceiro ideal para apoiar a Tigre nos negócios, segundo Felipe Hansen, presidente do Conselho de Administração da multinacional brasileira “A escolha da Advent foi muito cuidadosa”, afirmou von Sothen à DINHEIRO, na segunda-feira (21). Ele garante que as frentes estratégicas da companhia nacional incluem ainda a expectativa de ampliar a oferta de soluções para a construção civil, infraestrutura e irrigação, também com perspectivas de grande crescimento no País. “E estamos de olho em soluções, serviços e tecnologia para maior eficiência no uso de água.”

A Tigre está presente em 30 países e, como parte da estratégia para pavimentar a expansão internacional, adquiriu no ano passado a Dura Plastic Products, fabricante e distribuidora de conexões de PVC, na Califórnia. A companhia brasileira busca a liderança no mercado de condução de água nas Américas e os Estados Unidos são mercado-chave.

ÀS COMPRAS O avanço da Advent sobre a Tigre não chega a surpreender. O fundo norte-americano já investiu globalmente US$ 13,5 bilhões em 80 empresas do setor industrial, dez situadas na América Latina, com destaque para a GTM Holdings, líder em distribuição de matérias-primas químicas na região e que recentemente se fundiu com a europeia Caldic. Nos últimos 25 anos, investiu mais de US$ 7 bilhões em 70 companhias latino-americanas. No total foram 390 empresas investidas pelo fundo em 42 países. Em 30 de setembro de 2021, a Advent possuía US$ 86 bilhões em ativos sob gestão.

A oportunidade de participar dos projetos de crescimento e geração de valor da Tigre anima o executivo Patrice Etlin, sócio da Advent. “É uma empresa líder e referência em seu setor, um fenômeno mundial de construção de marca, com uma história de crescimento e inovação sólida, organizada, com governança, gestão profissional, além de um plano de negócios claro e ambicioso para os próximos anos”, afirmou.
O aporte ocorre cinco meses após a Tigre obter da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) o registro de companhia de capital aberto na categoria B, que habilita para emissão de debêntures. Além do montante proveniente do novo sócio, boa parte dos R$ 600 milhões captados em debêntures devem ser usados para reforçar os planos de investimentos da companhia.

Os resultados obtidos até o terceiro trimestre de 2021 animam a empresa. A receita líquida consolidada chegou a R$ 4,2 bilhões; o lucro líquido a R$ 508 milhões; e o lucro ante de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) a R$ 855,3 milhões — os números referentes ao quarto trimestre ainda não foram divulgados. As operações no Brasil representam atualmente pouco mais de 60% do faturamento líquido da companhia.