Como o senhor vê o cenário para o segundo semestre?
O mercado está cético e preocupado, pois o governo está gastando mais do que pode. A piada, que não tem muita graça, é que um candidato à Presidência disse que iria demolir o teto de gastos e o presidente achou a ideia boa e já começou a fazer o serviço. E isso tem impactos imediatos sobre a economia.

Quais, por exemplo?
A inflação chegou, está aí, não há dúvidas. A classe média brasileira não consegue mais trocar de carro, as vendas de bens de consumo duráveis não estão bem. Isso tem impacto negativo duradouro sobre a economia. Além disso, o fato de o governo prestar menos atenção à área fiscal leva a juros elevados por mais tempo.

Isso é um problema apenas do Brasil?
Não. É possível notar aumentos sustentáveis e sistemáticos de preços na Europa e nos Estados Unidos. Desde 2008, os bancos centrais ao redor do mundo resolveram todas as crises injetando dinheiro na economia. Isso elevava os preços dos ativos financeiros, gerava um efeito riqueza, mas não pressionava os índices de inflação. Dizíamos que a conta nunca chegava. A conta chegou.

E o que esperar agora?
Teremos alguns anos desafiadores para governos e banqueiros centrais, e isso não é só no Brasil. O cenário internacional vai ficar mais complicado. Na Europa, por exemplo, a questão do desemprego será difícil de resolver. Isso pode provocar uma fraqueza estrutural na economia europeia.

Nesse cenário, onde investir?
O Brasil é, tradicionalmente, um doador de prêmios em momentos de crise. Isso quer dizer que, em tempos de incerteza, os investimentos rendem acima da inflação. Atualmente vemos títulos públicos pagando inflação mais quase 6% ao ano, o que é bastante para um título sem risco de crédito. O investidor pode aproveitar-se dessa situação.

Como?
Comprando títulos prefixados longos, de dois ou três anos, e aproveitando esses prêmios. E muitas empresas de baixo risco de crédito estão captando recursos com títulos de renda fixa, que são boa alternativa nesse cenário.

NOTAS

FUNDOS TÊM RESGATES DE R$ 61,7 BI EM JULHO

Os resgates em fundos de investimentos chegaram a R$ 61,7 bilhões em julho, informou a Anbima, que representa o setor, na segunda-feira (8). Isso fez com que o resultado do ano ficasse negativo em R$ 21,3 bilhões. Segundo a Associação, a baixa foi puxada pelo resultado ruim de fundos de renda fixa, multimercados, ações e FIDCs. De acordo com a Anbima, esse foi o segundo mês do ano de resgates. Em maio, os fundos de investimentos tiveram R$ 53,5 bilhões em retiradas.

ENC ENERGY CAPTA R$ 110 MILHÕES PARA BIOGÁS

A ENC Energy do Brasil captou R$ 110 milhões em sua terceira emissão de debêntures para ampliar suas atividades. A empresa serve-se de biogás, oriundo de aterros sanitários, para gerar energia. Com a emissão, a meta é ampliar a capacidade instalada para 60 megawatts (MW) até 2026. A companhia opera em seis estados brasileiros e está planejando expandir suas atividades nas regiões Sul e Nordeste. “Vamos ampliar cinco usinas e criar mais oito”, disse o CEO Rodrigo Missel.

CVM QUER FACILITAR ACESSO DE PESSOA FÍSICA AO FIDC

O presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), João Barroso, afirmou na segunda-feira (8) que a autarquia quer facilitar o acesso dos investidores pessoa física aos fundos de investimentos em direitos creditórios (FIDC) e aos Fundos de Investimento no Exterior. Essa facilitação está prevista na reforma da Instrução 555. Barroso disse também que as novas determinações terão foco na melhoria de práticas sociais, ambientais e governança (ESG).

EM ALTA
33,4% 

Foi o crescimento da produção de veículos na comparação de julho de 2022 com o mesmo mês do ano passado, segundo dados divulgados pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) na sexta-feira (5). De acordo com a entidade, foram 218.950 unidades produzidas, maior nível desde novembro de 2020. “Ainda temos restrições de insumos, mas estamos recebendo mais semicondutores do que no ano passado”, disse o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite.

EM BAIXA
2,1% 

Foi a queda no valor da cesta básica entre junho e julho na cidade de São Paulo, segundo dados divulgados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) na sexta-feira (5). Ainda assim, a capital paulista continua com a cesta básica mais cara do País, a R$ 760,45. Segundo a pesquisa, para suprir as necessidades básicas de uma família o salário mínimo deveria ser de R$ 6.388,55, ante os R$ 1.212,00 pagos atualmente para o trabalhador brasileiro.