A primeira-ministra britânica, Theresa May, defendeu, nesta segunda-feira (19), o projeto de acordo sobre o Brexit negociado com a União Europeia (UE), diante de uma patronal britânica tranquilizada por este “compromisso” que, caso aprovado, evitaria uma saída brutal e caótica do bloco.

No contexto de uma campanha destinada a convencer os atores econômicos, a sociedade civil e os deputados de seu próprio partido da pertinência do projeto de acordo concluído com Bruxelas, May se dirigiu a uma sala repleta de empresários na conferência anual da principal organização patronal britânica, a CBI, em Londres.

“Temos à frente uma semana intensa de negociações, em face do Conselho Europeu extraordinário de domingo”, que deve ratificar o projeto de acordo, explicou May.

Essas discussões devem determinar “os detalhes completos e definitivos do contexto de nossa futura relação” com a UE, destacou a chefe de governo frente aos representantes do mundo empresarial, majoritariamente contrários a um Brexit que implica em inúmeras complicações a curto prazo.

O projeto de acordo é “bom para o Reino Unido” e “responde aos desejos do povo britânico” porque permite ao país retomar o controle de seu dinheiro, de suas leis e de suas fronteiras, garantiu May.

Diante de um auditório de cerca de mil pessoas, que escutavam atentamente, alguns até de pé, a primeira-ministra conservadora, que vive uma nova semana de alto risco antes da cúpula europeia extraordinária em Bruxelas, dedicada ao acordo, mostrou-se ofensiva.

O acordo que ela defende permitiria ao país “sair desses programas da UE que não são de nosso interesse, como a Política Agrícola Comum e a Política Comum de Pesca”, garantiu.

O mesmo vale para a livre-circulação de pessoas: após o Brexit, previsto para 29 março de 2019, a imigração continuará representando “uma contribuição positiva” ao Reino Unido, mas cidadãos da UE “já não vão mais passar à frente dos engenheiros de Sydney, ou dos programadores de Nova Déli”, defendeu.

Os candidatos à imigração serão selecionados em função de suas competências, e não dos países de origem, acrescentou May.

– ‘Tirar o melhor’ –

A líder conservadora recebeu o apoio da diretora geral da Confederação da Indústria Britânica (CBI), Carolyn Fairbair, que classificou o projeto de acordo como “avanço alcançado com muito esforço”.

Para a patronal, o acordo, caso aprovado pelo Parlamento britânico, permitiria ao Reino Unido dispôr de um período de transição de 21 meses após o Brexit, durante os quais as condições comerciais com a UE seriam mantidas e que poderia ser prolongado, caso necessário.

“Não é um acordo perfeito, mas é um compromisso que nos protege do pior resultado possível” – um Brexit brutal que implicaria a imediata aplicação de tarifas aduaneiras entre UE e Reino Unido -, acrescentou a dirigente patronal.

O crescimento econômico britânico recuou levemente desde o referendo sobre o Brexit de 2016, principalmente pela prudência das empresas em investir em um contexto de incerteza.

Entre a audiência, vários empresários compartilhavam o ponto de vista de Fairbairn.

“Tenho tendência a ser otimista, devemos tirar o melhor de uma situação ruim”, disse à AFP Peter Stevenson, diretor financeiro da GolfNow, empresa de serviços digitais para jogadores de golfe.