COM O ESTOURO DA CRISE financeira, não é surpresa que surjam defensores de regras e instituições mais rígidas para o mercado. A novidade agora é o aparecimento daqueles que pregam a criação de mecanismos para testar e avaliar instrumentos financeiros antes que sejam colocados à disposição dos investidores ? uma espécie de test drive do mercado de capitais. O curioso é que a idéia surgiu de um legítimo representante dos financistas, William Donaldson, ex-presidente da Bolsa de Valores de Nova York e da SEC, a versão americana da Comissão de Valores Mobiliários. A proposta ganhou até o apoio de Joseph Stiglitz, vencedor do Prêmio Nobel de Economia de 2001. Para Donaldson, seria importante que os testes fossem aplicados por agências do governo, criadas apenas para isso, nos moldes dos órgãos reguladores dos setores de remédios e alimentos. Essa nova agência avaliaria a ?segurança, toxicidade, recomendação e indicação? dos novos instrumentos financeiros. ?Esses produtos são criados por matemáticos e às vezes são tão complicados que criam problemas para os investidores?, disse Donaldson à DINHEIRO durante evento da Associação Mundial de Agências de Investimento Direto (Waipa, na sigla em inglês), no Rio de Janeiro. ?Essa avaliação teria que ser feita também por matemáticos, no nível de governo?, afirma.

Segundo Donaldson, a avaliação poderia determinar qual o nível de risco real dos novos instrumentos e, como conseqüência, ajudaria a limitar a alavancagem (endividamento para especulação) nas instituições financeiras – um dos fatores que levou à atual crise. Ele lembra, porém, que, antes de tudo, é preciso remodelar o sistema financeiro – tanto no plano nacional como no mundial. As agências reguladoras do mercado existentes atualmente, avalia, são antiquadas e despreparadas para responder a crises como a atual. Por terem sido criadas há 70 anos ? precisamente durante a Grande Depressão de 1929 ? essas agências não são mais adequadas para controlar o mercado atual, que é muito mais complexo. ?Desde então, tivemos muitas mudanças no tipo de negócios, mas não na regulação ? ou agências. Teremos que regular por tipo de produtos. Temos que ter algo mais específico?, afirma. Além disso, ele acredita na necessidade de uma espécie de ?superestrutura regulatória?, para monitorar as instituições financeiras. Assim, com rédeas mais curtas, acredita, será possível ao menos mitigar futuras crises.