O Brasil, que já conviveu com taxas de juros acima de 20% ao ano, chega a 2020 com a Selic no menor patamar histórico, de 4,5% ao ano. Alguém pouco familiarizado com o mundo das finanças poderia pensar que tal tendência de juros – que ainda podem cair um pouco mais nas primeiras reuniões do Banco Central em 2020 – levaria a uma fuga de investimentos de mecanismos como o Tesouro Direto. Atrelado à taxa básica da economia, ele tem, no entanto, batido recordes seguidos de aplicações.

O número de investidores no Tesouro saiu de pouco menos de 500 mil, em 2014, para 5.626.333  cadastrados, em 2019, sendo que 1.201.181 deles são ativos, um incremento de 52,76% em um ano. Ou seja, mesmo que rendendo pouco, os títulos públicos vendidos pelo Tesouro Nacional continuam interessantes para muita gente.

A explicação para isso é simples. “O investimento atrelado a taxa de juros ainda tem um papel a cumprir, como uma reserva de emergência”, diz Amerson Magalhães, diretor de operações da Easynvest, corretora líder na custódia desses produtos, com cerca de 25% das aplicações. “Vejo para 2020 mais um provável rebalanceamento das carteiras, com os investidores diminuindo a posição em renda fixa e em taxa de juros, e aumentando em ativos de maior risco, de renda variável, como ações.”

A grande vantagem do Tesouro Direto em relação a quase qualquer outra aplicação é que, se precisar fazer um gasto extraordinário, o cliente pode ter o seu dinheiro em conta em dois dias.

Além disso, os grandes bancos também deram uma ajuda, ao zerar as suas taxas de administração no produto, como forma de não diminuir ainda mais os rendimentos.

Nesse cenário, a conclusão é que o número de investidores em Tesouro Direto deve continuar aumentando, mesmo que o recomendado agora é ter uma menor participação desses títulos em suas carteiras.

“O investidor ficou mal acostumado nos últimos anos, quando não valia a pena correr risco, já que teria ganho de mais 10% ao ano investindo em Tesouro Direto”, diz Magalhães.

Agora, o investidor também precisa ter cuidado no momento de escolher a categoria na qual investir. Para os investidores que desejam rendimento de longo prazo ou usar o dinheiro na aposentadoria, a melhor opção é o Tesouro IPCA.

Este veículo de investimento é indexado ao índice oficial de inflação, que mede o aumento de preços e acrescenta mais uma taxa prefixada. Dessa forma, é uma garantia que nunca vai render menos do que a inflação.

Por sua vez, o Tesouro Selic é o mais simples, mais indicado aos conservadores, e segue a taxa básica da economia. Mesmo que alguém contrate agora um título desses, pode esperar que um aumento futuro da Selic garanta um rendimento maior quando for resgatar a aplicação.

Já o Tesouro prefixado parece ser o menos atraente no momento. Afinal, com a Selic em 4,5% ao ano – podendo chegar a 4,25% ao ano no início de 2020 –, essa modalidade vai render esse baixo percentual.

Essa taxa fica muito pouco acima da inflação, prevista para a casa dos 3,6% em 2020. Se a inflação for mais alta que os juros, chega-se à situação de rendimento negativo, algo que no entanto pode durar pouco tempo.

“Não temos hoje uma preocupação grande com rendimento negativo”, diz Magalhães. Para quem pensa em investir em Tesouro prefixado pode ser até mais interessante aguardar. “Se a inflação subir um pouco e a atividade econômica brasileira acelerar, o produto pode se tornar um pouco mais atraente no fim de 2020”, afirma Magalhães.

Números

Segundo dados publicados hoje pelo Tesouro Nacional, o resgate líquido no Tesouro Direto foi de R$ 33,28 milhões em 2019.

No ano, foram 5,51 milhões de operações, recorde histórica e acréscimo de 105,01% sobre 2018. As emissões somaram R$ 30,88 bilhões, com crescimento de 72,09% em relação ao ano anterior.

De acordo com o Tesouro, em 2019, 65,01% de todas as operações de investimento envolveram valores até R$ 1 mil no Tesouro Direto.