A busca por ouro está ameaçando a maior riqueza do Brasil: a Amazônia. A situação, que já é grave, tende a piorar caso as autoridades cedam à pressão para aprovar pedidos de pesquisa para a exploração do metal em 6,2 milhões de hectares distribuídos entre Terras Indígenas e Unidade de Conservação (UC). Para efeitos comparativos, essa área equivale a 40 cidades de São Paulo.

Atualmente, segundo o estudo Áreas Protegidas ou Áreas Ameaçadas? A Incessante Busca pelo Ouro em Terras Indígenas e Unidades de Conservação na Amazônia, divulgado pelo Instituto Escolhas, a área de pesquisa de ouro já ocupa 3,8 milhões de hectares em UCs e 2,4 milhões em terras indígenas. São 85 unidades territoriais destas e 64 daqueles. Os números, porém, podem ser maiores pois neles estão contabilizados somente os pedidos oficiais feitos à Agência Nacional de Mineração (ANM).

A extração do metal na região está enraizada em práticas ilegais, que hoje respondem por cerca de 16% da produção do País, com a exploração em áreas proibidas e sem nenhum controle. “Essa fatia da ilegalidade pode ser muito maior, já que não há como contabilizá-la ao certo”, diz o documento. Apesar de ilegal, a pressão tem argumento bastante eficaz junto à filosofia bolsonarista de governar: somente no ano passado, os municípios da Amazônia Legal arrecadaram uma compensação financeira pela extração de ouro 60% maior do que em 2019 e 18 vezes acima do valor registrado há dez anos.

A participação desses municípios na arrecadação nacional passou de 13% em 2010 a 47% em 2020. Na luta entre o capital de curto e longo prazo, a escolha reflete o alcance da visão do governante em questão.

Evandro Rodrigues

(Nota publicada na edição 1234 da Revista Dinheiro)