Os dois lados do espectro político da Argentina hoje sofrem graves problemas quanto a sua popularidade. Em uma ponta, o governismo do presidente Mauricio Macri e sua coalização Cambiemos esbarra nas recentes agruras econômicas. Dados oficiais desta quarta-feira 19 mostram que o PIB do país caiu 4,2% no 2º trimestre do ano. Para o futuro as perspectivas também são sombrias (confira tabela abaixo). Na outra, o peronismo – ou kirshnerismo como alguns dizem – amarga uma série de escândalos de corrupção, que resultaram no pedido de prisão preventiva da ex-presidente Cristina Kirshner, na segunda-feira 17. Ela é acusada de cobrar propina enquanto estava na Casa Rosada. Senadora, ela tem foro privilegiado e sua prisão só será decretada se dois terços do Senado aprovarem a perda de imunidade, o que não tem data para acontecer. Enquanto os dois principais candidatos das eleições de 2019 patinam, um nome surge como uma espécie de terceira via do pleito presidencial: o economista Roberto Lavagna.

Ex-ministro da Fazenda no período de maior turbulência econômica na história da Argentina, Lavagna ocupou o cargo entre 2002 e 2005, sob a liderança dos presidentes Eduardo Duhalde e Néstor Kirchner. “Lavagna foi quem deu continuidade à recuperação econômica após o calote de 2002”, afirma Roberto Chiti, cientista político da consultoria Diagnóstico Político, de Buenos Aires. O economista pertence ao chamado peronismo racional, a ala menos radical dentro da esquerda do país e não ligada a Cristina. Poderia oferecer um caminho alternativo à polarização atual. Em agosto, o próprio Duhalde foi otimista ao promover o ex-titular da Fazenda. “Todos votarão nele”, disse o ex-presidente. Lavagna ainda não demonstrou concretamente desejo de se colocar como presidenciável. Reconhecido como um dos estabilizadores da economia em 2002, ele poderia ser alçado novamente a essa posição na crise atual. “Se a economia piorar ainda mais, o eleitorado de Macri poderia migrar para Lavagna, que seria como um salvador”, afirma Chiti.

Ao 76 anos, seu currículo não deixa dúvidas sobre a experiência econômica, mas esconde um problema. “Sua idade poderia ser um dos grandes empecilhos para uma eventual candidatura”, diz Mark Jones, especialista em Argentina da Universidade Rice, nos EUA. Outros nomes do peronismo racional, como o do ex-senador Sergio Massa e o do governador da província de Salta, Juan Manuel Urtubey, teriam vantagem nesse sentido. Ambos têm menos de 50 anos. Qualquer desses pretendentes teria o desafio de enfrentar os principais nomes do páreo. “Macri tem batido muito no peronismo como um todo, dando pouco espaço para os racionais conquistarem público”, diz Jones. Não há sinais de que esse movimento acabe até 2019. Haverá espaço para uma terceira via?