Mais um grupo de empresários e executivos se une para levar a Brasília propostas de modernização da gestão pública. Para seu fundador, a politização e o viés ideológico são entraves para o avanço das reformas e da redução do Estado.

Ex-presidente de gigantes do mercado financeiro como Santander, Citi e Credicard, o executivo Elvaristo do Amaral, 74 anos, decidiu usar sua experiência e influência no meio empresarial para se dedicar a uma causa tão nobre quanto complexa (para não dizer impossível): levar aos protagonistas do poder, em Brasília, propostas reais e exequíveis para melhorar o País. O primeiro passo ele já deu, ao atrair 27 peixes grandes do mundo corporativo, entre os quais Luiza Trajano (Magalu), Jayme Garfinkel (Porto Seguro), Fábio Barbosa (Natura) e Hélio Magalhães (Banco do Brasil). A ideia é martelar o manifesto do Grupo Convergência Brasil no Congresso e no Palácio do Planalto. A pauta traz ideias para destravar a economia, reduzir o tamanho do Estado, impulsionar as reformas e garantir renda básica aos mais pobres. “Nosso movimento é apartidário, não temos nenhum vínculo com legendas ou ideologias políticas”, afirmou Amaral. Na proposta, que já está no Congresso como projeto de lei, 30% dos valores obtidos com a venda das estatais e com os ganhos de redução de despesas oriundos da reforma administrativa seriam direcionados ao Programa de Renda Básica. Ele seria administrado por um Fundo Gestor, a ser formado com representantes da sociedade civil e entidades governamentais. Mas, segundo Amaral, nada disso sairá do campo das boas intenções enquanto o País não se libertar da polarização e da radicalização política. “Somente com a convergência de ideias poderemos tirar o Brasil a situação em que está”, disse.

DINHEIRO – Por que criar agora o Grupo Conergência Brasil?
ELVARISTO – Venho observando os caminhos e descaminhos do Brasil. Inúmeras frustrações e oportunidades perdidas. Eu tinha que encontrar uma maneira de buscar com que pessoas de esquerda, de centro ou de direita pudessem convergir. Aí surgiu na minha cabeça o nome do grupo. Só queremos bom senso e valores morais elevados para as questões nacionais, não como atualmente está se fazendo, com essas brigas sem fim, com essa polarização. O Brasil perde demais com esses desencontros de opiniões, batalhas que não têm objetivo maior a não ser de garantir os próprios interesses.

É possível estabelecer essa convergância?
Além do diálogo, temos que reformar o Estado, desestatizar, privatizar as empresas que poderiam ser muito melhor utilizadas. Se as estatais fossem privatizadas, haveria um efeito benéfico para a sociedade. Mas aí fomos aprofundando a discussão, lançamos nosso manifesto, houve adesão de pessoas muito importantes, de executivos com longa experiência profissional no mercado em vários setores. Definimos que 30% dos valores arrecadados com a provatizações e dos recursos economizados com a reforma administrativa devem ser direcionados aos programas sociais. Esses recursos podem ir diretamente para o Bolsa Família.

Para destravar a economia é necessário antes resolver o problema da polarização?
A polarização é uma manifestação de imaturidade e de desinformação. À medida que as pessoas crescem, absorvem informação e criam bom senso. Não temos visto muito isso. Dificilmente pessoas maduras compartilham ideias extremistas, que são responsáveis, em boa parte, pelos problemas atuais no Brasil. O que nós concordamos é trabalhar com a maioria da população, buscar apoio da sociedade civil para bom senso e ideias não extremadas. Pode, sim, existir diferenças de pensamento. É natural haver diferenças políticas. Mas os objetivos políticos não podem são excludentes. Precisamos de uma sociedade que olhe para um bem maior, e que não faça defesa intransigente de privilégios de incorporações, tanto no setor privado quanto no setor público.

“A polarização é uma manifestação de imaturidade e de desinformação. À medida que as pessoas crescem, criam bom senso. Não temos visto isso” (Crédito:Divulgação)

Mas essa mudança não precisa passar pelo Congresso?
Também. Mas depende da população.

Veja o que aconteceu com a reforma da Previdência. Mesmo sendo um tema polêmico e complexo, aqueles congressistas que não apoiavam porque tinham medo de perder votos, ou que se omitiram, acabaram não sendo reeleitos. Os que se puseram em campo, fizeram a reforma, a defenderam com convicção e determinação, praticamente todos foram reeleitos. Então aqui fica uma mensagem muito clara já nesse momento a congressistas, políticos, executivos de todos os poderes… Aqueles que não querem correr risco terão resposta adequada nas próximas eleições. Existe luz no fim do túnel.

Reduzir o tamanho do Estado em um momento de crise global não parece contraditório?
Entendo essa preocupação, mas não estamos lutando para ter resultados imediatos. Nossa pregação é de médio e longo prazo. E não somos estritamente neoliberais. Estamos propondo a desestatização como reforma do Estado. Estamos falando de combater a ineficiência. Os sistemas existentes são tão burocraticamente estabelecidos que inviabilizam racionalizações que poderiam ser feitas, como um simples deslocamento de pessoas de uma área para outra. Uma aproximação de gestão do poder público com as empresas brasileiras implicaria num ganho de eficiência muito grande e do qual toda a sociedade se beneficiaria. O que a gente não pode incorrer é no erro de, por desculpa do momento difícil que estamos atravessando, não poder atacar privilégios. Os privilégios não são direitos. Os privilégios precisam ser combatidos. Privilégio não tem suporte, não tem direito garantido.

A saída seria demitir funcionários públicos?
Trata-se muito mais de um processo de correção de rumo do que qualquer outra coisa. É a busca de eficiência do setor público, que hoje é muito ruim. O Brasil gasta 14% do PIB com funcionários públicos. A União Europeia, com um nível de serviço muito superior, gasta 9%, em média. Na América Latina, há países com serviços públicos melhores que os nossos e com custo de 5,5% com funcionalismo.

Os integrantes do Grupo Convergência Brasil têm esperança de conseguir algum avanço nesse atual governo?
Acredito que há uma boa chance de as privatizações saírem, como a da Eletrobras, dos portos, Correios… Então, acredito que nesse governo ainda vamos ter boas surpresas. Tenho essa esperança forte. O time do qual se cerca o Paulo Guedes nesses assuntos de reforma e desestatização, é de primeiríssimo nível. A motivação deles é elogiável.

O que permite acreditar que o governo vai reduzir o tamanho do Estado?
O brasileiro precisa abandonar a ideia de estadismo. Essa tese de estado grande vem desde governo Getúlio Vargas, que criou as leis trabalhistas e isso teve uma força muito grande formação das ideias das pessoas. Daí vieram os militares e esbanjaram estadismo em questões práticas que levaram a criação de inúmeras empresas e algumas estratégias absurdamente erradas. Aí veio o PT e, puxa vida, encontrou o bolo da festa quase pronto. Deitaram e rolaram. E as universidades se transformaram em verdadeiras fábricas de socialistas, assim por diante, um pensamento que leva ao estadismo. Socialismo e estadismo estão absolutamente interligados.

Algum integrante do Convergência Brasil tem intenção de concorrer a um cargo político?
Não que eu saiba. Não sei disso sobre nenhum deles.

O que difere o Convergência Brasil do grupo de empresários que ficou conhecido como Conselhão, que durante o governo da presidente Dilma Rousseff apresentou dezenas de ideias que nunca deram em nada?
Esse Conselhão, assim como acontece no Partido Comunista Chinês, era meio folclórico. Não servia para nada. Participei de algumas reuniões do Conselhão e vi que aquilo era um jogo de encenação. Não tem nada a ver com o Convergência. Primeiro porque não somos um grupo só de empresários. Há empresários, mas somos ex-executivos, na maioria. Não vivemos de capital, vivemos de trabalho. Não sou empresário. Somos absolutamente independentes, absolutamente apartidários. O que nos une é que estamos convencidos e dispostos a dar o melhor de nós mesmos para levar essa ideia à frente. Aqui estamos fazendo um negócio sério, para deixar uma contribuição. Isso você não vai encontrar nem lá na China, nem no Conselhão da Dilma.

“Na área ambiental, basta parar de fazer bobagens e cumprir a lei. Se fizer isso, tudo se resolve rapidamente” (Crédito:Divulgação)

Quais os erros e acertos do governo?
O programa econômico do Guedes faz todo sentido do mundo. Conceitualmente, está correto em todos os seus fundamentos. Não tem grandes críticas a serem feitas. Ele tem constituído uma equipe econômica como nós nunca tivemos. O erro maior não está na equipe econômica. O erro maior são as idas e vindas políticas de cima. Esse é o grande erro. Ter uma surpresa por dia na política sufoca qualquer programa econômico. Se houver, em cima, convicção e determinação de fazer as coisas andarem, terminarão acontecendo.

Como se pode ter esperança em um Brasil mais eficiente e produtivo se o governo está no caminho contrário na política internacional?
Esse ponto é o que mais me aborrece. Quando vejo as práticas sonháticas, com um misto de falta de informação, falta de maturidade, misturado com religião e com ideologia, é uma tristeza. No caso da China, eles têm 8 mil anos de história. Esses caras sabem como tratar os assuntos econômicos mais do que qualquer um. Até o ano de 1800, a China era uma grande potência, com 25% do PIB mundial. Agora, estão retomando a posição. Em vez de desfrutarmos dessa relação privilegiada que temos com o maior consumidor de alimentos do mundo, ficamos com molecagem. Não os brasileiros, mas umas figuras aí. Isso não é patriótico. Isso é irresponsável. O Brasil precisa parar de molecagem na diplomacia com a China.

E a relação do Brasil com EUA e Europa?
Não é uma questão difícil de resolver.

Na área ambiental, basta parar de fazer bobagens e cumprir a lei. Se fizer isso, tudo se resolve rapidamente.