Entre as principais tendências a partir deste ano, no campo da cultura digital, e forte candidata a protagonista, estará o fenômeno conhecido por deepfake. “Talvez o mais assustador sobre a ascensão de deepfakes é que eles não precisam ser perfeitos para serem eficazes”, disse Yasmin Green em uma entrevista à Wired, publicação focada em cultura digital. Yasmin é diretora de pesquisa e desenvolvimento da Jigsaw, empresa da Alphabet/Google dedicada a questões de segurança.

Se aos olhos treinados da especialista Yasmin vídeos não perfeitos já conseguiriam o efeito de destruir reputações ou distorcer fatos, a curva será ainda mais exponencial, porque as técnicas de produção de deepfakes só melhoram (se é que cabe aqui a escolha pelo verbo melhorar) por causa dos avanços tecnológicos em edição de imagens. Haverá de tudo um pouco, e tudo ao mesmo tempo: troca de faces, sincronização labial de falas, reequilíbrio de luz e profundidade para eliminar efeito de distinção nas cenas tomadas em lugares ou momentos diferentes, um arsenal que, em 2019, vai se tornar mais sofisticado.

INÍCIO  Os primeiros deepfake vídeos apareceram há menos de 18 meses, no fim de 2017, por meio de postagens no Reddit de um usuário que assinava Deepfakes. Muitos dos vídeos envolveram celebridades, como Emma Watson, Scarlett Johansson e Taylor Swift, mas nenhum teria sido tão convincente quanto o que envolvia Gal Gadot (foto), atriz israelense conhecida por seu papel como Mulher Maravilha. Ela aparecia fazendo sexo com um meio-irmão. Nem meio-irmão ela tem.

O rosto de Gadot foi encaixado no corpo de uma atriz pornô. De acordo com o site Motherboard, numa reportagem de dezembro de 2017, o vídeo foi criado usando “materiais de fácil acesso e um código de fonte aberta” que qualquer pessoa com uma compreensão de algoritmos e programação pode operar.

Como as técnicas e ferramentas de manipulação e montagem ganharam altíssimo poder de destruição o estrago desse tipo de material será muito maior. E mais que difamar celebridades agora se prestarão ao mundo das notícias falsas. Da economia à política. Por esse motivo os deepfake vídeos irão invadir a realidade e se transformarão na próxima fronteira da falsidade digital. Conviver com eles será tão desastroso quanto tem sido com as fake news — estas vão parecer produtos de uma legião de escoteiros mirins no ranking do mau comportamento.

Yasmin Green, a diretora de pesquisa e desenvolvimento da Jigsaw, não parece ter dúvidas de que o mundo conhecerá material produzido “para enganar populações inteiras”. Ou, como descreveu o veículo geek.com, sobre os primeiros deepfake vídeos, “basicamente, estamos todos ferrados.”