– Em torno de 50% das mortes por Covid em 2020 não foram por Covid, disse o presidente.

– É mentiraaaaaaaa!, gritou o restante do arraial.

Na segunda-feira (7), o presidente Jair Bolsonaro afirmou que metade das mortes por Covid em 2020 ocorreu por outro motivo. Citou como fonte relatório do TCU. Na mesma tarde o órgão emitiu nota negando a fala presidencial. No dia seguinte, Jair admitiu que mentiu. “O TCU está certo. Errei quando falei tabela.” Não teve nada de volta atrás. O presidente insistiu na tese de supernotificações e agora insinua que isso era de interesse dos governadores para receber mais verbas no combate à pandemia. A tese nem é nova e tem tantas evidências quanto a de a Terra ser plana. Bolsonaro não declara isso para a mídia profissional independente. Faz para os canais digitais de propagação de mentiras que alimentam seus adeptos. É ração para gado. Um funcionário público inseriu o relatório falso no sistema do TCU. O autor do ato impostor se chama Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques e é amigo dos filhos do presidente.

O recuo de Bolsonaro em relação ao TCU não tem nada a ver com arrependimento. O órgão é encarregado de julgar as contas do executivo e decidir se há infração à Lei de Responsabilidade Fiscal, o que pode tornar um político inelegível.

BBB DA COVID
No papel de médico e de monstro equilibrista

Em sua segunda aparição no palco da CPI da Covid, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, tentou se equilibrar no difícil papel de não defender o uso do chamado kit Covid (“essa discussão divide a classe médica, mas não há eficácia comprovada desses medicamentos”) com a defesa do chefe, um cara que está do lado oposto ao que pensa o ministro (“não sou censor do presidente”). Na terça-feira (8) o Brasil somava 17 milhões de casos, 477,3 mil mortos, 31,7% da população adulta vacinada com a primeira dose e 14,5% com a segunda.

CONDENAÇÃO DEFINITIVA
Prisão perpétua ao genocida

Ele tentou escapar da condenação recorrendo. Não conseguiu. Ratko Malic, militar sérvio de 78 anos, teve sua pena por genocídio e crimes contra a humanidade confirmada na terça-feira (8) por um tribunal da ONU. Ele respondeu a 11 acusações por crimes cometidos entre 1992 e o fim de 1995 na Guerra dos Balcãs. Em 2017, foi condenado, mas apelou. Desta vez não há mais recursos. De acordo com o julgamento, o general Malic comandou o Massacre de Srebrenica, em que morreram 8 mil homens e garotos bósnios muçulmanos. Como convém a esse tipo de militar, os mortos estavam desarmados. Foi a maior matança na Europa depois da Segunda Guerra. Na época, Srebrenica estava sob proteção (ok, não tanto) da ONU e testemunhos apontam que a ordem dada pelo militar foi direta: “Atirem apenas em carne humana”. Ele também foi condenado pelo cerco e bombardeio de Sarajevo.

53 e-mails da pfizer sobre vacina foram ignorados pelo governo bolsonaro

GOOOOOL DA ALEMANHA
Dia do Fico… em cima do muro

DDD (DINHEIRO DÁ A DICA) Hey, boleirada! Quer praticar ativismo político no padrão de atletas da NBA? É só se informar sobre as condições dos trabalhadores que construíram os estádios onde vocês jogarão no Qatar no ano que vem. Tem morte aí. (Crédito:Christian Alvarenga)

Somente crédulos e fanáticos imaginaram que uma das categorias menos politizadas do planeta — a de jogadores brasileiros de futebol — tomaria uma atitude radical em relação à Copa América no Brasil. Na terça-feira (8), o time venceu o Paraguai por 2 a 0 pelas Eliminatórias e, após o jogo, o técnico Tite, sobre o qual muito torcedor (e profissional) esperava um padrão ouro de martirismo, disse isto: “Não sou hipócrita. Sei que coisas acontecem e sei dar prioridade. E prioridade é meu trabalho e a dignidade do meu trabalho”. Adepto assumido da meritocracia, ele tem como auxiliar técnico o filho, cuja carreira é 99% vinculada à do pai. Dos jogadores saiu um comunicado isentão-com-selo-de-autenticidade. Termina assim: “Somos contra a realização da Copa América, mas nunca diremos não à Seleção”. Tradução. Somos contra, mas não somos. Atitude mesmo quem tomou foi a Mastercard e a Ambev. Patrocinadoras tanto da Seleção e do evento, afirmaram que não irão fazer a exposição de sua marca durante os jogos.

COPA DO MUNDO DE XADREZ
Biden inicia ofensiva contra Xi Jinping

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Partiu. Caso fosse uma banda, o tour poderia se chamar Os EUA Estão de Volta, mesmo sem sucesso garantido. Joe Biden iniciou na quarta-feira (9) sua primeira viagem internacional como presidente. Conversará com Inglaterra, G7, representantes da Otan e lideranças da União Europeia. Por fim, na Suíça, irá se reunir com Vladimir Putin. A agenda tem duas missões, uma explícita e outra nas entrelinhas. A primeira será colar os cacos da desastrosa política internacional de Donald Trump (devemos admitir, porém, que foi a menos belicista de todos os últimos presidentes americanos). A segunda é estancar e reverter o espaço global ocupado política e economicamente pela China. O passaporte leva para a Europa, mas o set list de Biden é para ser ouvido em Pequim.

Patrick Gaillardin

“A longo prazo, até o acaso mais completo dá origem a comportamentos que nada têm de aleatórios” Mickaël Launay matemático francês de 37 anos, doutor em probabilidades.

INQUÉRITO
Rio de Janeiro descobre de onde vem a violência: do jornalismo

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Por meio de um inquérito instaurado pela Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática, o jornalista Leandro Demori, nome à frente do site The Intercept, foi intimado a depor sobre suas postagens em relação ao massacre da Favela do Jacarezinho, operação policial que deixou 28 mortos na primeira semana de maio. Demori postou que policiais envolvidos na ação “são conhecidos à boca pequena como facção da Core, a Coordenadoria de Recursos Especiais” e teriam participado de pelo menos outras três operações com vítimas fatais civis. Demori disse que “o que espanta é que em vez de investigarem a denúncia investigam o jornalista”. Além dele, um biólogo também será convocado por causa de comentário feito no site El País. A delegacia de onde partiu o inquérito tem como titular Pablo Dacosta Sartori (foto). Ele já intimou o youtuber Felipe Neto baseado na Lei de Segurança Nacional e abriu inquérito contra os apresentadores William Bonner e Renata Vasconcellos por noticiarem uma denúncia contra o senador Flávio Bolsonaro.

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