IDH: 84ª posição. PIB per capita: 82ª. Produtividade: 52ª. Índice Gini (Desigualdade): 152ª. Você não pode estar entre as maiores economias do planeta e ser tão pífio no restante. Bem, mas a gente consegue. Se alguém duvida que o Brasil não deu certo como nação precisa olhar mais os dados do que as crenças. País que cobra muito, enrola demais e entrega pouco. Pesquisa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), de 2017, mostra que 84% da população diz que o Estado é burocrático. Pior. Três a cada quatro brasileiros consideram a burocracia prejudicial e mecanismo de estímulo à corrupção e dois a cada três afirmavam que ela deveria ser fortemente combatida. O recado é claro: ser pobre e atrasado é uma coisa, ser burro é outra. Afinal, tecnologias como o uso de computação em nuvem podem reduzir em 30% os gastos com infraestrutura de TI. É nesse espaço que empresas do segmento encontram oportunidades. Vale para startups ou mesmo para gigantes do setor.

A Gesuas, startup de Minas Gerais, é uma delas. Oferece um software que utiliza dados do sistema de assistência social para que os profissionais da área possam tomar decisões melhores sobre políticas públicas. A empresa foi considerada em 2021 a mais promissora do País na categoria govtechs, pelo ranking da rede 100 Open Startups, ficando em segundo lugar na classificação geral. Igor Guadalupe, diretor-executivo da empresa, disse à DINHEIRO que o software funciona a partir dos dados coletados em um prontuário e que geram informações, dashboards e painéis para definições de políticas públicas, avaliação e monitoramento das ações da assistência social. Para ele, o sucesso para vender a governos é ter uma solução que realmente solucione um problema relevante de determinado setor. “Escutar as dores de ponta a ponta, desde os funcionários [públicos] até as pessoas afetadas é essencial”, afirmou.

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“Escutar as dores de ponta a ponta, desde os funcionários [públicos] até as pessoas afetadas é essencial” Igor Guadalupe diretor-executivo da Gesuas.

TRANSFORMADOR A Gesuas atende 168 municípios, com 3,5 milhões de pessoas cadastradas na plataforma, mais de 1,2 milhão de famílias e 6,5 mil trabalhadores que atuam no Sistema Único de Assistência Social (Suas). A maior cidade hoje que utiliza a solução é São José dos Campos (SP). São mais de 100 mil famílias cadastradas e 26 mil atendimentos no mês de junho. A performance pode ser transformadora na gestão pública. Segundo a startup, em Sarzedo (MG), que tem 34 mil habitantes, a implementação do sistema resultou em aumento de 133% de famílias em acompanhamento, de 200% no número de famílias atendidas e na redução de 50% de registros de violações de direitos.

Outra govtech mineira que tem se destacado nas propostas de uma gestão pública mais eficiente é a Quasar, cuja missão é “organizar informações e torná-las úteis para todos os envolvidos, de forma clara e confiável, através da desburocratização e gestão de problemas”. A empresa tem como proposta trabalhar os dados das prefeituras, melhorando processos tanto para o funcionário público quanto o empresário e o cidadão. Além disso, está em processo para se tornar um banco digital, podendo trazer ainda mais possibilidades de serviço. A principal plataforma da startup é a Rede de Benefícios, na qual cidadãos e empresas se cadastram, compartilhando dados, o que gera um benefício financeiro para os envolvidos. Segundo o CEO Lucas Guimarães, a rede funciona como a Nota Fiscal Paulista. O consumidor coloca seu CPF na notinha e recebe o cashback tributário daquele produto. Soluções relativamente simples, mas que se usadas em escala incrementam as finanças das prefeituras.

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“Organizar informações e torná-las úteis, através da desburocratização e gestão de problemas” Lucas Guimarães CEO da Quasar.

Além disso, a ferramenta também envolve o empreendedor no sistema — qualquer estabelecimento pode se cadastrar na rede e aumentar o cashback da prefeitura. Outro é o sistema de alvará e licenciamento eletrônico. A Quasar pega todos os dados de cadastros economicamente ativos numa prefeitura e desburocratiza o processo de abertura, alteração e encerramento de empresas. A solução já reduziu em 90% o tempo desses procedimentos, segundo Guimarães. “Tem cliente nosso que consegue CNPJ, inscrição estadual e inscrição municipal em 15 minutos”, disse.

GIGANTES O universo de soluções públicas não depende apenas de startups. Assim como a maioria das empresas de tecnologia, as govtechs não podiam ser diferentes e suas estruturas muitas vezes estão quase 100% na nuvem. Paulo Cunha é head do Setor Público para América Latina da Amazon Web Services (AWS) e disse que as infraestruturas em nuvem são em média 30% mais baratas. “A cloud é democrática”, afirmou. “E ajuda empresas de todos os portes não apenas com custos, mas a entregar soluções com escala.” Isso permite, por exemplo, que empresas como a Gesuas e a Quasar consigam atender o território nacional sem investir em todo o hardware necessário. “A sacada está na agilidade em inovar.” Ao tratar o cidadão como clientes, o poder público eleva a qualidade do serviço. Tecnologia para isso não falta.

Paulo Vitale

“A cloud é democrática e ajuda empresas de todos os portes não só com custos, mas a entregar soluções com escala” Paulo Cunha Head para o setor público da AWS.