“Olá, Marcos! Aqui é o Richard Dreyfuss. Seu filho me disse que você está fazendo aniversário e costuma pescar em alto mar. Bom, se perceber uma barbatana vindo em sua direção, não me ligue e comece a rezar! Parabéns!” Uma inesperada e bem-humorada mensagem em vídeo assim do ator de Tubarão (1975) certamente será o melhor presente de aniversário que um fã do filme poderia ter – daquelas para mostrar a familiares e amigos até o fim da vida. Isso se tornou possível graças a um aplicativo e site que é parte da chamada nova Economia de Conexão, o Cameo, que se tornou um unicórnio ao alcançar valor de mercado estimado em US$ 1 bilhão. Nascida em Chicago (EUA), tem 40 mil celebridades inscritas. No caso de Dreyfuss, cada mensagem custava US$ 999 na quinta-feira (17). Mas há opções mais baratas – e menos conhecidas, claro.

E como funciona isso? O aplicativo, que tem nome baseado naquelas pequenas aparições-surpresa em filmes ou séries, oferece um variado cardápio de artistas, em sua grande maioria americanos. Com a pandemia, muitos viram sua renda despencar, ofuscando o glamour da classe. “No isolamento, artistas perceberam que tinham todo o tempo do mundo e embarcaram na ideia”, diz a DINHEIRO o Chief of Staff da Cameo, Sergio Peralta. “Conversamos com eles para tornar a experiência a mais fácil e divertida possível e boa parte jura que não vai abandonar essa interação quando as atividades voltarem ao normal.”

É até divertido navegar pelo app ou site, que é dividido por categorias – em Esportistas há mais de 8 mil opções de nomes, seguida por Artistas (7,5 mil). Na turma da Música são quase 5 mil alternativas. Existem ainda subgrupos inusitados como Animais e Políticos (estão devidamente separados).Como toda boa plataforma, a experiência do usuário é decisiva. Dá para navegar por preços, pelos nomes mais recentes do portfólio ou até mesmo pela popularidade. Como é regra nessas plataformas, os usuários também avaliam as mensagens – dando notas de zero a cinco para o resultado final. Então é possivel escolher pelos mais bem colocados no ranking.

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Definido o eleito, vem o passo 2. Você seleciona o seu preferido, manda detalhes pessoais para que a celebridade crie um vídeo único e faz o pagamento. A plataforma fica com 25% do valor pago. Isso tem engordado o bolso de muita celebridade e, principalmente, subcelebridades. Cerca de 80% das mensagens são encomendadas como presentes de aniversário, felicitações ou tirações de sarro. Mas há também pedidos de casamento, para os menos desenvoltos com o clássico anel.

A plataforma filtra inconveniências e seu escolhido fala para você por, em média, um minuto, e tem sete dias para devolver o pedido. Somente no confinado 2020, o Cameo distribuiu mais vídeos do que em seus quatro anos anteriores e fez US$ 100 milhões em Volume Bruto de Mercadorias (GMV), que é um dos marcadores importantes do segmento e-commerce. A plataforma está crescendo ano a ano numa escala de 4,5 vezes e os agendamentos de vídeos a uma velocidade de 350%. O Cameo está com todos os seus 200 funcionários trabalhando remotamente. Para sempre, segundo o jovem Steven Galanis, 33 anos, um dos três criadores e sócios da startup.

A plataforma já ajudou a criar perto de 2 milhões de vídeos – “ajudou”, pois a criação na verdade é da própria celebridade com sua câmera de celular ou notebook. Sim, não espere produções hollywoodianas, o que eles fazem é muito parecido com o que você conseguiria fazer. Há brasileiros na lista? Alguns, poucos ainda. Um deles é o ex-jogador de futebol Roberto Carlos. Ele cobra US$ 200 por uma mensagem.

Para Galanis, do Cameo, hoje o artista realmente quer se conectar mais profundamente com seus fãs. E ainda ganhar mais com isso. Engenheiro de software que largou um ótimo emprego no LinkedIn antes mesmo de vender um único vídeo, ele define seu segmento em uma frase. “Economia de Conexão.”

NASCIMENTO NUM FUNERAL

Às vezes tudo o que é preciso são três amigos unidos acreditando em uma ideia até ela dar o custoso primeiro dólar. Foi assim com o americano com ascendência grega Steven Galanis, 33 anos, o britânico Martin Blencowe, 35, e o americano Devon Townsend, 31. A ideia do Cameo surgiu no funeral da avó de Galanis. Blencowe, um agente da NFL (liga de futebol americano) na época, pegou um voo para se solidarizar com o amigo e mostrou um vídeo de um dos seus jogadores do Seahawks. O atleta havia feito uma gravação para a filha fanática pelo time de um conhecido seu. Da conversa veio o estalo para o negócio. E foi o amigo Townsend, ex-comediante do Vine, atleta frustrado, quem colocou a coisa em prática, sendo também um engenheiro de software. Eles pegaram um dos atletas do Seattle Seahawks agenciado por Blencowe, Cassius Marsh (hoje no Pittsburgh Steelers), da empresa oferecendo um alô em vídeo personalizado. Abriram o Google Analytics e ficaram olhando a tela. Nada. Parecia o fim. Três horas depois um pai respondeu dizendo que a filha de 16 anos era fanática por Marsh. O vídeo mostrando a garota emocionadíssima, chorando, depois de receber o primeiro cameo, foi um atestado de que era uma ideia vencedora.