O trabalho do empresário Paulo Ferreira de Araújo, sócio diretor da agência de viagens Mundo Tour, em Brasília, é garantir as jornadas de seus clientes. No início de 2019, antes da pandemia, ele se convenceu da necessidade de ampliar seus negócios para além do Planalto Central. No entanto, a expansão para uma escala nacional requeria capital. Seria necessário ocupar um espaço maior, contratar funcionários e investir em tecnologia para vender pacotes de viagem pela internet. A Mundo Tour não tinha dívidas, então Araújo pensou que seria relativamente simples obter um financiamento. Depois de consultar os bancos com que trabalhava, porém, viu que as rotas do dinheiro estavam fechadas. A melhor proposta que conseguiu foi um empréstimo do Banco do Brasil com taxa de juros de 9,5% ao ano. A conta não fechava.

A solução veio de um lugar que Araújo considerava inacessível, apesar de a Mundo Tour trabalhar com viagens: o mercado internacional. A burocracia foi pouca, o prazo foi curto – o processo começou em maio, os papéis estavam assinados em agosto – e as condições foram muito melhores que as oferecidas pelos bancos brasileiros. A Mundo Tour obteve um financiamento (cujo valor Araújo não pode revelar) da empresa americana Venture Capital Travel Investors & Advisors, de Nova York. “Consegui um empréstimo com carência de 12 meses, prazo de pagamento de cinco anos e juros de 3,4% ao ano”, afirmou o empresário.

MERCADO ABERTO Segundo o fundador e CEO do grupo Financial, Renato Costa, soluções como a encontrada pelo brasiliense serão cada vez mais comuns para os empresários de médio porte. Depois de décadas fechados, os mercados internacionais de crédito e de capital de risco – como os investimentos por meio de private equity e venture capital – estão se abrindo para as empresas médias brasileiras, que faturam de R$ 3 milhões a R$ 200 milhões por ano. Em geral, essas empresas têm de recorrer aos caros financiamentos bancários, ou disputar as concorridas linhas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Segundo Costa, porém, o diferencial das taxas de juros e a depreciação do real em relação ao dólar deixaram esses empréstimos mais acessíveis. As taxas de juros variam de 3% a 5% ao ano. É pouco para os empresários brasileiros, que chegam a pagar juros de 40% ao ano, mas no exterior, onde os juros são quase zero ou mesmo negativos, é uma rentabilidade muito atraente. “E também há a questão do câmbio”, afirmou Costa. “US$ 1 milhão não é uma quantia tão expressiva para um investidor americano, mas para um brasileiro representa mais de R$ 5 milhões, é pouco dinheiro para eles, mas muito dinheiro para nós.”

Costa afirmou que a forma das operações varia. Os financiadores também – podem ser gestoras de fundos de private equity e de venture capital, podem ser family offices ou investidores privados. É preciso estruturar o negócio, um processo que leva até 45 dias, e apresentar a ideia ao investidor. O dinheiro chega ao caixa da empresa em 90 dias, em média. O tíquete dos empréstimos para as empresas desse porte no Brasil vai de R$ 2 milhões a R$ 20 milhões. Poucos empresários desse tamanho consideram a possibilidade de obter um empréstimo internacional, mas a demanda vem crescendo. Antes da pandemia a Financial recebia cerca de 40 consultas por mês. No último trimestre o volume cresceu para 40 por semana.

Fundada em São Paulo, a Financial fica em Nova York, perto dos investidores internacionais. Em 2019, o grupo movimentou US$ 26 bilhões junto ao setor privado e US$ 90 bilhões em projetos governamentais de infraestrutura para construção de rodovias, ferrovias, escolas e hospitais em 40 países. A meta é chegar a US$ 45 bilhões no setor privado até o fim de 2021. Dinheiro não vai faltar. A estimativa de Costa é que a oferta seja o triplo da demanda. Ele afirmou ter conversado com diversos grupos de investidores que estão à espera de bons planos de negócios. No total, o capital disponível para empresas brasileiras de médio porte pode chegar a US$ 1 bilhão. No entanto, Costa diz acreditar que conseguirá trazer cerca de US$ 300 milhões ao Brasil entre setembro e o fim de dezembro. “Há recursos abundantes no Exterior para investir em empresas brasileiras, mas faltam companhias que saibam como acessar esses recursos”, disse.