Gilson Magalhães é presidente da Red Hat Brasil (Crédito: Claudio Gatti)
Gilson Magalhães é presidente
da Red Hat Brasil
(Crédito: Claudio Gatti)

Em muitas mitologias da antiguidade, aparecem figuras de animais dotados de superpoderes. Entre os mais conhecidos estão o unicórnio e seu característico chifre mágico no centro da cabeça e o hipogrifo, representação da força e do poder. Das histórias de outros tempos para o mundo corporativo, os dois animais lendários se tornaram sinônimo de uma nova vertente de empresas. O termo “unicórnio” passou a ser empregado para definir startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão. Já o “hipogrifo” teve sua grafia adaptada para “IPOgrifos”, designando companhias que foram mais além e já abriram suas ofertas públicas.

A primeira pessoa a empregar a analogia com o universo fantástico foi Aileen Lee, investidora norte-americana. A comparação entre o unicórnio e as novas queridinhas do mercado foi feita em seu artigo Welcome to the unicorn club: learning from billion-dollar startups (Bem-vindo ao clube dos unicórnios: aprendendo com as startups de um bilhão de dólares, em português). Publicado em 2013, o texto brincava com a ideia de que esse tipo de companhia era, à época, tão raro de se encontrar quanto o próprio animal de chifre mágico.

Com o passar dos anos e a acelerada transformação digital, o termo raro talvez não seja mais tão aplicável ao universo das startups bilionárias. Se, em 2013, existiam apenas 39 companhias com esse título, em 2021 o número saltou para mais de 700 em todo o mundo, segundo dados da consultoria CB Insights. Na lista, nomes mundialmente famosos, como Facebook e Google, e representantes brasileiras como 99 – primeiro unicórnio do país em 2018 –, iFood, Gympass e Nubank.

Sem o fator de raridade, mas ainda com companhias liderando a corrida pelo avanço no mercado, a Distrito, maior ecossistema independente de startups do Brasil, cunhou uma nova nomenclatura. Assim, nasceram os “IPOgrifos”, companhias que já superaram as cifras bilionárias e entraram em uma nova fase, com abertura de capital.

Não é mitologia, é tecnologia

A força por trás do chifre dos unicórnios ou dos voos bem-sucedidos dos “IPOgrifos” não é nenhum segredo guardado a sete chaves. A tecnologia foi o grande motor propulsor para a alavancagem dessas companhias. Trabalhando com soluções que viriam a ser tendência no mercado, como a computação em nuvem, APIs e containers, muito antes deles se tornarem mainstream, essas companhias ganharam tração e superaram marcas centenárias.

Muitas das soluções empregadas também estavam relacionadas ao universo open source. O código aberto, que permite um trabalho simultâneo e colaborativo de diversos desenvolvedores ao redor do mundo, quebrou paradigmas e possibilitou a criação de aplicativos e plataformas que revolucionaram o mercado. Mesmo as maiores empresas de tecnologia do planeta classificadas nas listas de disruptivas e inovadoras, se apoiaram, em algum momento, no open source para avançar no tabuleiro. E aquelas que, até então ainda tentavam ignorar sua existência e força, acabaram cedendo para continuar no jogo.

O voo da Fênix

O espírito colaborativo do código aberto também impulsionou outro ponto de arranque das startups. A open innovation, ou inovação aberta, em português, proporcionou a combinação de forças, investimentos e tecnologias para gerar soluções que atendessem às novas necessidades de um mercado consumidor cada vez mais ávido por agilidade e personalização. Não foi à toa que vimos surgir na última década inovações em cadeia, em todos os setores da economia.

As empresas tradicionais, que estavam ficando para trás no páreo pela sobrevivência no mercado, trataram de se unir às novas companhias. No renascimento das fênix, elas reformularam suas infraestruturas tecnológicas com o open source e passaram a investir em uma mentalidade mais colaborativa, pavimentando e incentivando mais a inovação aberta. Em conjunto com unicórnios e “IPOgrifos”, abriram um infinito de possibilidades e alçaram voos nunca imaginados.

Em uma jornada cíclica, certamente novas figuras mitológicas devem aparecer em breve no mercado. Mas, independentemente da nomenclatura do presente ou do futuro, a evolução das startups deixa um legado inegável: para avançar é preciso ousar, inovar, se abrir e ser colaborativo. Tudo que a tecnologia de código aberto sempre ofereceu – e segue oferecendo – ao mercado. Como a Fênix, que segundo a mitologia é capaz de carregar cargas muito mais pesadas enquanto voa, é preciso reinventar-se o tempo todo para ressurgir das próprias cinzas.

*Gilson Magalhães é presidente da Red Hat Brasil