Uma crise com consequências ainda imprevisíveis causada por um inimigo invisível que se alastra causando mortes e devastando a economia por onde passa. Nesse cenário de caos e incertezas, os setores essenciais, como de alimentos, de medicamentos e de saúde, crescem a ritmo alucinante, com aumento de vendas e receita acima dos 80%. A maioria das outras áreas, porém, sofre com a recessão, acúmulo de perdas, queda no faturamento, medo de inadimplência desenfreada e já começam a demitir funcionários, o que contribui para a roda econômica girar para trás. Mas um desses ramos, fora dos chamados serviços fundamentais, tem se destacado ao passar pela crise com certa imunidade e, em alguns casos, até com crescimento e contratações em andamento: o mercado das techs.

Com métodos modernos e digitais que vão desde gestão de pessoas passando pelo processo corporativo e indo até a oferta de serviços para terceiros enfrentarem a atual situação, as empresas de tecnologia estão mais preparadas para os desafios do momento. Mais do que isso, seus serviços e produtos, como infraestrutura de redes, nuvem e cibersegurança, são muito procurados por companhias que avançam agora na transformação digital.

Para Gilberto Lessa, diretor de marketing da Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação (Abrat), as companhias do setor garantem confiabilidade e eficiência em serviços que tem aumentado no período de isolamento social, como tráfego de dados, segurança cibernética, suportes e digitalização. “Redes varejistas e comércios e comércios têm investido em atendimento e e-commerce, por exemplo. É uma oportunidade para as empresas de tecnologia”, diz.

“Dá para ter performance distribuindo colaboradores. A tecnologia está à disposição para trazer soluções” Luiz Camargo, VP América Latina da Nice. (Crédito: Douglas Luccena)

É o caso da L5 Networks, companhia que oferece soluções em telefonia IP, PABX em nuvem, CRM (Customer Relationship Management, ou gestão de relacionamento com o cliente), terceirização de TI, Omnichannel e Private Cloud, que cresceu 25% no período de pandemia do coronavírus. Tem sido procurada por grandes empresas interessadas em reduzir custos e migrar estruturas para, por exemplo, funcionários trabalharem home-office. Paulo Chabbouh, CEO da L5 Networks, apenas lamenta o motivo. “É triste que a maioria das empresas no Brasil perceba a necessidade da tecnologia somente em momentos como esse.”

DESEMPENHO MELHOR No balanço de três semanas da quarentena que governos e organizações têm adotado para diminuir a transmissão da Covid-19 no Brasil, a empresa modernizou estruturas de dez grandes companhias em São Paulo, além de disponibilizar ramais móveis adicionais gratuitamente a mais de 500 clientes para que pudessem implementar o home-office de suas equipes. “O mercado precisa entender que se tiverem as ferramentas certas é possível ter um desempenho até melhor do que no escritório”, diz Chabbouh.

A Nice, fornecedora líder mundial em soluções de software implementadas na nuvem ou in loco, tem tido grande demanda por transição de contact centers para o modelo em home-office. A plataforma oferecida é o CXone@home, que dispõe apenas de uma parte do total das soluções da companhia. Para uma seguradora, a conversão de 200 pontos de atendimento foi feita em 48 horas. Num primeiro momento, o custo é de US$ 5 mil para a instalação do setup, disponível por 45 dias – não são cobrados os serviços de mão de obra e operação. Inicialmente, isso ajuda as empresas que precisam fazer essa alteração de processo para não pararem os atendimentos. Mas, num futuro próximo, coloca a Nice como fornecedora de tecnologia para essas companhias. Para o vice-presidente da Nice para a América Latina, Luiz Camargo, o mercado passa por uma mudança repentina. “É uma oportunidade para observar o cenário com outros olhos, pois é possível ter performance distribuindo seus colaboradores. Estamos vivendo uma discussão mais aprofundada sobre isso e a tecnologia está à disposição para trazer as soluções”, afirma. A empresa faturou US$ 1,57 bilhão em 2019 e estima alcançar US$ 1,71 bilhão em 2020, crescimento de 8,4%.

EVITAR PRECIPITAÇÃO Marco Stefanini, da gigante multinacional do mercado inovação em automação, cloud, Internet das Coisas (IoT) e User Experience (UX), fez uma operação logística de guerra para realocar boa parte de seus 25 mil funcionários, de 41 países. E tem ido além quando é procurado para auxiliar na revisão de contratos e processos de sclientes. Para ele, desde a tecnologia tradicional às mais complexas, esse setor está mais preparado, mas é preciso esclarecer que essa crise é sazonal, que terá curto período. Por isso, é preciso evitar atitudes precipitadas, como cortes de serviços e de pessoas. “Para as empresas, é o momento de revisar o modelo de negócio, promover ações mais eficientes e voltar melhor depois que tudo isso passar.”

“Para as empresas é o momento de revisar o modelo de negócios e voltar melhor depois que tudo passar”, Marco Stefanini, CEO global da Stefanini. (Crédito:Divulgação)
“É triste que a maioria das empresas perceba a necessidade de tecnologia somente em momentos como esse” Chabbouh,CEO da l5. (Crédito: Andris Bovo)

Com aumento de demanda, as contratações em muitas empresas estão aquecidas. A catarinense Supero Tecnologia, especializada em soluções de TI e alocação de mão de obra especializada do setor, continuou os processos seletivos e planeja dobrar de tamanho até 2021. Atende clientes como Engie, Philips e Portonave e está com 27 vagas para desenvolvedores, engenheiros de dados, programadores web, entre outros. “Estamos fazendo as entrevistas por videoconferência e os primeiros profissionais começam já em home-office”, afirma Bárbara Daniel Vieira, coordenadora de Desenvolvimento Humano e Organizacional da Supero.