Auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) em 17 contratos de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) nas áreas de geração e transmissão de energia aponta irregularidades nos orçamentos das obras, nos desembolsos e nos itens financiados. De acordo com o TCU, o banco aprovou um valor US$ 911 milhões maior do que deveria para as empresas exportadoras – Odebrecht, Andrade Gutierrez, OAS e Camargo Corrêa -, o equivalente a 41,7% dos projetos em Angola, República Dominicana, Moçambique, Equador e Costa Rica.

O relatório, do ministro Augusto Sherman, foi apresentado em 31 de outubro, publicado no Diário Oficial em 14 de novembro e está disponível no site do Tribunal. Na mesma época em que o banco anunciou a revisão de todos os contratos de engenharia no exterior e ações com o órgão de controle para ampliar sua transparência. Os 22 pedidos de informação encaminhados pelo TCU após a leitura do relatório, porém, que deveriam ser respondidos pelo BNDES em 60 dias, seguem sem resposta.

O TCU também analisou os relatórios de auditoria independente de cada operação e concluiu que o BNDES desembolsou, sem comprovação, US$ 570 milhões. De acordo com órgão, esses relatórios contêm “informações detalhadas sobre os custos efetivamente realizados e comprovados pelas empresas exportadoras”.

No relatório, o TCU classifica como “desarrazoado”, palavra que significa insensato, o porcentual financiado nas 17 obras, que ultrapassam 85%. De acordo com o órgão, os orçamentos dos empreendimentos não são coerentes com o tipo de obra realizada. Além disso, diz que o banco financiou, de forma indevida, gastos locais, em desacordo com as normas do programa de crédito a exportações. “Os porcentuais declarados de exportação foram muito acima do que seria possível para obras de usinas de geração de energia elétrica e linhas de transmissão”, afirma o ministro nas conclusões da auditoria.

Na prática, são dez projetos: as hidrelétricas Cambambe, Laúca e Capanda e as linhas de transmissão Lucala-Pambos e Uige-Maquela, em Angola; e as hidrelétricas Barragem de Moamba, em Moçambique; Manduriacu, no Equador; Balsa Inferior, na Costa Rica; e Pinalito e Palomino, na República Dominicana. Apenas quatro constam da lista de 25 operações de crédito à exportação que foram suspensas por iniciativa do próprio BNDES em 2016: duas etapas da hidrelétrica de Cambambe, uma fase de Laúca, e uma da Barragem de Moamba Major.

O Broadcast procurou o ministro Augusto Sherman, mas ele não quis comentar o relatório, que ainda aguarda o retorno do BNDES e não entrou em fase de deliberação. De acordo com o andamento do processo, um pedido de prorrogação de prazo foi apresentado no fim da tarde de terça-feira, 2.

O BNDES informou que está finalizando sua resposta para ser enviada ao órgão e não quis participar da reportagem. AG e Camargo Corrêa não quiseram comentar. Odebrecht informou que apresentará os esclarecimentos aos BNDES se for demandada pelo órgão de controle. OAS não retornou os contatos.