TC repete a velha história da criatura que sobrepuja seus criadores. Fundado em 2015 como TradersClub por três investidores individuais ­— Rafael Ferri, Pedro Albuquerque e Israel Massa — o grupo de conversa tornou-se uma plataforma para orientação de investidores que reúne informações, cursos, análise e ferramentas tecnológicas voltadas para pessoas físicas que querem se aventurar no mercado de capitais. E, de tanto falar sobre ações, o TC acabou listando as próprias na B3 no fim de julho. Em uma Oferta Pública Inicial (IPO), a empresa captou R$ 607 milhões e viu seu valor de mercado chegar a R$ 2,7 bilhões.

Com tanto dinheiro no bolso, o TC foi às compras. Em menos de três meses abocanhou empresas como a Abalustre (startup de tecnologia para investimentos), a RIWeb (empresa de suporte à comunicação aos investidores) e parte da 2TM (holding que controla uma série de empresas voltadas para ativos digitais, entre elas o Mercado Bitcoin, maior plataforma de criptoativos da América Latina). A garfada mais recente foi anunciada no início de outubro, quando o TC comprou, por R$ 40 milhões, a plataforma de informações financeiras para investidores mais antiga e respeitada do mercado, a Economatica. Somadas, as aquisições já chegam a R$ 135,7 milhões.

“Nossa intenção é fornecer um serviço cada vez mais completo ao investidor”, disse o diretor de Relações com Investidores (RI) do TC, Pedro Machado. Para ele, o mercado brasileiro vem amadurecendo e os investidores também. “Mesmo assim, a bolsa ainda representa apenas 5% dos investimentos”. Uma oportunidade para a empresa. “O investidor vai perder se deixar dinheiro parado. E é aí que a gente entra, entregando toda a informação amarrada”, afirmou.

A aquisição da Abalustre trouxe inteligência artificial o que permite personalizar o serviço. Na RIweb o foco ficou para as informações voltadas ao mercado de capitais, reunindo tudo que é obrigatório para empresas públicas, destrinchando todos os dados para o investidor. Já o investimento na 2TM abre as portas do setor de criptoativos, permitindo maior acesso não só a informações como também ao sistema de transações efetivas dentro do TC.

A Economatica entra nessa receita como a cereja do bolo. Com faturamento previsto de R$ 17,5 milhões neste ano, a empresa analisa dados de mais de 5 mil empresas e 27 mil fundos de investimentos em 250 setores da economia. “Vamos aproveitar toda essa sinergia porque acreditamos que isso fará com que os clientes queiram estar conosco”, diz.

No que depender dos sócios, a compras não vão parar. A meta é destinar 60% dos recursos do IPO, ou R$ 360 milhões, para novas aquisições de modo a criar um grande ecossistema financeiro. “No Brasil investir é uma atividade muito complexa e pode ser melhorada, tanto para pessoa física como jurídica”, afirmou.

PAPO CONSTRUTIVO A estratégia de facilitar a troca de informações no bate papo dos amigos levou a uma empresa que faturou R$ 23,24 milhões no segundo trimestre. O número de usuários cadastrados já chega a 502,3 mil, 20 vezes mais que os 24,3 mil de 2018. E para toda tudo isso, o número de colaboradores saltou de 26 pessoas em 2018 para 570 até o final de setembro.

O único fator de risco, citado no prospecto que a companhia enviou a CVM para abertura de capital, diz respeito a Rafael Ferri. Em 2011 ele foi proibido pela CVM de atuar direta ou indiretamente em operações com valores mobiliários por até cinco anos, decisão que foi confirmada pelo conselho de recursos do Sistema Financeiro Nacional em 2019. A companhia informou que Ferri é “acionista indireto da plataforma e atua na área comercial, sem qualquer participação ativa ou direta na gestão ou na tomada de decisões relacionadas à operação da empresa como um todo” e que a “proibição do Ferri de atuar no mercado financeiro está relacionada a um caso na esfera pessoal dele, que aconteceu muito antes de criarmos nossa plataforma. O TC não tem ligação com o ocorrido.”

B3 FAZ OFERTA PELA NEOWAY

O TC não é o único no mercado financeiro com apetite por aquisições. Cada vez mais voltada para tecnologia, a B3 anunciou na quinta-feira (14) que negocia a aquisição de 100% do capital social da Neoway, empresa especializada em big data e inteligência artificial. Em fato relevante, a companhia informa que, até o momento estão sendo feitas as negociações, mas ainda não há nada definitivo. Desde o ano passado a B3 vem acelerando sua entrada em novos negócios, com a conclusão da compra de mais 25% na BLK Sistemas, especializada em desenvolvimento de telas e algorítimos de negociação para corretoras e investidores institucionais. Em julho deste ano a B3 fez sociedade com a Totvs para criar a Dimensa, empresa de soluções para o mercado financeiro, ficando com 37,5% de participação na empresa. Para o mercado, os novos passos dados pela bolsa são benéficos, uma vez que abrem novos caminhos de negócios e possibilidades de crescimento.