Lembra dos tempos em que as corridas do Uber e 99 eram boas e baratas? Pois então, isso é coisa do passado. Por sinal, em diversos lugares o táxi já está até mais barato que o Uber e demais aplicativos de transporte.

Uma pesquisa divulgada na semana passada pela Gordon Haskett Research Advisors mostrou que as tarifas de corridas em apps em agosto aumentaram quase 50% em relação aos preços de 2019 por quilômetro em Chicago, nos Estados Unidos, citando dados disponíveis publicamente da cidade.

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Em janeiro de 2020, custava quase 50% mais viajar de táxi do que usar o Uber em Chicago. A inversão dos valores está diretamente relacionada à falta de motoristas dispostos a trabalhar para o Uber nos Estados Unidos. Há meses a empresa sofre com o baixo número de pessoas dispostas a dirigir para ela.

Diferentemente do Brasil, a economia americana está voltando aos patamares pré-pandemia, e à medida que muitos motoristas desistiram do Uber ou encontraram outros empregos, a empresa se viu obrigada a aumentar o valor das corridas para atrair a mão de obra.

Em Nova York, onde acontecem 23% das corridas nos Estados Unidos, os números do New York City Taxi and Limousine Commission apontam movimento semelhante, com os táxis ganhando mercado na cidade.

Segundo dados da YipitData divulgados pelo Wall Street Journal, uma viagem de Uber custou em média quase 39% mais do que a viagem de táxi na cidade de Nova York em agosto. Há duas semanas, o preço por quilômetro percorrido pela Uber (e Lyft, concorrente local do Uber) nos EUA subiu 26% em relação a 2019 e 17% em relação a janeiro.

As perspectivas dos preços caírem não são boas. A tendência é que mais países adotem medidas como as implementadas no Reino Unido, regulando a atividade dos motoristas de aplicativo garantindo benefícios trabalhistas.

Obviamente, o aumento dos preços pode ser soVmente um efeito da pandemia, possivelmente as pessoas estejam evitando o transporte público, por exemplo.

Mas há indícios de que preços mais altos podem persistir, mesmo em um mundo pós-Covid-19. Além das próprias empresas de transporte estarem pressionadas por lucros após anos de prejuízo, a YipitData indica que os volumes de viagens nos apps aumentaram junto com o preço por quilômetro em setembro, em Nova York e em todos os Estados Unidos.

No Brasil, a maior parte dos motoristas apontam valores de corrida insuficientes para cobrir até mesmo o combustível (isso explicaria os cancelamentos). Infelizmente, muitos deles afirmam seguir no trabalho por falta de alternativa.

Esse é um ponto importante. Nos Estados Unidos o mercado está aquecido e há placas com ofertas de empregos por todos os cantos. No Brasil e países subdesenvolvidos, o cenário é bastante diferente. Não se pode aplicar no mercado americano as mesmas regras do mercado brasileiro.

Obviamente, ninguém gosta de pagar mais por um serviço. Por outro lado, existe uma discussão importante sobre o que é justo com o trabalhador e o movimento de aumento de salários dos motoristas que já acontece nos Estados Unidos, ou ainda a extensão dos direitos de trabalhadores regulares aos motoristas de apps no Reino Unido.