A aceleração da alta do dólar mesmo após o anúncio do Banco Central (BC) de que fará um leilão extraordinário de contratos de swap cambial amanhã esfriou o ímpeto de queda dos juros futuros à tarde. As taxas vinham em movimento acelerado de queima de prêmios na primeira etapa, em reação ao comunicado do Banco Central divulgado ontem à noite a respeito dos impactos do coronavírus na economia, mas a disparada do dólar mesmo com o BC intervindo esfriou um pouco as apostas de corte mais agressivo da Selic no Copom de março, em 0,5 ponto porcentual, que vinham ganhando força de manhã.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em abril de 2020, o primeiro a vencer após a reunião do Copom em março, fechou com taxa de 4,004% (regular) e 4,003% (estendida), ante 4,059% ontem no ajuste. A taxa do DI para janeiro de 2021 caiu de 3,849% para 3,765% (regular) e 3,760% (estendida). A taxa do DI para janeiro de 2022 encerrou a 4,22% (regular e estendida), de 4,25% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 6,36% (regular) e 6,35% (estendida), de 6,381% ontem no ajuste.

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A redução do ritmo de baixa começou pela ponta curta, onde os vendedores atuavam com mais força, e depois se espalhou para os demais vértices. “O fato de o dólar continuar subindo mesmo depois do anúncio da intervenção esfriou a empolgação. Não descarta chance de corte da Selic nem a necessidade de adoção de estímulos, mas a leitura é que o BC pode ter mais trabalho para administrar a volatilidade do câmbio”, afirmou o diretor de Gestão de Renda Fixa e Multimercados da Quantitas Asset, Rogério Braga.

O anúncio do BC veio no começo da tarde, com o dólar perto de R$ 4,55, de que fará amanhã leilão swap cambial de até US$ 1 bilhão, mas não agradou pelo volume e pelo timing (mercado esperava que fosse hoje). Por isso, a moeda continuou subindo para fechar em R$ 4,58. O real vem mostrando pressão mais acentuada do que seus pares ante o dólar justamente pelo crescimento das apostas de corte da Selic, com a chance de queda de 0,5 ponto em março aparecendo pela primeira vez na curva a termo, porém ainda minoritária.

Segundo o Haitong Banco de Investimento, no fim da tarde, a precificação de Selic para o próximo Copom era de -30 pontos-base, ou 80% de chance de corte de 0,25 ponto e 20% de probabilidade de 0,5 ponto. Para maio, a probabilidade de redução de 0,25 ponto ganhou terreno, chegando a 40%, e para o Copom de junho há 30% de chance de uma queda desta magnitude.

Na medida em que o BC decidiu atuar, mas sem efeito sobre as cotações, cresceu a percepção de que a autoridade monetária está preocupada com o atual nível de preço da moeda. Breno Martins, economista da MAG investimento, afirma que essa queda de braço causa indisposição, mas o balanço de riscos segue apontando que o choque externo continua sendo deflacionário para Brasil.

Em comunicado ontem, o BC afirma que “monitora atentamente os impactos do surto de coronavírus nas condições financeiras e na economia brasileira” e que “o impacto sobre a economia brasileira proveniente da desaceleração global tende a dominar uma eventual deterioração nos preços de ativos financeiros”. Por ativos financeiros, diz Martins, “leia-se basicamente câmbio”. O documento provocou hoje uma onda de revisões para a Selic nas próximas reuniões, com algumas instituições, como a Necton Investimentos e o UBS, não descartando a possibilidade de o País conviver com juros reais negativos no curto prazo.