O mercado futuro de juros evitou a exposição ao risco e as taxas tiveram oscilações contidas nesta véspera da “super quarta”, quando os bancos centrais dos Estados Unidos e do Brasil vão tomar suas decisões de política monetária. A desconfiança com o setor bancário americano e o temor de recessão no país promoveram uma onda de aversão ao risco que derrubou bolsas e fortaleceu o dólar ante moedas de países emergentes. No entanto, em boa parte do dia houve queda nos trechos curto e intermediário da curva de juros no Brasil, que se moveram sob influência da queda dos rendimentos dos títulos do Tesouro americano.

Um dos gatilhos para o mau humor nos EUA ficou por conta dos dados do relatório de empregos Jolts, que apontou criação de postos de trabalho menores que o esperado em março. Além disso, as encomendas à indústria americana avançaram em ritmo também mais lento que as estimativas dos analistas locais. Os dados mais fracos reforçaram a cautela do investidor a um dia do provável aumento de 0,25 ponto porcentual nos juros básicos americanos.

A economista-chefe Camila Abdelmalack, da Veedha Investimentos, explica que apesar da percepção de que o ciclo de aumento de juros nos Estados Unidos ainda não chegou ao fim, a ameaça de recessão reforça projeções de cortes a serem promovidos pelo Federal Reserve à frente. Isso explica a queda dos juros dos Treasuries, que por sua vez acabaram por promover momentos de recuo de parte do trecho da curva no Brasil.

“Não está claro para os mercados qual será o tamanho e a duração de um período de recessão nos Estados Unidos, mas o investidor já está de olho no que o Fed fará à frente. Os dados econômicos têm vindo ainda mistos e o cenário é de cautela e volatilidade”, diz a economista.

Quanto à reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), para a qual se espera manutenção da taxa Selic nos atuais 13,75% ao ano, Camila afirma que, diante das pressões exercidas pelo governo por uma redução dos juros e da resistência do Banco Central em ceder a ela, a principal curiosidade será em torno do trecho do comunicado que vem repetindo que o BC não hesitará em elevar mais juros, caso haja risco maior de não convergência da inflação.

“Com o arcabouço fiscal ainda em início de tramitação e os riscos de a proposta sofrer alterações no Congresso, é provável que o BC não se sinta confortável em sinalizar um corte de juros, o que deve ocorrer na virada do primeiro para o segundo semestre, conforme mostram a curva e as projeções dos analistas”, disse.

Para Jason Vieira, economista da Infinity Asset, as oscilações mais contidas e descoladas da piora dos outros ativos, como o dólar, mostraram que hoje foi um dia típico de pré reunião de política monetária. “Em dias que precedem reuniões de decisão sobre juros, ninguém quer tomar posições muito grandes”, explica.

Outro fator que em tese aponta para um potencial desinflacionário foi a forte queda dos preços das commodities, com destaque para o petróleo. O óleo fechou em queda acima de 5%, se aproximando do nível de US$ 70 o barril, influenciado pela tensão com o setor bancário dos Estados Unidos e o risco de uma possível recessão.

Ao final do dia, as taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) fecharam muito próximas dos ajustas de sexta-feira. O vencimento em janeiro de 2024 fechou com taxa de 13,27%, contra 13,25% do ajuste anterior. O DI para janeiro de 2025 projetou 11,98%, a mesma taxa do ajuste de sexta-feira. A taxa do DI para janeiro de 2026 ficou em 11,71%, também repetindo o ajuste anterior. Na ponta longa da curva, o vencimento de janeiro de 2027 terminou o dia aos 11,80%, contra 11,79%.