O declínio da taxa básica de juros (Selic) nos últimos dois anos e meio derrubou a rentabilidade dos fundos de renda fixa. Apesar disso, as taxas de administração cobradas nesses produtos permaneceram praticamente inalteradas, sobretudo para quem tem pouco dinheiro para aplicar. Em 2016, para o pequeno investidor, as taxas corroíam R$ 2 a cada R$ 10 de lucro. Já em 2017, apesar de terem baixado, abocanharam mais de um terço dos ganhos (R$ 3,60 a cada R$ 10) – tornando até a poupança mais vantajosa.

Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), a taxa média de administração dos fundos de renda fixa de dezembro de 2016 a dezembro de 2017 ficou praticamente estável – recuou de 1,02% para 1,01% ao ano, embora a Selic, que baliza esses investimentos, tenha caído praticamente à metade no período, de 13,75% para 7% ao ano.

Já sob a perspectiva do pequeno investidor, com tíquete de entrada de até R$ 1 mil, as taxas desses fundos recuaram de 2,68% para 2,55% ao ano. Mas, o que parece boa notícia esconde um grande achatamento. Segundo cálculos da pesquisadora do Ibre-FGV e planejadora financeira Myrian Lund, em 2016, a taxa de 2,68% ao ano corroía, em média, 19,49% da rentabilidade dos fundos. Já no ano passado, apesar de ter diminuído, ela passou a corroer, em média, 36,43% dos ganhos das aplicações.

“É muita coisa. As taxas de administração não caíram na mesma proporção que a Selic, e quem paga essa conta é o pequeno investidor”, afirma Myrian. “Ele só consegue taxas altas. E taxas de administração acima de 1%, na renda fixa, não valem a pena”, observa.

Assim, os fundos de renda fixa agora pagam ao pequeno aplicador, em média, menos do que a própria caderneta de poupança. Ainda segundo cálculos da planejadora, com a Selic atual, de 6,75% ao ano, um fundo com taxa de 2,55% ao ano rende ao investidor 62,22% do CDI (taxa que anda de mãos dadas com a Selic). Caso aplicasse os mesmos recursos na caderneta de poupança, o investidor teria um retorno de 82,40% do CDI.

O diretor da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira, acredita que, nesse cenário, as instituições financeiras terão de se movimentar. “Os bancos terão de reduzir as taxas, com o risco de perderem clientes se não o fizerem”, diz.

Na prática

A queda da rentabilidade, porém, ainda não foi suficiente para chacoalhar o mercado e espantar o investidor. Segundo a Anbima, de 2015 para 2017, o patrimônio líquido dos fundos de renda fixa cresceu 26%, embora a rentabilidade média das maiores categorias desses produtos tenham recuado de mais de 13% ao ano para um patamar inferior a 9%. “Há um movimento de resgates desses fundos, mas ainda é muito pequeno. Boa parte das pessoas fica na zona de conforto e não repara que seus ganhos estão diminuindo”, diz Myrian.

Segundo especialistas, a alternativa do pequeno investidor nesse cenário é procurar fundos e títulos de bancos menores, distribuídos por corretoras independentes – que praticam taxas mais baratas. “Mas, é preciso prestar atenção no caso da reserva de emergência, que deve estar em aplicações que tenham liquidez – ou seja, recursos que possam ser resgatados a qualquer momento”, diz a pesquisadora da FGV. “Para isso, uma opção é o Tesouro Selic.”

Private

Os grandes bancos, aos poucos, começam a adotar medidas nessa direção, embora ainda muito concentradas no segmento de alta renda. Gilberto Abreu, diretor de investimentos do Santander, afirma que, no ano passado, o banco diminuiu as taxas de alguns fundos de renda fixa que estavam no patamar de 1% ao ano para 0,7% ou até 0,5%. No entanto, para aplicar nesses fundos, é necessário ter ao menos R$ 100 mil no banco.

Outra estratégia foi diminuir o tíquete de entrada de alguns desses produtos. “Fundos que antes eram restritos a investidores qualificados, com mais de R$ 1 milhão, agora estão acessíveis para quem tem R$ 300 mil, por exemplo.” Ele afirma que esse movimento irá continuar este ano. “Devemos ver margens mais apertadas para que o cliente tenha a rentabilidade dele”, destaca.

O Banco do Brasil, em nota, afirmou que “implementou a revisão de seu portfólio de fundos renda fixa, voltados para o público de varejo e de varejo de alta renda, com o objetivo de ampliar o acesso de investidores a produtos com taxas menores e assim, proporcionar ao cliente a oportunidade de melhor rentabilizar seus recursos.” Procurados, Bradesco, Itaú, Caixa não comentaram. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.