Até 2020, a Taunsa era só uma empresa inserida no setor de grãos do agronegócio brasileiro, que tem como característica uma concorrência acirrada entre as companhias medianas — onde está inserida — e um domínio de gigantes, como ADM, Amaggi, Bunge, Cargill, Cofco e Louis Dreyfus. No ano passado, porém, duas importantes iniciativas colocaram a paulista Taunsa em outro patamar. Uma delas entre quatro paredes do escritório: a parceria com a Ahamed Ramadhan Juma (ARJ) Holding, empresa de investimentos dos Emirados Árabes, para gerar contratos no Oriente Médio. Tem dado certo. As demandas geradas aumentaram entre 40% e 50% o faturamento. A outra, nas quatro linhas do gramado: parceria com o futebol profissional do Corinthians, para tornar a empresa mais conhecida nacional e internacionalmente. Tem dado resultado. A procura por novos negócios subiu 30% desde dezembro.

Em um bom momento, com contratos na casa de US$ 486 milhões por mês (R$ 31,5 bilhões anuais), a Taunsa planeja investir R$ 5,7 bilhões até 2028 para se tornar uma das maiores exportadoras de soja do País. “É um plano bastante parrudo. Ao final desse projeto, a Taunsa também será a número um em armazenagem e recepção e grãos”, afirmou Cleidson Cruz, presidente e fundador da companhia, que nasceu em 2008 em Araçatuba (SP) — inicialmente limitada à produção de lácteos, expandiu sua atuação para plantio, armazenamento e comercialização de soja e milho no Brasil e em países da África Ocidental.

Depois de ajudar o Corinthians na contratação do jogador Paulinho, a Taunsa avançou na estratégia de marketing com o clube e anunciou que estampará sua marca nas costas da camisa nas quatro primeiras rodadas do Brasileirão. Os valores envolvidos não foram revelados. “Queremos internacionalizar a marca, aliando-a com uma instituição mundialmente conhecida, em um segmento que é paixão aqui e lá fora”, disse o executivo.

O acerto de patrocínio com o time paulista foi rápido. Ao contrário do acordo com a ARJ. O ponta-pé do namoro foi em 2020, quando os árabes começaram a pesquisar a fundo a empresa, após conhecerem outras companhias brasileiras do setor. O namoro evoluiu para noivado em 2021. Inclusive com contrato para fornecimento de produção para a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO-ONU). Agora, 2022 é o ano do casamento, em que as demandas do Oriente Médio para a Taunsa começam a vigorar. “É um volume significativo”, disse Cruz.

PLANO Empresa vai construir 34 unidades de produção de grãos, que vão se somar às atuais oito, para ser uma das principais exportadoras do País. (Crédito:Istock)

Os investimentos de R$ 5,7 bilhões serão, basicamente, para atender esses negócios. A Taunsa, tem alguns contratos no mercado asiático, mas nem sequer se empolga com a possibilidade de aumentar a exportação para a China, principal comprador de soja do Brasil — as gigantes já atuam por lá. Os recursos são de fundos de investimentos internacionais e nada têm a ver com a ARJ. A holding é apenas parceira e também não tem participação na Taunsa, garante o presidente.

PROJETO O plano prevê mais 34 unidades espalhadas por Bahia, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Piauí, São Paulo e Tocantins. Todas construídas do zero, com compra dos terrenos e montagem da infraestrutura. “Reformar e adaptar poderia demorar mais e custar mais”, disse Cruz. Vão se somar às atuais oito unidades em Mato Grosso e Tocantins. A sede administrativa continua em Campinas (SP).

Marcos Fava, professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-Eaesp), diz que o cenário é positivo para a Taunsa. Nos últimos dois anos, o Brasil aumentou a área de grãos em 6 milhões de hectares, com consumo mundial de soja em crescimento de 10 milhões de toneladas por ano. “Demanda mundial existe. O ponto de preocupação é a grande concorrência, por isso é preciso oferecer um diferencial. A parceria com a holding árabe é benéfica”, disse o especialista.

A previsão da Taunsa é, com as 42 unidades em funcionamento, sair da atual 15ª posição em exportação de milho e principalmente soja para figurar entre as principais vendedoras dos grãos no Brasil mundo afora. Cultivando negócios da Arábia e nos gramados.