A Acadêmicos do Tatuapé é bicampeã do carnaval paulistano com nota máxima em todos os quesitos. A Mocidade Alegre ficou com o vice-campeonato. A escola, que levou para avenida uma homenagem ao Maranhão, com carros colossais e fantasias ricas em detalhes, também teve como marca o fato de não ter conseguido patrocínio. Para brilhar, apostou no reaproveitamento de penas, pedras e outros materiais para poupar cerca de R$ 800 mil este ano.

“Estou muito contente. Nós fizemos o melhor espetáculo e o segredo é o nosso povo”, disse o presidente da Acadêmicos do Tatuapé Eduardo dos Santos.

Os integrantes da escola que acompanharam a apuração ficaram quietos até a leitura da última nota, quando soltaram o grito de “bicampeão”. Santos explicou o silêncio.

“A gente sabia que ia ser um carnaval muito disputado. A gente ouviu nota a nota com esperança. Todo mundo estava apreensivo e muita gente estava empatada. Qualquer nota poderia interferir no resultado.”

Antes do desfile, Santos havia relatado que mais de 90% das fantasias são recuperadas depois do carnaval. Para explicar o espírito por trás da ação, em entrevista à colunista do jornal “O Estado de S. Paulo”, Sonia Racy, ele citou um samba-enredo da Salgueiro de 1986: “Tem que se tirar da cabeça aquilo que não se tem no bolso!”

As escolas Unidos do Peruche e Independente Tricolor foram rebaixadas para o Grupo de Acesso.

Desfile

A bicampeã abusou dos adereços de fauna e flora e até arriscou uma batida estilo reggae, estilo musical que nasceu na Jamaica e é muito ouvido no Maranhão, chamado no samba-enredo de “terra da encantaria”. A escola deixou o sambódromo, na madrugada do sábado, já como forte candidata ao título. O carnavalesco Wagner Santos, que estreou na Tatuapé com vitória, desenvolveu um tema que conhece bem, já que é maranhense.

A vice-campeã Mocidade Alegre fez uma homenagem à cantora Alcione, de 70 anos, com um enredo marcado pelo clássico “Não deixa o samba morrer”, gravado pela Marrom em 1975. Até a apuração da última categoria de notas, a escola ficou com o mesmo número de pontos das escolas Mocidade Alegre, Mancha verde e Tom Maior. O resultado foi decidido por critérios de desempate.

No desfile da Mocidade, foi Alcione quem puxou seu próprio samba no começo do desfile ao lado dos intérpretes Tiganá e Ito Melodia, ainda no chão do Anhembi, e depois subiu no último carro da escola para ser homenageada como o enredo “A voz marrom que não deixa o samba morrer”. O investimento em grandes alegorias já apareceu no abre-alas da escola, formado por três carros que ressaltaram as belezas naturais do Estado do Nordeste e a influência dos franceses, que fundaram a capital São Luís no século 17.

Vice-presidente da Mocidade Alegre e mestre de bateria, Mestre Sombra disse que o segundo lugar representou a superação da escola. “No ano passado, não participamos nem do desfile das campeãs. Mostramos o nosso potencial e, no ano que vem, tem mais.”

Uma das rebaixadas, a Independente Tricolor foi penalizada em 1,2 ponto por ter utilizado uma empilhadeira para movimentar um de seus carros que teve problema no desfile. “A gente tem de ver a justificativa. Fomos punidos duas vezes pelo mesmo erro. O equipamento é colocado à disposição das escolas. Mas vamos cair de pé para voltar e fazer um bom carnaval”, disse Dêmis Roberto, diretor-geral de harmonia da escola.