O ano de 2017 ficará marcado pela retomada das operações de abertura de capital no Brasil. Desde janeiro, nove empresas já tocaram o sino no pregão da Bolsa, captando R$ 21,1 bilhões. A mais recente foi a BR Distribuidora, que retornou ao mercado na sexta-feira 15, após uma ausência de quase vinte anos. A companhia, que tem a maior rede de postos de gasolina do Brasil, levantou R$ 5 bilhões na penúltima oferta pública inicial (conhecida pelo termo em inglês Initial Public Offering, ou IPO) do ano. O dinheiro vai reforçar o caixa da controladora Petrobras. Antes do Revéillon, a rede de restaurantes Burger King também vai estrear na Bolsa e pode captar até R$ 1,9 bilhão.

Há diversas causas para que 2017 figure na história como o terceiro melhor ano em captações desde 2004. A mais importante delas é a abundância de recursos baratos ao redor do mundo. Ao manter os juros baixos, os bancos centrais de Estados Unidos, Europa e Japão vêm impulsionando os investidores em todo o mundo a comprar ações, e as empresas brasileiras têm se aproveitado disso. A Azul, terceira maior companhia aérea brasileira, levantou R$ 2 bilhões em abril. A demanda superou a oferta em cinco vezes, e 80% das compras foram de estrangeiros. “O investidor estrangeiro respondeu, em média, por cerca de 60% da demanda pelas ações ofertadas pelas empresas este ano”, diz Bruno Constantino, sócio da XP Investimentos.

Outra causa é a recuperação da economia por aqui. O Produto Interno Bruto (PIB) deve crescer quase 1% em 2017, após três anos de recessão. Além disso, a Selic em recorde de baixa de 7% ao ano, e o arrefecimento dos desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) elevam o interesse das empresas em testar os pregões “Esses fatores melhoraram o custo de oportunidade para se investir em ações”, diz o economista Antonio Madeira, da MCM Consultores. “A melhora da economia abre espaço para as empresas obterem mais lucros.” Prova disso foi o sucesso do IPO do Carrefour, o maior do ano, quando a rede varejista captou R$ 5,1 bilhões.

Apesar do sucesso, o comportamento dos preços mostra que o investidor está mais seletivo. O preço de lançamento foi de R$ 15 por ação, piso da faixa estabelecida pela empresa, que ia até R$ 19. “Consideramos esse valor como justo para ao papel, levando em consideração a deflação dos alimentos”, diz Paola Mello, analista do Citi. As ações da BR Distribuidora também saíram no piso, de R$ 15. “O mercado sempre vai pedir um desconto, pois está embutindo o risco da participação do governo na operação”, diz Constantino.

O caso extremo foi o da Neoenergia. A holding controla quatro distribuidoras de energia – Coelba (BA), Celpe (PE), Cosern (RN) e Elektro (SP/MS). O processo do IPO avançou até o momento da precificação, marcada para a quinta-feira 14, mas a companhia desistiu da oferta por falta de interesse dos investidores.

Ao exigir descontos, os investidores ganham em segurança, especialmente nos pregões subsequentes à oferta. “Muitas ações que saíram caras caíram depois do IPO, e tiveram um desempenho inferior ao do mercado”, diz Vitor Suzaki, analista da Lerosa Investimentos. Um exemplo é farmacêutica Biotoscana. No IPO, em julho, o papel foi vendido a R$ 26,40, média da faixa de preços. Desde então, ele caiu 25,7% em relação ao Índice Bovespa, o pior desempenho entre as estreantes do ano (observe o quadro). Na contramão, o Burger King precificou suas ações na quinta-feira 14 pelo máximo de R$ 18. Porém, o desempenho vai depender dos balanços. Segundo os analistas, o maior desafio da companhia é lucrar em meio ao processo de expansão da rede, que vem se estendendo desde 2011.

Os prognósticos para 2018 também são positivos. A varejista de brinquedos Ri Happy, o banco Inter e a rede de academias Smart Fit já sinalizaram oficialmente disposição para abrir capital no ano que vem. A própria Neoenergia não descarta a hipótese de tentar a sua abertura de capital novamente no primeiro trimestre do ano que vem. Os analistas avaliam, porém, que a janela de oportunidade para as emissões deve se fechar em abril, quando começa a incerteza eleitoral. A liderança de um candidato favorável ao mercado será um bálsamo, ao passo que a sinalização da vitória de um populista vai esfriar o ânimo nos pregões. “A incerteza política vai aumentar o risco, portanto o investidor deverá exigir um retorno maior”, diz Constantino.