O Banco Central do Afeganistão informou, nesta quarta-feira (15), que os combatentes talibãs entregaram US$ 12,3 milhões em dinheiro em espécie e várias barras de ouro, recuperados das casas de ex-autoridades do governo anterior, incluindo a do ex-vice-presidente Amrullah Saleh.

“O dinheiro recuperado veio de funcionários de alto escalão no governo anterior (…) e de uma série de agências de segurança nacional que tinham dinheiro em espécie e ouro em suas casas”, afirmou o comunicado.

“O Emirado islâmico” – nome dado pelos talibãs ao Afeganistão – transferiu todo o dinheiro para “os cofres nacionais” em nome da “transparência” da qual os islâmicos se vangloriam, em contradição ao antigo governo, cuja corrupção eles denunciam.

Durante o governo do então presidente Ashraf Ghani, a corrupção era endêmica e generalizada. Milhões de dólares em ajuda estrangeira ao país teriam sido desviados.

O próprio Ghani é acusado de levar milhões de dólares quando fugiu para Abu Dhabi, o que ele nega.

Os talibãs estão investigando as contas bancárias de ex-funcionários de alto escalão do governo afegão deposto, em busca de provas de renda ilícita, relataram dois funcionários do setor na terça-feira (14).

– Sucursais fechadas –

Um mês depois da queda de Cabul, a população afegã continua preocupada com a situação econômica e o medo de que cheguem novas proibições que acabem com os direitos conquistados nos últimos vinte anos.

A maioria dos funcionários públicos ainda não voltou a trabalhar e grande parte deles sofre para sobreviver com a falta de salário.

Para os que têm dinheiro no banco, os saques foram limitados a cerca de 200 dólares por semana e por pessoa, para evitar um colapso do sistema bancário.

Privado dos auxílios do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI) e com as reservas do Banco Central congeladas pelos Estados Unidos, o país enfrenta uma escassez de liquidez.

Empresas especializadas em transferência de dinheiro, como Western Union e Moneygram, anunciaram a retomada de suas operações, suspensas em 18 de agosto. Mas nas ruas, muitos afegãos indicam que suas sucursais não têm dinheiro suficiente.

Diante do risco de catástrofe humanitária, a comunidade internacional se comprometeu, segundo a ONU, a conceder 1,2 bilhão de dólares em ajuda para as ONGs no país.

Nesta quarta-feira, a União Europeia anunciou um auxílio extra de 100 milhões de euros (118 milhões de dólares) ao país asiático.

Outra preocupação da população é a situação das mulheres: serão autorizadas a trabalhar?

“Os talibãs nos disseram para ficarmos em casa”, conta uma funcionária do ministerio de Telecomunicações.

No governo anterior do Talibã, as mulheres eram proibidas de estudar, trabalhar e praticar esportes.

Diante desta incerteza, jogadoras das seleções femininas juvenis de futebol do Afeganistão chegaram na terça-feira ao Paquistão, segundo as autoridades paquistanesas.

No aeroporto de Cabul, que viveu cenas de caos no final de agosto durante a evacuação de mais de 123.000 pessoas em uma ponte aérea organizada pelos Estados Unidos e seus aliados, a atividade é retomada lentamente.

Após um primeiro voo comercial entre Cabul e Islamabad na segunda-feira, o Irã anunciou nesta quarta a retomada de suas conexões aéreas comerciais com o Afeganistão.