Projeto “vital”, ou delírio de grandeza? O governo do Tadjiquistão inaugura nesta sexta-feira (16) a represa mais alta do mundo em Rogun, desejada pelas autoridades desse país pobre da Ásia Central, apesar das questões econômicas, ecológicas e geopolíticas que o empreendimento coloca.

Iniciadas em outubro de 2016 pelo presidente Emomali Rakhmon, muito apegado ao projeto, as obras da represa de Rogun não terminaram e, nesta sexta, será lançado apenas um dos seis geradores que devem ser ativados.

Em até dez anos, a previsão é de que produza 3.600 megavatts, o equivalente a três reatores nucleares de nova geração, como os que são vendidos pelo grupo russo Rosatom na região.

Para Tadjiquistão, que sofre um déficit crônico de alimentação elétrica e vários cortes no inverno, a represa de Rogun é “vital”, como repetiu Rakhmon em várias ocasiões.

Vendida para o grupo italiano Salini Impregilo por 3,9 bilhões de dólares, a infraestrutura fica 100 quilômetros ao leste da capital, Dusambé, e se tornará, com 335 metros de altura – 30 vezes mais do que a represa chinesa de Jinping I – a construção mais alta desse tipo no mundo.

Rogun fica em “uma zona de intensa atividade sísmica, e vários estudos alertaram sobre os riscos para uma construção tão grande como uma represa”, disse por e-mail à AFP o professor de Geografia Humana Filippo Menga, da Universidade de Reading, no Reino Unido.

A represa se tornou “um conceito de consolidação nacional”, explicou à AFP o pesquisador Abdugani Mamadazimov, que lembra que o país luta para se sobrepor a uma guerra civil de cinco anos que causou 150.000 mortos na década de 1990.

Por isso, não surpreende que alguns tenham proposto batizar a represa com o nome de Emomali Rakhmon. Seus críticos já o acusaram de megalomania.

Há dúvidas, porém, sobre se o Tadjiquistão realmente precisa dessa represa. O país já conta, em Nurek (sudoeste), com um dos diques mais importantes do planeta, instalado na época soviética.