A primeira dúvida começa no nome da uva: é Syrah ou Shiraz? Ambas estão corretas, embora a segunda grafia seja mais comum em países de língua inglesa, especialmente na Austrália, que se notabilizou como grande produtor de vinhos a partir dessa variedade. Já a origem da casta é motivo de muita controvérsia. Há, de fato, uma antiga cidade no Irã chamada Shiraz, que data do império persa, e que ainda hoje é formada por belos jardins, palácios e até vinhedos.

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Uma das lendas mais conhecidas sobre como essa uva se fixou na região francesa do Vale do Rhône antes de ganhar o mundo dá conta de que ela teria sido levada da Pérsia por um cavaleiro templário. Outra suposição é que seu nome seja uma referência à cidade de Siracusa, na Sicília. Mais curiosa ainda é a crença de que foi da uva Syrah o vinho bebido por Jesus Cristo na Santa Ceia. Tudo isso se combinou para formar a mística em torno da variedade vinífera cuja data é celebrada no dia 16 de fevereiro – pretexto para ótimas promoções de importadoras, com descontos que chegam a 25%, como é o caso da seleção de rótulos da World Wine até o dia 18.

O que pouca gente sabe é que a Syrah, hoje a sexta uva vinífera mais cultivada em todo o mundo, nasceu de uma combinação de duas uvas. Pelo menos foi isso que mostrou um exame de DNA feito em conjunto pela Universidade da Califórnia (UC Davis) e o Instituto de Pesquisas Agronômicas de Montpellier, na França. Os “pais” da Syrah seriam a tinta Dureza e a branca Mondeuse Blanche. O cruzamento teria dado à uva resultante tanto suas características de aroma e sabor quanto de adaptação a diferentes terroirs, tanto os de clima frio quanto mais quentes.

Testardi
Testardi Syrah, produzido pela Miolo no Vale do São Francisco (Crédito:Reprodução)

E é justamente essa facilidade de adaptação que tem feito da Syrah uma das uvas preferidas dos produtores brasileiros dedicados a levar a vitivinicultura para novas regiões. É o caso da Serra da Mantiqueira, na divisa do Sul de Minas Gerias com o estado de São Paulo, onde a Syrah se tornou a variedade tinta favorita dos adeptos da dupla poda, técnica que permite colher as uvas no inverno, quando as condições climáticas favorecem a maturação. Alguns rótulos da região receberam prêmios importantes no Brasil e no exterior. Merecem destaque o Guarpari Syrah Vista do Chá 2012, que obteve Medalha de Ouro e 95 pontos no Decanter World Wine Awards, um dos mais prestigiados do mundo, e o Casa Verrone Gran Speciale Syrah 2018, que obteve 93 pontos na avaliação do crítico Marcelo Copello.

A Syrah também é a estrela entre as tintas no Vale do São Francisco. É lá, na divida da Bahia com Pernambuco, que a vinícola Miolo produz o Reserva Syrah, cuja safra 2019 recebeu a Medalha de Prata no 14º Syrah du Monde, realizado no Château d’Ampuis, na França. Ele foi o único Syrah brasileiro premiado na edição de 2020 do concurso. Mas nem por isso pode-se dizer que se trata do melhor Syrah do Vale do São Francisco. A uva e a região foram escolhidas pela Miolo para produzir o ícone Testardi – vinho do qual tenho orgulho de ser embaixador.

Intenso, de aromas envolventes e que surpreende pela complexidade, o Testardi é um vinho que desafia a mente de quem o prova. Em 2018, ele entrou para o seleto grupo dos 7 Lendários da Miolo. A safra 202o ainda não está disponível. Até que ela chegue ao mercado, vale procurar por uma garrafa de 2018, à venda em lojas especializadas por preços que partem de R$ 175,00. Vai muito bem com carnes vermelhas assadas ao ponto e com pratos típicos do Sertão Nordestino.