O compositor Toquinho já dizia em sua canção Aquarela, um clássico da música popular brasileira, que “o futuro é uma astronave que tentamos pilotar”. Só tentamos. Saber com precisão como serão os próximos anos é impossível. Existem, contudo, algumas empresas que buscam traçar planos para um futuro distante. Os executivos da Suzano Papel e Celulose, capitaneados pelo executivo Antônio Maciel Neto, se encaixam nesse perfil. 

 

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“Durante o último ano e meio definimos em quais segmentos fortaleceremos apostas”

Antônio Maciel Neto, Presidente da Suzano

 

Eles apostaram muitas fichas em um ousado projeto de olho na próxima década. Em 2008, a empresa contratou a consultoria McKinsey & Company para elaborar um espelho do que será o grupo em 2024, quando a companhia fundada por Leon Feffer completar 100 anos de vida. No ambiente de hoje, em que tudo acontece com muita velocidade, essa tarefa é ainda mais difícil. Por isso, demandou muito estudo. 

 

“Durante o último ano e meio desenhamos rumos, o que vai compor nosso portfólio e em quais segmentos fortaleceremos apostas”, disse Maciel à DINHEIRO. Agora, pela primeira vez, ele detalhou os planos da companhia. 

 

“Em papel, vamos praticamente manter o que fazemos hoje. Mas, em celulose, teremos uma atuação muito maior, será o maior negócio do grupo.” A visão de futuro traçada pelo Plano 2024, como foi batizado, também determinou que dois negócios deveriam merecer atenção especial: energia renovável e biotecnologia. 

 

A Suzano, dona de receitas anuais de R$ 4 bilhões, buscou essas áreas porque estudos apontam que o mundo será cada vez mais sustentável nos próximos 15 anos. E a árvore, matéria-prima que a empresa já conhece de longa data, poderá, por exemplo, oferecer alternativas para substituir o petróleo e seus derivados em produtos petroquímicos e geração de energia. 

 

Em sua composição, a planta tem fibras de carbono e lignina – componente cuja queima gera energia limpa. Dessa forma, interessa ao grupo ter sob seu guarda-chuva uma empresa especializada no estudo de árvores e se tornar fornecedora de biotecnologia. “Além de usar as pesquisas para melhorar nossa produtividade, vamos tornar isso um negócio.” 

 

Nessa direção, o grupo deu duas grandes tacadas. Há pouco mais de dois meses, a Suzano comprou por US$ 85 milhões uma empresa de biotecnologia com o sugestivo nome Futuragene, com sede em Londres. 

 

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Unidade em Mucuri: expansão da fábrica e novas plantas vão elevar a produção

de celulose para mais de cinco milhões de toneladas 

 

Em seguida criou a Suzano Energia Renovável. Com a Futuragene, a ideia é explorar todas as inovações tecnológicas criadas pela empresa para transformá-las em negócios. Um deles é a venda de mudas de eucalipto, pinus, acácia, entre outras, melhoradas geneticamente. 

 

Outro negócio pesquisado pela companhia e que, no futuro, fará a diferença é a produção de etanol de celulose, que disputará um mercado de R$ 24 bilhões só no Brasil. Maciel não descarta, inclusive, que o combustível possa dar origem para mais um braço de negócios do grupo. 

 

Enquanto o projeto ainda é desenvolvido, a companhia foca suas atenções na Suzano Energia Renovável, que venderá pellets, pequenos pedaços de madeira prensada, com menos de 10% de umidade e alto poder de gerar energia a partir de sua queima. 

 

Os investimentos iniciais somarão US$ 800 milhões, sendo que parte sairá do caixa da Suzano Papel e Celulose e o restante de novos sócios.“Vamos fazer capitalização antes do fim do ano”, diz Maciel.  Mesmo antes de sequer ter o local da fábrica definido, os três milhões de toneladas que deverão ser produzidos a partir de 2013 já foram comercializados para empresas europeias.

 

A julgar pelo preço atual da tonelada de pellet, as vendas gerariam receita adicional de US$ 360 milhões ao grupo. Em princípio, o foco de vendas da Suzano são as empresas europeias que geram energia a partir da queima de combustíveis fósseis – o que inclui desde uma siderúrgica até uma confecção. 

 

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“A Suzano está apostando em uma área que deve crescer bastante no futuro porque a energia gerada por carvão é muito poluente”, diz Osmar Camilo, analista da corretora Socopa. 

 

Outro país que pode se tornar um consumidor do pellet no longo prazo é a China, onde o carvão é bastante utilizado pelas empresas e predominante na matriz energética. É um país, inclusive, onde a Suzano já tem um relacionamento forte no campo da celulose. 

 

No ano passado, a companhia exportou 1,5 milhão de toneladas, com receita de R$ 1,3 bilhão, e o país de Mao Tsé-tung foi o principal cliente, responsável pela compra de quase 45% do bolo. 

 

Para atender à demanda crescente pela celulose nessa região e em países em desenvolvimento, como a Índia e a América Latina, a companhia tem investimentos programados da ordem de US$ 6 bilhões para a construção de novas unidades no Maranhão e no Piauí. 

 

Cada uma delas com capacidade de produção de 1,5 milhão de toneladas de celulose por ano, começa a operar a partir de 2013 e 2014, respectivamente. Hoje, a Suzano produz 2,7 milhões de toneladas. 

 

“A China é nosso principal alvo porque o governo prefere usar as terras para plantar alimentos, em vez de apostar em celulose. E o consumo de papel está crescendo muito ali”, diz Maciel. O que explica isso são o aumento do poder aquisitivo e novos hábitos da população. 

 

Quando a renda per capita sobe, as pessoas têm mais acesso a escolaridade e remédios – e então compram mais cadernos, livros, medicamentos e cosméticos – e aumentam a compra de produtos do papel tissue, como guardanapos, papel-toalha e higiênico. “Além da China, temos visto esse cenário na Índia, no Leste Europeu e no Brasil”, diz Elizabeth de Carvalhaes, presidente da Bracelpa, entidade do setor.