Uma temporada inesquecível. Assim a Suzano irá guardar o ano de 2020. Não somente pelos resultados financeiros. Mas também por ver que as mudanças estratégicas adotadas nos últimos anos têm se mostrado acertadas. O mercado enxerga e reconhece a performance. Tanto que os papéis da companhia saltaram 80%, da casa dos R$ 40 (janeiro do ano passado, na pré-pandemia) para R$ 72,70 na manhã de quinta-feira (18). “O ano ficou marcado pela pandemia e pelo menor preço nominal de celulose na história. Mesmo assim, alcançamos uma geração de caixa operacional de R$ 11,5 bilhões, alta de 63% em relação ao ano anterior”, afirmou à DINHEIRO Walter Schalka, presidente da companhia. Os resultados foram sustentados pelo forte volume de vendas e pelo câmbio favorável às exportações, além do controle das despesas. “Tudo reflexo da resiliência da Suzano mesmo em um ano tão particular.”

Schalka destaca duas vias de avanços. “Internamente, com o fortalecimento da cultura pós-fusão [com a Fibria, em 2018]. Externamente, com uma significativa queda na alavancagem financeira”, disse. A dívida líquida em dólar em relação ao Ebitda era de 4,3 vezes em dezembro – contra 4,9 vezes de um ano antes. Referência global na fabricação de bioprodutos desenvolvidos a partir do cultivo do eucalipto, a Suzano comercializou 10,8 milhões de toneladas de celulose em 2020, volume 15% superior ao de 2019. Já as vendas de papel tiveram retração de 6%, para 1,2 milhão de toneladas. Os negócios totais atingiram 12 milhões de toneladas, crescimento de 12% em relação ao ano anterior, o que contribuiu para o faturamento de R$ 30,5 bilhões na última temporada, 17% a mais do que em 2019 (R$ 26 bilhões).

Para Marcelo Bacci, diretor executivo de Finanças, os números mostram o apetite por ajustes da companhia, que reduziu o endividamento em US$ 1,2 bilhão durante 2020, além de diminuir o nível dos estoques em aproximadamente 1 milhão de toneladas de celulose. Os ganhos advindos da fusão com a Fibria, iniciada em 2018 e concluída no ano seguinte, tiveram reflexos ainda em 2020. “Capturamos R$ 1,3 bilhão em sinergias”, afirmou Bacci. O resultado é proveniente de redução de custos, despesas e investimentos de capital originários de todas as áreas da empresa (administrativo, comercial, industrial, logística e suprimentos).

“O ano foi marcado pela pandemia, mas alcançamos geração de caixa operacional de R$ 11,5 bilhões” Walter Schalka, Presidente da Suzano.

A expectativa de Bacci é que os negócios recebam incremento em 2021, impulsionados pela alta no preço da celulose. Durante o ano passado, a média foi de US$ 458 a tonelada, a mais baixo dos últimos dez anos, o que comprometeu o desempenho das empresas do setor pelo mundo. A redução foi motivada pelo excesso de oferta, situação que acabou se normalizando. O preço está agora em US$ 600 a tonelada. Apesar da situação sensível pelo excesso de oferta em 2020, a Suzano se beneficiou por causa do câmbio desvalorizado. A empresa exportou 82% do produzido – para China (50%), Europa (30%) e Américas (20%) – e acredita que, neste ano, os resultados serão potencializados em razão da recuperação do valor da celulose e da demanda contínua. A Suzano tem 18% de participação no mercado global, de 60 milhões de toneladas.

Sergio Zacchi

“À medida que a desalavancagem da companhia diminui, nos dá espaço para pensar em crescimento” Marcelo Bacci, Diretor de Finanças da Suzano.

A companhia fabrica papel gráfico (para cadernos, livros), embalagem e sanitário. A linha gráfica registrou baixa em 2020, principalmente no segundo trimestre, em decorrência do fechamento das escolas, comércios e escritórios. “Essa realidade começou a se reverter no final do ano”, disse Bacci. A linha de embalagem teve queda no início da quarentena, mas fechou o ano em crescimento. Já os papéis sanitários apresentaram alta nas vendas no começo da pandemia, mas recuaram e se mantiveram “em nível normal” no restante da temporada.

A recuperação do mercado nacional anima a Suzano a investir. Após aporte de R$ 130 milhões, a empresa vai inaugurar em março fábrica de papel higiênico em Cachoeiro (ES), com capacidade de produzir 30 mil toneladas por ano. Além disso, espera anunciar até o fim do ano o projeto de uma nova fábrica de celulose, no Mato Grosso do Sul, com investimento de US$ 2 bilhões. A desalavancagem será decisiva na condução dos investimentos. “À medida que esse número diminui, nos dá espaço para pensar em crescimento”, afirmou. Depois de um ano positivamente histórico como foi o difícil 2020, a Suzano espera manter seu papel de protagonista e ter neste 2021 uma temporada ainda melhor.

KLABIN TAMBÉM COMEMORA

Assim como a Suzano, a Klabin, maior produtora e exportadora de papéis para embalagens do País, também teve o que comemorar. A receita líquida da companhia atingiu R$ 11,9 bilhões no ano passado, crescimento de 16% em relação a 2019 (R$ 10,2 bilhões), e R$ 3,2 bilhões no último trimestre, recorde na história da companhia. O Ebitda ajustado aumentou 14%, para R$ 4,9 bilhões no ano passado.

O executivo Cristiano Teixeira, CEO da Klabin, afirmou que os números são frutos de um mix de gestão que inclui um modelo de negócio integrado, resiliência competitiva e verticalização. “Além disso, é importante destacar a aquisição dos setores de papel ondulado e de embalagens da International Paper (por R$ 330 milhões, em 2020) e a evolução das obras do projeto Puma II (já foram investidos R$ 5,3 bilhões de um total de R$ 9,1 bilhões, no Paraná). As iniciativas representam, acima de tudo, a execução de nossa visão estratégica.”

Para a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), que representa a cadeia produtiva de árvores plantadas, do campo à indústria, o setor demonstrou rápida capacidade de planejamento, organização e resiliência em 2020, em meio à pandemia. O esforço refletiu no segundo maior volume de produção de celulose em um ano na história, com 20,9 milhões de toneladas – o recorde é de 21 milhões de toneladas, em 2018. “Também é possível citar avanço de 4,9% na produção de papel cartão, usado nas caixas de remédios e de delivery”, disse Paulo Hartung, presidente da Ibá.

Diante de novas ondas da Covid-19, o economista destaca a manutenção do trabalho das indústrias na fabricação de produtos que atendam às necessidades da sociedade, mas sem deixar de pensar o futuro. Há investimentos de R$ 35,5 bilhões anunciados até 2023, destinados a florestas, novas fábricas, expansões, tecnologia e ciência. “Praticamente o dobro dos R$ 18 bilhões registrados nos últimos quatro anos construção de unidades.”

SOB NOVA DIREÇÃO

Divulgação

Para onde vai a Eldorado Celulose? Acostumados a vencer todas, os irmãos Wesley e Joesley Batista, do Grupo J&F, terão de assinar, a contragosto, o contrato de transferência de uma de suas empresas mais rentáveis: a Eldorado Brasil Celulose. A Câmara de Comércio Internacional decretou a vitória por três a zero da Paper Excellence na arbitragem contra a J&F. Agora, a empresa controlada pela família Widjaja, da Indonésia, passa a deter 100% do capital da Eldorado. O caso foi levado à corte arbitral pela Paper Excellence em 2019, após divergências entre as partes.

Em 2017, a J&F fechou a venda da Eldorado à Paper Excellence por R$ 15 bilhões, incluindo R$ 7,5 bilhões em dívidas. O acordo também obrigava a companhia com sede no Canadá a renegociar os débitos com os bancos, o que liberaria as garantias oferecidas pelos irmãos no negócio, além do prazo de um ano para levantar o financiamento e concluir a transação.

Nesse período, o valor patrimonial da Eldorado cresceu, impulsionado por mudanças do câmbio e no preço da celulose. A Paper Excellence alegou que os Batistas passaram a dificultar a quitação das dívidas e não cooperar para liberar as garantias previstas no contrato.

Instalada no Mato Grosso do Sul, a Eldorado possui capacidade de produção de 1,7 milhão de toneladas de celulose por ano, 40% delas destinadas ao mercado asiático. A companhia emprega 4 mil pessoas e teve receita de R$ 4,3 bilhões em 2019.