Durante o mês de março, a colunista de vinhos da IstoÉ Dinheiro e editora de vinhos da revista Menu, Suzana Barelli, elaborou uma verdadeira enciclopédia sobre quem é quem entre as mulheres no mundo vinícola. Desde as míticas viúvas do champanhe até as que hoje comandam operações de alcance global. Conheça a seguir esta Wine List imperdível.

As três viúvas do champanhe

Sem qualquer dúvida a mais famosa delas foi Barbe-Nicole Ponsardin (1777-1866), a Veuve Clicquot. Filha de um empresário do ramo têxtil, ela se casou aos 21 anos com François Clicquot, que produzia champanhes. Sete anos depois, seu marido morreu e ela não se intimidou. Ficou à frente dos negócios, tornando-se uma das primeiras mulheres num universo dominado por homens. Barbe-Nicole não se limitou a ser uma espécie de CEO. Ela introduziu inovações ao mundo dos champanhes e foi voraz exportadora a cortes da Europa. Conduziu a marca dos rótulos laranja por seis décadas.

Contemporânea de Barbe-Nicole, Jeanne Louise Pommery (1819-1890), conhecida por Louise Pommery, ou Madame Pommey, foi a segunda viúva dos champanhes. Seu marido, Alexandre, era empresário do ramo de algodão e decidiu se associar a um produtor de champanhe em 1856, mas morreu apenas dois anos depois. Louise assumiu os negócios aos 38 anos e, a exemplo de Barbe-Nicole, levou inovações à sua indústria. Diz-se que ela percebeu que os ingleses preferiam a bebiba mais seca, sem tanta adição de açúcar como era comum na época, e em 1874 a Pommery produziu seu primeiro champanhe brut.

A terceira viúva do champanhe foi Élisabeth Law Lauriston-Boubers (1899-1977), ou Lily Bollinger. Casou-se aos 24 anos com Jacques Bollinger e sempre foi próxima da maison. Quando ficou viúva, em 1941, aos 42 anos, tornou-se natural que ela assumisse os negócios. Perfeccionista, cuidava de todos os detalhes. Passeava diariamente pelos vinhedos de bicicleta, em cenas que se tornaram clássicas. Cuidou das operações por três décadas, até 1971. Seis anos depois, morreu. Uma das frases mais definidoras sobre champanhe é de sua autoria: “Bebo champanhe quando estou feliz e quando estou triste. Às vezes eu bebo quando estou sozinha. Quando tenho companhia, considero obrigatório. Dou um gole quando estou sem fome, e bebo quando estou com fome. Se não for assim eu nunca nem toco no champanhe. A não ser que eu esteja com sede.”

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Antónia Adelaide Ferreira, dona Ferreirinha

Ela também pode ser considerada uma das grandes viúvas da história do vinho. Na verdade, duplamente viúva. Antónia Adelaide Ferreira (1811-1896) perdeu o primeiro marido aos 33 anos. E foi aí que assumiu seu lado de empresária e inovadora. Olhava tanto para a qualidade da produção quanto para as condições de trabalho de seus empregados. Uma das maiores defensoras do vinho do Porto, quando morreu, aos 84 anos, dizem que dezenas de milhares de pessoas acompanharam o enterro. Deixou uma fortuna e três dezenas de quintas. De uma delas, a Quinta do Vale Meão, sai um dos maiores vinhos da humanidade, o Barca Velha.

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Marilisa Allegrini

Hoje ela é a CEO e responsável pelo marketing global de uma das maiores marcas do universo do vinho, a Allegrini. Sua família produz vinho desde o fim do século 16. Curiosamente, Marilisa não começou a atuar na empresa da família – hoje, seu irmão Franco é quem cuida da produção. Psicóloga, inicialmente foi atuar em sua área de formação e só se aproximou da empresa depois de muita insistência de seu pai, Giovanni, um personagem importante na história do amarone, vinho intenso, robusto e bem alcoolico.

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Emily Faulconer

Filha de um inglês e uma argentina, Emily Faulconer, 33 anos, é a principal enóloga da Viña Carmen, tradicional vinícola chilena. Ao assumir o cargo no ano passado muito se falou da ousadia da vinícola. Promover uma mulher e, ainda por cima, tão jovem. Emily segue forte com a missão de continuar aperfeiçoando a linha de vinhos premium da Carmen, com o foco de elaborar brancos e tintos com identidade e resgatando o valor do terroir. “No trabalho, é fato que é preciso uma maior incorporação de mulheres, especialmente em cargos de liderança”, diz.

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Paz Levinson

A sommelière argentina Paz Levinson é a profissional latino-americana de maior sucesso na Europa. Em uma carreira que começou em 2003, no restaurante Restó, na Argentina, trabalhou nos Estados Unidos, na Inglaterra, na China e escolheu Paris para fincar bandeira. Atualmente, Paz é a principal sommelière do Groupe Pic, com restaurantes na França, na Suíça e na Inglaterra e só tem elogios para a chef Anne-Sophie Pic.

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Nina Jensen

Dia 15 de março, uma sexta-feira, a dinamarquesa Nina Jensen conquistou o segundo lugar na 16ª edição do Concurso Mundial de Sommelier, realizado na Antuérpia, na Bélgica. É a segunda vez que uma mulher chega à vice-liderança neste concurso, que é realizado a cada três anos, sempre em um país diferente, e aterceira em que uma fica entre os três principais lugares. A primeira vez foi com a canadense Véronique Rivert, no Japão, em 2013. Na edição de 2016, na Argentina, a francesa Julie Dupouy conquistou o terceiro lugar. Nesta edição, participaram os melhores sommeliers de 63 países e também os vencedores dos campeonatos continentais (América, Ásia e Europa), totalizando 66 pessoas. As mulheres eram a minoria: sete sommelières. Nina, de 26 anos, trabalha no restaurante Kong Hans Kælder, em Copenhagen, o primeiro a ter estrela Michelin em seu país natal.

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Francisca Van Zeller

Originária da região dos Vinhos Verdes, no Norte de Portugal, a vinícola de sua família é mais conhecida pelo volume de produção e pela linha de vinhos Casal Garcia. Com a chegada da Quinta da D. Maria a seu portfólio, abriu-se um canal no segmento de alta gama, onde Francisca atua principalmente. Nestes novos planos, terá vez a nova linha de vinhos que valorize os diferentes solos e uvas da região de Vinho Verde, como a alvarinho e a loureiro. “Vai ser uma gama de vinhos diferentes, um projeto novo, focado”, diz ela. Nascida no mundo do vinho (quando menina, sua família era dona da mítica Quinta do Noval) e com um vinhedo para chamar de seu (quando fez 18 anos, o pai dela batizou uma nova vinha com o seu nome), Francisca conseguiu conquistar espaço por méritos. “Dez anos atrás, muitos me viam como se eu fosse apenas a herdeira de um vinhedo e não a proprietária de conhecimento.” Formada em jornalismo e com especialização em enologia, ela lembra que ainda não faz muito tempo em que era preciso ter um homem para uma reunião de trabalho ser frutífera.

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Bettina Bürklin-von Guradze

Quando herdou a vinícola familiar em 1990, a enóloga Bettina Bürklin-von Guradze, não imaginava que um dia transformaria a tradicional propriedade, que está em sua família desde 1597, em uma referência em rieslings biodinâmicos. Mas foi exatamente isso que aconteceu a partir do ano 2001 quando ela e seu marido, Christian Von Guradze, decidiram começar a reconverter para a biodinâmica os 85 hectares da Dr. Bürklin-Wolf Estate, em Wachenheim, na região de Pfalz, na Alemanha. Bettina conheceu a biodinâmica pelo livro do francês Nicolás Joly, produtor pioneiro em seguir a biodinâmica nos vinhedos e autor de “Vinho do Céu à Terra” (como foi batizada a tradução para o português). A certificação veio em 2008. Bettina conta que o caminho para esta filosofia, que só utiliza compostos orgânicos no tratamento dos vinhedos e segue as influências cósmicas, é elaborar vinhos com muita qualidade em harmonia com a natureza. É um feito e tanto para este que é um dos maiores vinhedos familiares da Alemanha.

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Madeline Puckette

O Wine Folly revolucionou a maneira de escrever sobre vinhos nesta última década. Com muitas ilustrações e gráficos, didáticos e divertidos, e conteúdo claro, este site vem mostrando que o vinho não é um bicho de sete cabeças e conquistando uma legião de seguidores. A norte-americana Madeline Puckette é a mulher por trás deste projeto. Designer gráfica e produtora de música eletrônica, Madeline gostava de tomar um vinho nas horas de folga. A ideia do Wine Folly nasceu de sua observação de que as pessoas querem saber mais sobre vinhos, mas não sabem muito bem por onde começar. Sommelier certificada pela Court of Master Sommelier, Madeline se juntou a dois grandes amigos, Justin Hammack e Chad Wasser, e lançou o site no final de 2011. Em 2012, o trio lançou o seu primeiro infográfico: como escolher o vinho. Sucesso absoluto. E assim, com posts didáticos e muito informativos, o site foi crescendo em números de acessos e em reconhecimentos. Em 2013, ela foi eleita a blogueira de vinhos do ano pela International Wine & Spirit Competition.

https://www.istoedinheiro.com.br/madeline-puckette-a-criadora-do-wine-folly/

 

Gloria Collet

No universo de 180 milhões de garrafas elaboradas por ano, a enóloga Gloria Collell achou seu espaço dentro do grupo Freixenet, com as linhas especiais de cava. O diferencial de Gloria é não apenas participar da criação da bebida, como enóloga que é, mas atuar em todo o desenvolvimento de marketing, da escolha da garrafa, da embalagem, pesquisa de mercado e tudo mais. Natural de uma família que produz vinho na Catalunha, ela chegou à enologia depois de desistir de um curso de direito. Na Freixenet, comecei como enóloga, na linha de vinhos e espumantes Mía. E fui para o marketing para ajudar no processo de desenvolvimento da marca, mas sem deixar de ser a responsável pela produção do vinho. Seu lema? “A inspiração vem depois da observação.”

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Margareth Henriquez

Presidente e CEO da Krug, a casa de champanhes fundada em 1843 por Joseph Krug e que pertence ao grupo LVHM, a venezuelana Margareth Henriquez segue a filosofia de seu fundador. Krug deixou escrito em seu caderno pessoal que sua maison deveria criar um champanhe mais rico e elegante a cada ano e ser absolutamente consistente em sua qualidade. Formada em Harvard, Margareth começou a sua carreira no mundo do vinho em 1982. De 2001 ao início de 2008, ela trabalhou no grupo Moët Henessy na Argentina, em diversas funções, até ser convidada para assumir a Krug. No cargo, já recebeu o título de “Mulher do Ano”, da Drinks International, em 2013, e ocupou a 37ª posição entre as 200 pessoas mais influentes da indústria do vinho, pela Revue de Vin de France.

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Marina Santos

Você já provou o cabernet franc da Marina? E foi assim, à procura do vinho sensação da feira Naturebas, algumas edições atrás, que conheci a enóloga brasileira Marina Santos, da Vinha Unna. No primeiro gole, já me surpreendi. É um cabernet franc diferente, digamos assim, mais leve, na cor e no corpo, de aromas muito limpos, uma nota de especiaria, persistente, único. Merecia toda a fama que conquistou naquele evento e nos seguintes. Foi batizado de As Baccantes, com um rótulo lindo (e feminino), de mulheres e vinho, desenhado pela própria Marina. A próxima edição do Naturebas será no último final de semana de junho, na Casa das Caldeiras, em São Paulo. Ela é uma das principais defensoras do cultivo biodinâmico no Brasil e acredita que não é preciso usar produtos químicos mesmo em vinhedos com muita umidade, como os gaúchos. Ela estuda e segue a filosofia de Rudolf Stein, dos preparados biodinâmicos para o cultivo agrícola.

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Regina Vanderlinde

A catarinense Regina Vanderlinde é a atual presidente da Organização Internacional da Vinha e do Vinho, órgão de referência no mundo dos brancos e dos tintos e mais conhecido pela sigla OIV. Ela assumiu no lugar da norte-americana Monika Christmann, com a proposta de promover iniciativas que contribuam para um modelo de negócio internacional baseado na transparência e nas trocas comerciais.

Fundada em 1924 e atualmente com 46 países-membros, a OIV define os padrões internacionais sobre uvas, vinhos e demais bebidas a base de uvas, e é responsável pelos dados econômicos e pelo comércio internacional do setor do vinho.

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Master of Wines: 132 mulheres

Atualmente, o time de Master of Wine é formado por 384 profissionais, de 30 países diferentes. Desde total, pouco mais de 1/3 são mulheres: exatas 132 pessoas. A primeira MW foi a inglesa Sarah Morphew Stephen, em 1970, exatos 17 anos depois de o título ser concedido pela primeira vez. A inglesa Jancis Robinson obteve o seu MW em 1984 e foi a primeira mulher, então fora do mercado do vinho, a conquista-lo. O Instituto do Master of Wine informa que 1979 foi o primeiro ano em que foram aprovados o mesmo número de homens e mulheres. Até então o número de homens aprovados era sempre superior ao de mulheres. E, em 2001, pela primeira vez, mais mulheres foram aprovadas do que homens. Mais recentemente, em 2014 e em 2015, novamente a quantidade de mulheres aprovada foi maior do que o de homens.

Não é fácil ser um MW, estas duas letrinhas mágicas que acompanham o nome dos profissionais do vinho. O título máximo do mundo do vinho requer anos de estudos e muitas viagens pelos vinhedos em todos os continentes. As provas finais incluem difíceis degustações às cegas (quando não se sabe o que está nas taças) e trabalhos escritos, avaliados pela banca inglesa. A propósito, não há brasileiras com este título. O único MW brasileiro é Dirceu Vianna Júnior, que vive em Londres. Ele conquistou o título em 2008.

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