O brasileiro aproveitou a necessidade do isolamento social a partir da pandemia da Covid-19 para melhorar as condições da própria casa. E muita gente renovou a cor das paredes nesse período. Se o volume do setor de tintas registrou alta de 3,5% no primeiro ano da crise, segundo a Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas (Abrafati), a unidade de tintas residenciais da gigante do setor químico Basf no Brasil, dona da marca Suvinil e líder do mercado, cresceu em uma velocidade ainda maior. O volume alcançado pela empresa foi 9,6% acima de 2019, quase o triplo do segmento. Para pintar ainda mais esse crescimento, a Basf planeja investimentos da ordem de R$ 300 milhões neste ano, principalmente em eficiência operacional. Em 2020, foram R$ 200 milhões. “O principal driver do crescimento veio do ressignificado da casa, porque virou o local de trabalho para muita gente”, disse Marcos Allerman, vice-presidente de tintas decorativas da Basf para a América do Sul. A companhia não revela a receita da divisão, mas diz que o segmento de tintas representa 15% do faturamento da Basf no Brasil.

Os números ratificam esse crescimento relacionado à pequena reforma. Segundo o executivo, somente 15% das vendas da Suvinil são direcionadas para construtoras. Os outros 85% vêm da receita de consumidores diretos. Para atender à demanda, foi necessário também investir na produtividade nas linhas de produção. Somente nos parques fabris da companhia, em São Bernardo do Campo (SP) e Jaboatão dos Guararapes (PE), a Basf aportou R$ 25 milhões nos últimos dois anos. “Atualizamos a tecnologia para conseguir a melhor qualidade no menor custo.”

A capacidade de produção anual das duas unidades chega a 330 milhões de litros de tintas decorativas (300 milhões na fábrica de São Paulo e 30 milhões em Pernambuco). A Suvinil, que em 2021 chega aos 60 anos, tem aproximadamente 20% do mercado brasileiro, que é de 1,62 bilhão de litros. O segmento de tintas imobiliárias responde por 83% do que é produzido no Brasil, o que significa 1,35 bilhão de litros.

AJUDA PROFISSIONAL A companhia alemã criou seu próprio auxílio e doou R$ 600, em 3 parcelas de R$ 200, para 1.955 pintores em situação de vulnerabilidade. (Crédito:Divulgação)

E-COMMERCE Para crescer em 2020, também foi necessário investir no comércio eletrônico da Suvinil. A fatia digital de vendas, em canal direto com o consumidor final, cresceu 700%. O sistema já existia, mas foi intensificado e acelerado nesse período. “Serviu muito para quem estava em casa, com a compra direta, no formato B2C”, disse o executivo. Ainda assim, representa uma pequena parcela da receita. Segundo Allerman, antes da pandemia o on-line representava menos de 1% das vendas. Agora, já chegou à casa de 5%. E vai aumentar. “Hoje já consideramos on-line como um canal de venda estabelecido. Nossa perspectiva é de que, em até dois anos, pelo menos 20% das transações em tintas sejam feitas pela internet”, afirmou o VP da Basf.

Outro fator que Allerman enxerga que tenha impactado positivamente na venda de tintas da companhia, ainda que não traga números precisos disso, está relacionado ao auxílio emergencial, principalmente na primeira fase, com os pagamentos mensais de R$ 600. “As vendas no Nordeste, por exemplo, foram superiores às do Sul. Provavelmente esse resultado está relacionado ao benefício.” Para ajudar profissionais da área, a Basf executou seu próprio plano de auxílio a 1.955 pintores em situação de vulnerabilidade no Brasil, quando disponibilizou R$ 600 aos profissionais, em três parcelas de R$ 200, no auge da crise, em associação com o Banco Afro e o Centro Integrado de Estudos e Programa de Desenvolvimento Sustentável (Cieds).

Ainda que com o resultado positivo no ano, a Basf precisou enfrentar desafios como a logística de recebimento de matéria-prima para produção das tintas. Se da própria Basf vem a resina, outros elementos, que vêm da Europa e Ásia, impactaram o custo, por causa da alta do dólar. “Isso afetou a indústria como um todo. Apesar do aumento no custo perto de 20%, conseguimos mitigar esse impacto com os investimentos na tecnologia de produção”, afirmou Allerman.

15% é o que representa a divisão de tintas na receita da BASF no país

Com pequena parcela de exportação, que não chega a 5%, principalmente para América do Sul, Central e África, a aposta no crescimento da Suvinil está focada em solo brasileiro. “Queremos avançar nesse mercado e ampliar a presença da marca no Brasil, que conversa bem com diversos públicos”, disse.

Para o presidente-executivo da Abrafati, Luiz Cornacchioni, a perspectiva do setor para 2021 é de crescimento ainda maior do que o registrado no ano passado. “Ter sido considerado atividade essencial nos ajudou muito. A gente segue no ritmo aquecido e nossa expectativa é de fechar o ano com crescimento de 5 pontos porcentuais acima do Produto Interno Bruto (PIB)”, disse o dirigente. Pelo menos no horizonte da Suvinil, há um muro de oportunidades para ser pintado.