Visto de longe, o resultado negativo de US$ 691 milhões na balança comercial de 2000 é um rematado desastre. Tudo poderia ter sido pior, no entanto, não fosse o papel exercido por empresas de pequeno e médio portes que já vão sendo conhecidas como as zebras exportadoras. Contra a burocracia nacional, o protecionismo externo e todas as previsões, elas alcançaram com seus produtos as prateleiras da Europa, Ásia e América do Norte e exerceram papel decisivo no crescimento de 15% das exportações brasileiras, que somaram no ano passado US$ 55,08 bilhões, US$ 7 bilhões a mais do que em 1999. A Câmara de Comércio Exterior aposta num crescimento de 20% para as vendas externas em 2001, de olho no desempenho de quem não tem o favoritismo. ?Sem comodismo, essas empresas estão ajudando o País a sair da estagnação exportadora dos anos 90?, avalia o secretário-executivo da Camex, Roberto Gianetti da Fonseca.

Um dos destaques deste grupo é a Café Original. A empresa do advogado Luís Henrique Moreira Ferreira, um ex-importador, optou por vender café pronto e embalado, em lugar da tradicional exportação de grãos. A idéia surgiu dois anos atrás, quando o advogado estava na Flórida, dentro da seção de café da Wal-Mart. ?Fiquei estarrecido com os altos preços dos produtos à venda?, diz ele. Na volta, juntou-se ao irmão e arrendou uma indústria em Varginha (MG). ?Quase chorei no dia em que desembaracei meu primeiro contêiner para os Estados Unidos?, conta o empresário. Hoje, a Café Original é a única grife brasileira de café nas gôndolas de supermercados dos Estados Unidos e Canadá. A empresa, que faturou US$ 5 milhões no ano passado, tem meta de US$ 16 milhões para este ano.

Outra empresa que, sem fanfarras, está desbravando o mercado externo é a Lupo. Depois de passar anos colando etiquetas da Calvin Klein e Laura Ashley em seus produtos, a octogenária fábrica de meias brasileira resolveu assumir. No ano passado, meias com a marca Lupo apareceram pela primeira vez nos EUA. Modelos para mulheres que deixam ?dedinhos de fora, barriguinha para dentro e bumbum para cima? causaram furor entre as norte-americanas. ?Perdemos a timidez?, comemora Valquírio Cabral, diretor comercial da Lupo. ?Está dando muito certo.? A estratégia permitiu que a participação das exportações no faturamento da empresa saltasse de 6% para 10% nos últimos 12 meses. Neste ano, a expectativa é dobrar as vendas ao exterior abrindo mercados na Inglaterra, Espanha, Alemanha e Itália.

A Rosa Chá, confecção paulista especializada em moda verão, passou mais de quatro anos investindo em design e fazendo promoção de seus produtos até ser aceita no circuito da moda mundial. Hoje a confecção é a única do gênero a participar da Semana de Moda de Nova York, o evento que dita tendências para todo o mundo. Os maiôs, vestidos, calças e blusas da grife estão em 210 elegantes pontos de venda somente nos Estados Unidos. As exportações já somam 30 mil peças por ano, 9% do total produzido pela empresa. ?No início, sacrificamos nossa produção para cortar peças especialmente destinadas ao exterior?, lembra o proprietário Amir Slama. ?Mas valeu a pena.?

O Boticário, que exportou os primeiros perfumes e cosméticos em 1986, é outra empresa que resolveu avançar. Suas exportações cresceram 41% em 12 meses, saltando para US$ 2,4 milhões no ano passado. ?Depois de crescer no Brasil, apertamos o passo no exterior?, explica Artur Grynbaum, diretor comercial do grupo. Hoje, o Boticário tem 70 lojas franqueadas em Portugal, mais do que a cadeia McDonald?s. Também vende para o Japão, onde tem mais de 320 pontos de venda, Peru, Paraguai e Bolívia. Agora, a meta é chegar aos Estados Unidos e Canadá. É por aí que o Brasil pode sair das últimas posições do pódio mundial de exportadores, ao lado de países como Burundi e Mianmá, para degraus mais nobres.