O último ano serviu resultados fracos para o varejo alimentar, que fechou no vermelho. A queda geral não foi sentida só no caixa, mas nas mesas dos brasileiros. Segundo a plataforma de varejo Scanntech, as vendas do setor representaram alta de 5,2% no faturamento, não descontada a inflação oficial de 10%, o que, na prática, indica perda de valor. No acumulado dos 12 meses, houve queda de 6,9% em vendas e diminuição de 3% do fluxo de clientes nas lojas. Chama a atenção ainda o fim de ano fraco ante o mesmo período de 2020. As compras nas redes desaceleraram a partir de agosto e acabaram com o carrinho 6,3% menor em dezembro na comparação com o mesmo mês do ano anterior. Entrar em 2022 com esse cenário não é nada bom para o já conturbado horizonte do consumo no País.

As grandes redes estão na pior situação. Perderam 1 ponto percentual em participação de mercado. A demanda se dividiu timidamente entre comércios de bairro e redes locais, mas acabou migrando mesmo para o atacarejo, cuja fatia cresceu 0,7 ponto porcentual. Nos supermercados, nem Black Friday nem festas salvaram a temporada de fim de ano. As gigantes do varejo amargaram variação positiva de 1% no faturamento de outubro e novembro frente aos mesmos meses de 2020. Em dezembro, a receita ficou no mesmo patamar do ano anterior – sinal de queda dos lucros.

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Essas empresas precisarão se reacomodar no mercado, como é o caso do Grupo Pão de Açúcar (GPA), que vem se desfazendo da rede Extra Hiper desde 2021. O Carrefour, por outro lado, poderá crescer com a compra do Grupo Big, reiterando o foco da operação nos hipermercados. Na terça-feira (25), a superintendência-geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), recomendou ao tribunal do órgão que aprove a negociação, mas com ressalvas. Com a decisão, o Carrefour terá de alienar algumas lojas de autosserviço.

Produtos de mercearia básica foram os que mais contribuíram na garantia do faturamento do ano, uma vez que foram os mais impactados pela alta dos preços. São o óleo, o café, o açúcar, a carne e o arroz de todo dia que ficaram mais pesados no bolso. O brasileiro já desceu para o consumo de marcas de qualidade inferior e enxugou a cesta, mas, no fim, ainda pagou mais e levou menos. A classe média, principal público dos hipermercados, foi a que mais perdeu renda e poder aquisitivo. Segundo a consultoria Tendências, o número de domicílios nas classes D e E, cuja renda familiar é de até R$ 2,8 mil, saltou de 48% para 51% nos últimos dez anos. Ainda que o Auxílio Brasil ajude a cobrir o buraco no orçamento das famílias que a inflação cavou no ano passado, a falta de perspectiva para estabilização dos preços irá impor escolhas de consumo cada vez mais difíceis na base da pirâmide. Menos comida na mesa será mais um fator decisivo para o resultado das urnas este ano.