A economia não é feita apenas de números. É feita de gente. A cotação da moeda, a taxa de juros, os índices de inflação e todas as estatísticas que compõe o noticiário afetam diretamente a vida da população e, principalmente, o ambiente de negócios para as companhias. E as empresas são dirigidas por pessoas, e empregam pessoas. É nessa engrenagem que há um sinal de alerta. Em janeiro, as montadoras tiveram o pior mês em 19 anos. No setor de alimentos, o consumo interno está 12% abaixo do mesmo período do ano passado. O setor têxtil, que despencou 14,5% no ano passado, deve fechar 2022 no negativo ou perto de zero, de acordo com o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel.

Não há como negar que a indústria brasileira está no sufoco. Um estudo da consultoria Deloitte constatou que três de cada cinco empresários e executivos seguirão cautelosos nos investimentos e nas iniciativas de expansão em 2022. Depois das eleições, pode ser que voltem a investir.  

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O ambiente turbulento afeta o humor. A pandemia espalhou incertezas e a confiança da indústria no Brasil começou 2022 em seu patamar mais baixo desde meados de 2020, engatando em janeiro o sexto declínio mensal consecutivo, segundo dados da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Os números mostram que o Índice de Confiança da Indústria (ICI) perdeu 1,7 ponto no mês, para 98,4 pontos, mínima desde julho de 2020 (89,8). Em trajetória de queda desde agosto do ano passado, o ICI cravou em janeiro sua maior sequência de perdas desde 2014, quando foram registrados oito meses consecutivos de retração.

A escalada de incertezas é resultado, principalmente, do receito de uma nova disparada de mortes na pandemia. Isso está mais do que claro nos números. O Índice de Situação Atual (ISA), que mede o sentimento dos empresários sobre o momento presente do setor industrial, caiu 1,2 ponto em janeiro, a 99,8 pontos, mínima desde agosto de 2020 (97,8), segundo a FGV. O Índice de Expectativas (IE), indicador da percepção sobre os próximos meses, cedeu 2 pontos, a 97,1 pontos, menor patamar desde abril de 2021 (96,9).

Apesar de os números mostrarem uma conjuntura pouco favorável, o ministro Paulo Guedes tenta vencer a crise no grito, com discurso que foge da realidade. Para Guedes, o Brasil voltou da crise da pandemia em V, preservou 11 milhões de empregos no setor privado e protegeu 68 milhões de brasileiros. Mas o fato é que, no terceiro ano de governo, não conseguiu fazer nenhuma reforma.

Fora da retórica do negacionismo econômico estão os realistas da situação. Uma das maiores autoridades do setor produtivo, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson de Andrade, está convicto que o Brasil não voltará a crescer mais de 3% ao ano de forma sustentada sem uma indústria forte, competitiva, sustentável e internacionalizada. Para isso, será preciso fazer as reformas. Ou seguiremos acreditando que tudo está bem, enquanto a indústria agoniza.