O comando da maior cervejaria do mundo está prestes a mudar. O brasileiro Carlos Brito, executivo que esteve à frente da Anheuser-Busch InBev (AB InBev) – conglomerado dono de marcas como Budweiser, Stella Artois, Corona, Brahma e Skol –, nos últimos 16 anos, deve deixar a empresa dentro dos próximos seis meses, segundo reportagem do jornal britânico Financial Times. A companhia não nega e nem confirma a mudança, mas especialistas do mercado dizem que a dança das cadeiras é dada como certa.

Fontes de mercado ouvidos pela DINHEIRO apontam que a empresa deve buscar uma solução caseira, alçando ao posto algum executivo de ponta entre os quadros da multinacional. Na escolha por um nome de alguém da casa, três candidatos surgem como potenciais sucessores de Brito: o catarinense Michel Doukeris, presidente para a América do Norte da companhia, e visto por muitos como o favorito da lista; o carioca Ricardo Tadeu de Souza, responsável pelo comércio digital entre empresas, e Carlos Eduardo Lisboa, atual presidente da cervejaria na América Central e responsável pela construção da marca Skol. Os três têm como origem a Ambev, controlada pela AB InBev, que tem 62% do capital da cervejaria brasileira.

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Carlos Brito começou sua trajetória na companhia em 1989, na Brahma e, uma década depois, participou da criação da Ambev. Também esteve à frente, em 2004, da fusão da Ambev com a belga Interbrew, que deu origem à Inbev. Quatro anos depois, foi o responsável pela entrada da companhia no mercado americano, com a compra da Anheuser-Busch, dando origem à AB Inbev. Desde então, o executivo ocupa o comando da cervejaria global. Em 2018, foi eleito um dos 100 melhores CEOs do mundo pela Harvard Business Review. Talvez, uma das únicas ações questionáveis da sua gestão tenha sido a compra da sul-africana SAB Miller, em 2016, por US$ 109 bilhões, valor considerado muito alto pelo próprio investidor Jorge Paulo Lemann, um dos donos da AB InBev.

MERCADO O anúncio da mudança no comando da cervejaria mexeu com o mercado de ações da companhia. No último dia 8, um dia após a informação do Financial Times, os papéis da empresa na B3 fecharam em queda, a R$ 298,07, 3,26% inferior em relação ao pregão do dia 4 de setembro (R$ 308,10). No ano, o pior momento do papel da companhia foi no dia 18 de março, logo após o anúncio do início da quarentena, quando foi comercializada a R$ 174,22. A cotação mais alta foi em 27 de agosto, quando a ação fechou a R$ 329,39.

Especialistas ligados ao segmento de bebidas não acreditam, no entanto, que a troca do comando da maior cervejaria do mundo causará algum impacto no mercado cervejeiro brasileiro. E que o próprio Brito teria formado pelo menos uma dezena de possíveis sucessores na companhia ao longo desses anos. A informação da mudança na gestão da AB InBev ocorre justamente em um momento de retomada do consumo global de bebidas, após o enorme impacto provocado pelo isolamento social imposto pela Covid-19. No Brasil, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Cerveja (CervBrasil), o fechamento de bares e restaurantes, principais locais de comercialização e consumo de cerveja no País – hoje são 1,1 milhão de pontos de venda –, resultou numa queda de volume entre 10% e 20% no primeiro semestre deste ano. Em abril, a queda foi de 35%, com pequena melhora no mês seguinte, quando as perdas chegaram a 25% em relação a maio de 2019. Mês a mês, o setor seguiu em recuperação, com agosto atingindo quase 100% do que foi comercializado no mesmo mês do ano passado. O volume consumido em 2019 chegou a 13,7 milhões de litros.

Num mercado em que a Ambev responde por 55% da fatia – Heineken tem 21% e Grupo Petrópolis, 16%, segundo levantamento da CervBrasil –, a perspectiva é de recuperação quase que total das perdas nos primeiros meses após o início do isolamento social. “A estimativa é alcançar, em 2020, a venda de 13,5 milhões de litros, o que seria um bom resultado”, afirmou o diretor-executivo da CervBrasil, Paulo Petroni. Em julho, durante a mais recente edição da Expert XP, evento promovido pela XP Inc., Carlos Brito demonstrou otimismo em relação à possibilidade de retomada da economia brasileira no cenário pós-Covid. “O Brasil já passou por outras crises e sabe encontrar soluções. E sempre exportamos talentos brasileiros para o exterior”, afirmou o CEO da AB Inbev, considerado pelo mercado um desses talentos nacionais de destaque no mundo.