A escolha de Octávio de Lazari para a presidência do Bradesco mostra claramente quais serão os caminhos adotados pelo banco. Lazari está longe de ser um sucessor que vai romper com a gestão de Luiz Carlos Trabuco. Ao contrário, ele personifica o ideal do Bradesco. Aos 54 anos, trabalha há quase quatro décadas no banco onde bateu ponto pela primeira vez aos 15 anos, em setembro de 1978 e foi  galgando posições até chegar à diretoria, em 2012. Ele será o quinto presidente do banco. Antes de Trabuco, a organização foi chefiada por Márcio Cypriano, por Lázaro Brandão antes dele, e pelo fundador, Amador Aguiar.

A trajetória de Lazari repete, com algumas alterações, a de Trabuco e a de Marco Antonio Rossi, que havia sido escolhido como sucessor mas faleceu em um acidente de avião no fim de 2015. Todos eles presidiram a seguradora antes de serem indicados para o comando da organização. Na estrutura do banco, os seguros são mais do que estratégicos: representam, ano sim, outro também, por um terço da receita.

DINHEIRO entrevistou Lazari com exclusividade no início de 2018, quando ele havia recém-assumido o comando da seguradora. Na conversa, ele tratou dos desafios que os seguros terão pela frente, e que podem ser estendidos ao banco como um todo. “Hoje, o cliente não abre mão de tecnologia e de praticidade, quer resolver tudo pelo celular”, diz ele. Tecnologia e foco no cliente, além de uma aderência à forte cultura organizacional do banco deverão ser as características de sua gestão.

Um exemplo esclarecedor é um aplicativo desenvolvido pela seguradora para os clientes de seguros automotivos. Cerca de 250 mil dos 1,6 milhão de segurados já instalaram o aplicativo “Dirija melhor” em seus celulares. Com recursos de georreferenciamento, o aplicativo diferencia quais motoristas trafegam de maneira segura, e quais abusam das acelerações e freadas bruscas.

Em breve, diz Lazari, será possível usar as informações desse aplicativo para oferecer um preço individualizado para os seguros automotivos. Os motoristas mais prudentes vão pagar menos, os menos prudentes, que oferecem mais riscos, pagarão mais. “Hoje, a formação de preço não diferencia o comportamento ao volante, que é uma variável essencial no cálculo do risco”, disse ele. “Ao premiar os motoristas mais responsáveis nós nos tornamos mais competitivos e, de quebra, contribuímos para melhorar o trânsito.”

Esse é um bom exemplo da necessidade que os bancos de varejo brasileiros têm de se adaptar para fazer frente à concorrência das empresas de base tecnológica, conhecidas como fintechs. Lazari sabe disso. “Temos de preservar o que temos de bom e aperfeiçoar o que precisa ser mudado”, disse ele à DINHEIRO, repetindo a orientação de Trabuco ao assumir a presidência do Conselho, em outubro de 2017.