O maior porto do mundo, o de Roterdã, na Holanda, desembarcará no Brasil ainda neste ano. No segundo semestre, a empresa que administra a principal rota comercial da Europa deverá se tornar o primeiro sócio do Complexo Industrial Portuário de Suape, em Ipojuca, Pernambuco, o maior da região Nordeste. A parceria tem dupla importância para o País.
 

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Primeiro, porque o investimento holandês no terminal pernambucano facilitará a captação de recursos privados em infraestrutura portuária. Segundo, porque marca o lançamento de um novo modelo de gestão de economia mista para o setor. Hoje, Suape tem 100% do capital sob controle do governo do Estado. No entanto, um plano de reestruturação administrativa, elaborado pela diretoria do complexo em parceria com técnicos holandeses, prevê transformar o terminal estatal em uma sociedade anônima, uma S/A, modelo inexistente no setor portuário brasileiro até hoje.

Do ponto de vista dos negócios, o Suape S/A simboliza uma nova fase para os portos brasileiros e um importante movimento para fortalecer o complexo da cidade de Ipojuca como plataforma de exportações do Nordeste. Hoje, quem circula pelas ruas do conjunto industrial se impressiona com a quantidade e a envergadura das empresas que ali atuam ? de petroquímicas, estaleiros e siderúrgicas a fabricantes de turbinas eólicas, alimentos e bebidas. Entre 2010 e 2011, Suape abrirá cerca de 260 mil empregos.
 

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Fernando Bezerra, presidente “Vamos quadruplicar o transporte em três anos”
 

?O plano para transformar a estrutura societária de Suape é inovador e abre janelas promissoras ao País?, diz Paulo Dantas, especialista em infraestrutura e questões societárias. ?E o Porto de Roterdã, um dos mais modernos e eficientes do mundo, que também é uma S/A controlada pela prefeitura, terá muito a ensinar aos portos brasileiros?, completa ele.

O plano holandês, no entanto, não é apenas ensinar, mas aproveitar o potencial econômico do Nordeste brasileiro. O PIB de Pernambuco cresceu 3,8% no ano passado ? semelhante ao desempenho dos principais Estados nordestinos ?, enquanto o País recuou 0,2%. Não por acaso, nos últimos cinco anos o entra-e-sai de navios e a movimentação de cargas dobraram em Suape.

Em 2010, espera-se um aumento de mais 20%. ?Nosso plano de negócios, que será apresentado aos potenciais parceiros após aprovação do governador Eduardo Campos, se apoia no grande potencial do complexo industrial. Até 2013, devemos quadruplicar o volume de carga, dos atuais 10 milhões para 40 milhões de toneladas/ano?, disse à DINHEIRO o presidente de Suape, Fernando Bezerra.
 

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                                        Sidnei Aires, vice-presidente “Seremos o terceiro maior porto brasileiro”

Mais carga, mais investimento. Cerca de US$ 17 bilhões serão investidos no porto com a chegada de 37 novas empresas ? 15 já estão em projeto ?, que se juntarão às 100 existentes.

Os recursos públicos também ganharam impulso. Entre 2003 e 2006, Suape recebeu R$ 147,4 milhões dos cofres públicos. De 2007 a 2010, o valor chegará a R$ 1,5 bilhão.

?Em três anos, passaremos da oitava para a terceira posição entre os portos brasileiros?, afirma Sidnei Aires, vice-presidente da estatal. Em paralelo às negociações com Roterdã, segundo fontes do setor, há diálogo com a Petrobras, que mantém grandes operações na região e já utiliza o porto para exportar e importar derivados de petróleo.

Se o plano de transformar Suape em S/A vingar, o porto poderá se tornar ainda neste ano um modelo para o resto do País ? e, de certa forma, simbolizará para pernambucanos e holandeses um reencontro com o passado. Nas terras onde hoje está Suape, o príncipe holandês Maurício de Nassau iniciou, 400 anos atrás, as primeiras pontes comerciais entre o Brasil colônia e a Europa. A história se repete.