A Interbrand divulgou há poucos dias o ranking das 100 marcas mais valiosas do mundo. Curioso, decidi contar quantas delas são da indústria de tecnologia. Das 10 primeiras, 6 têm DNA digital ou são empresas de mídia; as 4 primeiras são do ramo – Apple, Google, Amazon e Microsoft. Aparecem ainda entre as Top 10 a Samsung (6ª) e a Disney (10ª). 

Nas TOP 100 figuram também ebay (44ª), Netflix (65ª), Salesforce (70ª) e Paypal (72ª), fundadas entre 1995 e 1998; e Uber (87ª), Spotify (92ª) e LinkedIn (98ª), criadas entre 2002 e 2009. Contei ao menos outras 15 companhias originárias do mercado digital, incluindo IBM (12ª), Intel (13ª), Cisco (15ª), Oracle (18ª) e SAP (20ª).

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Observem: das 100 organizações, 28 atuam no segmento de tecnologia; 3 nasceram há menos de 18 anos, o Uber há 10. 4 delas ainda não completaram 25 anos. Nenhuma das 100 é brasileira.

O que isso quer dizer? Muita coisa. 

Quer dizer que o mundo passou nos últimos anos, e continuará passando nos próximos, por uma transformação radical gerada pelo avanço das novas tecnologias. Quer dizer que para ser competitivo no mercado, os profissionais de hoje e do futuro precisarão aprender muito mais disciplinas e habilidades além das que compõem a grade curricular das escolas e universidades. Mais ainda: quer dizer que com um mundo em constante e frenética revolução quem quiser se manter no mercado de trabalho precisará estar sempre atualizado e estudar por toda vida.

E aí eu pergunto: nossas instituições educacionais estão preparadas para formar estes novos profissionais? O conteúdo ensinado está alinhado com as demandas da Indústria 4.0 e todas as mudanças e impactos que ela já está trazendo na economia global? O Brasil conseguirá garantir sua competitividade para disputar um mercado cada vez mais pautado pela inovação?

De acordo com pesquisa conduzida pela Thomson Reuters, no Brasil 63% das empresas investem na capacitação de seus profissionais para uso da tecnologia e 80% dos executivos entrevistados acreditam que será impossível se manter competitivo nos próximos 3 anos sem a adoção das novas tecnologias. E acendem um sinal de alerta: apenas 17% acham que seus profissionais estão prontos para utilizá-las.

Acompanhar a velocidade destas mudanças é um desafio para universidades que ainda insistem na fórmula “Giz, Lousa, Saliva” para transmitir conhecimento e, mais do que isso, não entenderam que a sabedoria está além das paredes das salas de aula. Os professores são, sem dúvida, os mais preparados para fazer a ponte com o aprendizado, mas sua função deixou de ser simplesmente ensinar e, sim, ser um mentor de seus alunos. 

Esta nova postura abre uma janela para que professores e profissionais do mercado trabalhem juntos na formação profissional, associando estratégia pedagógica com a incorporação de novos cursos elaborados por quem vive e sabe quais são as dores de encontrar talentos mais preparados para fazer realmente a diferença, especialmente em organizações que são confrontadas todos os dias por novas tecnologias e novos modelos disruptivos com poder de roubar clientes de quem até hoje desfrutou de uma ‘supostamente intocável zona de conforto’.

Da mesma forma que vários setores já foram sacudidos pela digitalização dos negócios, como financeiro, mobilidade urbana, imobiliário e entretenimento, somente para citar alguns, a Educação também precisará incorporar novos formatos que facilitem o acesso e a troca do conhecimento gerado dentro das próprias corporações. 

Há muito o que aprender, e principalmente se atualizar, fora das universidades. Então por que não criar uma conexão entre os mundos acadêmico e corporativo? 

A boa notícia é que temos mais e mais movimentos nesta direção. O mercado de palestras, por exemplo, cresce a olhos vistos e vem atraindo o interesse de empresas que buscam em apresentações de “gente do mercado” uma forma de trazer e compartilhar experiências e visões sobre o presente e o futuro para manter seus profissionais antenados com as últimas tendências. 

Assim como é notável a evolução de fintechs, foodtechs, agritechs, lawtechs, retailtechs, assistiremos também uma escalada geométrica das edtechs. A integração de tecnologias nos processos educacionais será a chave para fazer a ponte entre as universidades e o mercado. 

EdTech: um mercado de US$ 252 bilhões

De acordo com o relatório EdTechXGlobal, o mercado global de EdTech irá alcançar um faturamento de US$ 252 bilhões no próximo ano. Aqui no Brasil, o Mapeamento de Edtechs 2018, conduzido pela Associação Brasileira de Startups (abstartups) em parceria com o Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB), identificou um total de 364 Edtechs, 43% delas no Estado de São Paulo. Um dado chama atenção: apenas 8% são voltadas para instituições do ensino superior, o que demonstra um passo mais lento entre as universidades na adoção de tecnologias.

Segundo estudo da HolonIQ os investimentos venture capital em educação no mundo foram de US$ 8,2 bilhões no ano passado, quase o dobro de 2017, quando alcançaram US$ 4,4 bilhões.

Os maiores investimentos globais em tecnologia educacional serão, também de acordo com a HolonIQ, em Realidade Aumentada e Realidade Virtual, passando de US$ 1,8 bilhão em 2018 para US$ 12,6 bilhões em 2025; Inteligência Artificial, de US$ 0,8 bilhão para US$ 6,1 bilhões; Robótica, de US$ 1,3 bilhão para US$ 3,1 bilhões; e Blockchain, de US$ 0,1 bilhão para US$ 0,6 bilhão.

Você mesmo; pare para pensar. 

Já imaginou quanto do que aprendeu e continua aprendendo ao longo da sua carreira poderia ajudar na evolução de outros profissionais? E se pudesse transmitir tudo que sabe através de uma plataforma digital sem precisar sair de casa para dar aulas presenciais nas melhores universidades brasileiras e do mundo? 

Você pode se tornar um fornecedor de conhecimento para universidades abertas e tradicionais que irão encontrar muito valor no que tem para ensinar aos seus pupilos, que, ao final do dia, querem estar prontos para enfrentar os desafios do mundo real. E tanto quanto ensinar, você também tem muito a aprender com as novas gerações. 

As oportunidades para treinamento corporativo são imensas quando pensamos na integração entre universidades e empresas. A pesquisa “O panorama do treinamento no Brasil”, organizada pela ABTD (Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento), Integração Escola de Negócios e Carvalho e Mello Consultoria Organizacional, indicou que no Brasil o investimento anual por colaborador em T&D é de R$ 788, uma média que nos Estados Unidos é superior a US$ 1,2 mil. Mais: o investimento sobre o faturamento bruto anual é de 0,63% no Brasil e 1,43% nas empresas norte-americanas. Os brasileiros dedicam 21 horas por ano em treinamentos; os americanos 33 horas. 

Este cenário traz consequências visíveis ao nosso mercado de trabalho e para gerarmos uma safra de empresas inovadoras. 

O estudo “Panorama da Transformação Digital no Brasil” revelou que este ano teremos 160 mil vagas na área de tecnologia que simplesmente não serão preenchidas. De novo: 160 mil! 75% das empresas consultadas informaram ter dificuldades de encontrar profissionais aptos para função. 

Um último dado: de acordo com o Institute for Business Value (IBV), da IBM, teremos que capacitar 7,2 milhões de profissionais no Brasil até 2023 por conta da chegada da Inteligência Artificial (IA) e da automação inteligente no mercado de trabalho.

O ranking global de Competitividade Digital, avaliação realizada em 63 países pelo Núcleo de Competitividade Global do IMD, escola de negócios suíça, em parceria com a Fundação Dom Cabral indicou que o Brasil permanece na 57ª posição, uma das piores avaliações. No quesito “habilidades tecnológicas e digitais” ficamos no 62º lugar. 

O ranking leva em consideração indicadores do emprego de tecnologias digitais na transformação econômica e examina cinco variáveis – conhecimento (capacidade de entender e aprender novas tecnologias); tecnologia (competência para desenvolver inovações digitais); prontidão futura (preparação para os desenvolvimentos no futuro; robô industrial (medida do número total de robôs em operação); e robôs usados para educação. 

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“Em 2030 a maior empresa de Internet do mundo será uma companhia na área de educação que ainda não ouvimos falar. Ninguém decifrou completamente o código para o futuro da educação”, prevê Thomas Frey, futurista do DaVinci Institute. 

Sua visão é de os MOOCs (cursos online aberto e massivos) irão ganhar muitos recursos na próxima década, incluindo o uso de robôs que irão dar aulas personalizadas em frente da tela, permitindo aos estudantes um aprendizado 10 vezes mais rápido do que atualmente por contarem com uma atenção dedicada e, com isso, evoluindo em menor tempo para graduação.

O gap tecnológico é um dos sintomas mais latentes das lacunas na formação dos nossos profissionais. É, claro, um indicativo importante, já que, como todas estas pesquisas evidenciam, não há futuro sem desenvolvimento tecnológico e as empresas disruptivas serão as líderes de um mundo cada vez mais interconectado, com negócios sem fronteiras, sem intermediários e sempre prontos para avançar enterrando velhos modelos e paradigmas. 

Alan Kay já sentenciou: “a melhor forma de prever o futuro é criá-lo”. Confúcio faz eco: “Se queres prever o futuro, estuda o passado”.  

Diminuir a distância entre universidades e corporações trazendo produtores de conteúdo com experiência no mercado é uma demanda urgente se quisermos melhorar a posição do Brasil entre os países mais preparados para economia da inovação. Quem está na universidade e precisa disputar seu lugar ao sol no mercado de trabalho tem pressa. Quem está procurando talentos para tocar seu negócio também. Só assim, integrando academia e negócios, aumentaremos as chances de vermos uma empresa verde-amarela na lista da Interbrand. 

Quem sabe não será a sua. ☺

 

(*) Arsenio Pagliarini é CEO do InterGroup Education Technology