Voltou à ordem do dia e dos interesses partidários a discussão sobre o financiamento eleitoral por parte das empresas. Políticos em campanha não conseguem viver sem as gordas subvenções de grupos da iniciativa privada. Esses, por sua vez, mostram-se sempre disponíveis e solícitos desde que, em contrapartida, garantam a simpatia – e, em alguns casos, gordos contratos estatais – de futuros governantes e parlamentares. Essa relação, por deveras promíscua, perdurou até aqui como “a melhor” fórmula e corre o risco de ser reeditada.

O pagamento de propina, via caixa dois, caixa um e qualquer outro caixa disponível, foi a tônica dessas, digamos, contribuições, de acordo com o que revelou a bem-sucedida Operação Lava-Jato, que investigou muita gente por conta da prática escusa. Foi com base nela que, por decisão quase unânime, haviam sido sepultadas as doações empresariais. O ministro do Supremo, Gilmar Mendes, em palestra na semana passada, resolveu polemizar sobre o assunto. Disse que as eleições, normalmente, custam bem mais que R$ 5 bilhões. E que mesmo o famigerado fundo de R$ 3,6 bilhões discutido no Congresso não seria suficiente para dar conta da empreitada eleitoreira em 2018.

Como alerta, do alto de sua experiência na condição de titular do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes disse serem necessárias fontes legítimas de financiamento aos partidos. Do contrário, no seu entender, abre-se uma enorme brecha para a busca de recursos de origem ilícita. A lógica do ilustríssimo magistrado é torta. Quer dizer então, seguindo a sua linha de pensamento, que os políticos são incapazes de organizar candidaturas mais baratas, com verbas espartanas? Não daria para gastarem mais sola de sapato, fazendo campanhas na base do gogó, sem carros de som, carreatas ou programas milionários de marketing para vender seu peixe? Na realidade dos comuns mortais, quando o dinheiro encolhe no orçamento a alternativa é buscar fórmulas mais baratas de sobrevivência.

A receita não poderia ser aplicada também por aspirantes a deputados, senadores, governadores e quitais? Colocado de outra maneira: após todo o terremoto de denúncias, perseguições, prisões e processos ainda estariam as empresas dispostas a mergulhar nessa canoa furada? O desfecho para o caso se aproxima de sua data limite. Até meados de outubro próximo o Congresso terá de deliberar sobre o modelo ideal.
O tal Fundo Democrático inicialmente sugerido parece agora descartado. Será instigante ver a criatividade dos candidatos na versão das eleições de 2018, sem um real no bolso, tocar suas propostas usando apenas o corpo a corpo com o eleitor. Afinal, em tempos não tão distantes, era exatamente assim que tudo transcorria.

(Nota publicada na Edição 1033 da Revista Dinheiro)