Por Roberto Samora

SÃO PAULO (Reuters) – O Brasil deve exportar mais soja e óleo de soja neste ano, após uma redução na mistura de biodiesel para o leilão 79, anunciada na semana passada, avaliou nesta quinta-feira a consultoria StoneX.

Com a alta dos preços do óleo de soja, que respondem por até 80% da matéria-prima do biodiesel no Brasil, as cotações do biocombustível dispararam no leilão 79, o que levou o governo a decidir pela suspensão da licitação antes de reduzir a mistura de 13% para 10% para o certame, que foi retomado nesta semana.

Segundo apresentação da StoneX, o consumo de óleo de soja para biodiesel no Brasil agora terá queda de 4% no ano ante o projetado inicialmente, para 5,27 milhões de toneladas.

Ou seja, um volume de cerca de 200 mil toneladas deixará de ser consumido para a produção de biocombustível –e poderá ser exportado–, na comparação com o que se previa anteriormente, com uma mistura de 13% para o leilão 79.

Isso “deve aumentar o excedente de óleo de soja no mercado doméstico. Essa soja que deveria seria destinada ao mercado de biodiesel não será mais… deve ter aumento do excedente e possivelmente aumento de exportações de óleo de soja”, afirmou o analista de mercado de óleos vegetais da StoneX, Luigi Bezzon, durante apresentação.

Questionado pela Reuters após sua fala, ele reafirmou que a tendência é de que o excedente de óleo de soja seja exportado, assim como citou também possível aumento nas exportações do grão, como consequência de menor processamento.

“No entanto, ainda deveremos ter um volume menor nos esmagamentos, em relação ao previsto antes da redução, e possível alocação desta soja não esmagada para as exportações in natura.”

Em 2020, após a pandemia impactar o mercado de diesel e consequentemente de biodiesel, as tradings exportaram mais óleo de soja do que o esperado, com o Brasil fechando o ano com embarques de 1,1 milhão de toneladas, cerca de 300 mil acima do estimado em meados de julho.

Para este ano, com o aumento da mistura de biodiesel no diesel de 12% para 13% a partir de março –exceção feita, por ora, para o bimestre maio e junho, com a mudança no leilão 79–, a expectativa seria de forte queda nas exportações de óleo de soja do país, para 600 mil toneladas, de acordo com os últimos números da associação da indústria Abiove, que não alterou suas projeções até o momento.

As exportações de soja em grãos do Brasil em 2021 estão estimadas em 84 milhões de toneladas, um recorde que supera o volume de cerca de 83 milhões de 2020, conforme estimou a Abiove em meados de março.

Os preços de óleo de soja para exportação no porto de Paranaguá estão em patamares historicamente elevados, de 1.226 dólares por tonelada, com uma alta de mais de 30% no acumulado do ano.

De acordo com Bezzon, é improvável que a mistura B10 prossiga nos próximos leilões de biodiesel, uma vez que a oferta de matéria-prima vai aumentar, não somente com safra recorde do Brasil, mas também com a colheita na Argentina.

Assim, ele acredita que o governo voltará a permitir um “blend” de 13%.

Caso contrário, se o B10 prosseguir ao longo do ano, o consumo de óleo de soja para o biodiesel cairia 16% ante o previsto inicialmente, para 4,59 milhões de toneladas.

Ele disse que a redução da mistura pode pressionar os preços, mas lembrou que a demanda para biodiesel ainda está bem forte.

tagreuters.com2021binary_LYNXMPEH3E18S-BASEIMAGE