Iluminar estrelas. O significado da palavra Stellantis parece refletido nos números do primeiro ano de operação do quarto maior conglomerado automotivo do mundo, resultado da fusão da ítalo-americana FCA (Fiat Chrysler) e da francesa PSA (Peugeot e Citroën). A companhia, que também comercializa globalmente produtos Dodge, Jeep e RAM, registrou lucro líquido de 13,4 bilhões de euros em 2021, e faturamento de 152 bilhões de euros. Do total, 7% (10,7 bilhões de euros) foram provenientes da América do Sul, onde a montadora assumiu a liderança do mercado brasileiro, que estava em poder da GM desde 2015. No que depender de Antonio Filosa, presidente da Stellantis para a região, defender seu território é prioridade máxima. “Queremos ter a melhor qualidade nos nossos produtos para sustentar a nossa liderança no Brasil e na região”, afirmou.

Para tanto, a marca prepara uma série de novidades para o mercado sul-americano até 2025. Serão 23 novos modelos nacionais e importados, sete deles híbridos ou elétricos. O executivo anunciou ainda 28 reestilizações de automóveis hoje no portfólio, além da chegada de uma bandeira — o nome não é confirmado, mas seria a Abarth. Os investimentos na região somam R$ 16 bilhões e vão até 2024. As iniciativas se juntam a uma série de medidas reveladas pelo CEO global da Stellantis, Carlos Tavares, no Dare Forward 2030, plano estratégico para a próxima década. Entre as principais metas da companhia está tornar-se carbono neutro até 2038, com redução de 50% já até 2030. O português Tavares afirmou que a corporação adotou nova mentalidade, “que busca transformar todos os aspectos da mobilidade para a melhoria da sociedade”.

A estratégia mundial da Stellantis tem foco principal no segmento elétrico. A companhia planeja que 100% das vendas na Europa e 50% nos Estados Unidos sejam de veículos elétricos a bateria (BEVs) até o final desta década — com mais de 75% de modelos no portfólio. Nesse período, pretende alcançar também a comercialização anual global de 5 milhões de unidades do segmento. Nesse caminho foi apresentado o primeiro SUV 100% elétrico da bandeira Jeep, a ser lançado em 2023, e uma prévia da nova picape RAM 1500 BEV, que chegará em 2024. As iniciativas visam também ampliar os ganhos globais da Stellantis. O principal executivo global afirmou que com isso dobrará a receita líquida até 2030 e “manteremos margens de lucro operacional ajustado de dois dígitos ao longo da década.”

PORTFÓLIO VARIADO SUV elétrico da Jeep chega em 2023. Fiat Strada lidera o mercado. (Crédito:Divulgação)

Os planos se mostram ousados. E os desafios ainda mais. A invasão da Ucrânia pela Rússia traz dificuldades à indústria brasileira em geral. Para Filosa, os preços das commodities, como petróleo, aço e alumínio, deverão se manter em ascensão, a exemplo dos custos com matérias-primas e logística — devido à suspensão de rotas na região do conflito. Isso sem contar que as montadoras enfrentam dificuldades para aquisição de componentes, como os semicondutores, situação que só deve se normalizar em 2023. “Alguns modelos têm fila de espera, porque as cadeias de fornecimento ainda não se regularizaram”, afirmou Filosa.

Ele disse também não acreditar que a redução de 18,5% do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) resulte, em um primeiro momento, em queda no preço dos automóveis. A medida foi anunciada pelo governo federal no final de fevereiro e, na visão do executivo, pode contribuir para que os preços ao consumidor não tenham alta acentuada. O corte funcionaria como uma compensação da alta inflacionária.

A opinião não é integralmente compartilhada pelo presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes. Segundo ele, os custos das montadoras deverão ser impactados pela guerra, mas ele vislumbra a redução de preço de produtos em algumas marcas. “Agora estamos conversando com o governo federal para estender essa diminuição ao estoque da rede (atualmente em 27 dias), que já existia antes da decisão do corte no IPI.” A redução do imposto tem, de acordo com a entidade, impacto potencial de queda no preço final dos veículos de 1,4% a 4,1%, dependendo do segmento.

A preocupação é evidente. Os números relativos a fevereiro, anunciados pela Anfavea, apontam queda de 15,8% na produção, para 165,9 mil unidades, em relação ao mesmo período do ano passado. As vendas tiveram redução de 22,8% na comparação anual, com 129,3 mil emplacamentos. Se considerados os primeiros dois meses deste ano, a produção acumula diminuição de 21,7% e os licenciamentos de 24,4% frente ao mesmo intervalo do ano passado.

OUSADIA E ASCENSÃO O CEO global Carlos Tavares prevê dobrar a receita global da Stellantis até 2030, além de manter margens de lucro operacional de dois dígitos. (Crédito:Arnd Wiegmann/REUTER)

PROJEÇÃO Apesar dos resultados e de todas as adversidades, o presidente da Stellantis América do Sul aposta em crescimento entre 4% e 8% do mercado nacional em 2022, com base em estimativas do setor. O grupo fechou o primeiro bimestre com a venda de 80,7 mil automóveis e comerciais leves, com participação acumulada de 20,99% nesses segmentos. A Fiat Strada segue como o modelo mais comercializado no País, com 14 mil unidades no período. Entre os SUVs a liderança é do Compass, da Jeep, também pertencente ao grupo Stellantis. Foram vendidas 9,4 mil unidades em janeiro e fevereiro, construindo um marketshare de 10,42%.

Qualquer projeção para o decorrer do ano, segundo a Anfavea, mostra-se arriscada devido à incerteza em relação aos desdobramentos da guerra. Na opinião de Luiz Carlos Moraes, é cedo para rever as estimativas anunciadas no início do ano em relação ao comportamento do mercado brasileiro. A entidade mantém a aposta na redução do IPI como importante impulsionador de vendas, mas que pode não ser o bastante. “Ainda não dá para fazer uma projeção sobre os impactos da guerra”, disse.

+ Terapia reverte com segurança sinais de envelhecimento em camundongos
+ A mansão mais cara do mundo: meio bilhão de dólares
+ Mansão mais cara do mundo é vendida pela metade do preço