Há pandemias que vêm para o bem. O ambiente dos negócios evidenciou modelos ultrapassados, ao mesmo tempo em que fortaleceu conceitos inovadores. E fez surgir soluções disruptivas, em que se destacam as startups, por possuir característica dinâmica, geralmente de baixo custo operacional, com potencial escalável e de obtenção de boas margens de lucro. Prato cheio para os investidores, que mais do que nunca estão de olho em oportunidades e mantêm aquecidas as incursões nessas companhias, que têm a tecnologia como trunfo para resolver os problemas de pessoas e empresas.

O Brasil tem R$ 5 bilhões disponíveis para investimento imediato, segundo estudo feito pela comunidade composta por 520 ventures capital e anjos que estão em busca ativa para aplicações. “O País tem produzido boas empresas e temos valores recordes para serem alocados”, afirmou Bruno Dequech Ceschin, líder da pesquisa e cofundador da Jupter, que encontra e financia projetos disruptivos. A visão é reforçada por André Martins, CEO da SuperJobs Ventures. “Essa nova economia de investimento tem papel importante na retomada. Estamos na captura”, disse Martins.

Além do volume de R$ 5 bilhões prontos para serem aplicados na aceleração de negócios promissores, o levantamento – feito com 120 empresas de investimentos e 400 pessoas físicas interessadas em fazer aplicações – revelou que ao menos 20 novos fundos estão sendo estruturados no Brasil neste momento. Com a taxa Selic em baixa, a 2%, e o dólar instável – R$ 5,47 na cotação da terça-feira (17) –, a tendência é de que os investimentos do capital de risco brasileiro permaneçam no País. Esse apetite do mercado investidor foi retomado após dois momentos provocados pelo anúncio da pandemia, no início de março. No primeiro deles, houve um susto e os aportes foram paralisados. Diante de um cenário extremamente nebuloso e inédito, de uma crise sanitária sem precedentes, a orientação foi “sentar no caixa” e ter calma. “Paciência foi a palavra chave”, afirmou André Martins.

Muitas pessoas físicas, que antes dos problemas causados pela Covid-19 tinham alta expectativa de aportes, reduziram o ímpeto. A liquidez diminuiu. Mas essa foi apenas uma parte do contexto dos investimentos. Muitos avaliaram que o mercado estava estático. “Criou-se um mito de que não havia capital de risco no Brasil”, afirmou Bruno Ceschin, que iniciou amplo debate com o ecossistema para entender melhor as perspectivas, com vieses variados, e obter junto ao mercado uma prospecção mais realista. “Nossa visão tinha de ser mais completa”, disse.

O segundo momento foi marcado pela observação das soluções criadas para as necessidades dos novos hábitos da sociedade. A digitalização dos processos avançou. As companhias de tecnologia se destacaram e as ações desse setor dispararam nas bolsas de todo o mundo. Os investidores acompanharam esse panorama e estão com a alça de mira apontada para startups das áreas de educação, finanças e saúde, de acordo com o estudo da comunidade. “As techs são as vencedoras dessa crise. Os investimentos também migraram para a digitalização”, afirmou Bruno Ceschin.

Alex Batista

“Essa nova economia de investimento tem papel importante na retomada. o pós-pandemia vai ser forte” André Martins, CEO da Superjobs Ventures.

EXPECTATIVA A maior parte do interesse é por investimentos semente, que variam de R$ 500 mil a R$ 2 milhões, e por rodadas de séries A e B. O terceiro e quarto trimestres deste ano prometem ser movimentados, na expectativa dos investidores. “O pós-pandemia vai ser forte”, afirmou André Martins. A projeção é feita a partir dos bons frutos colhidos agora. Um dos investimentos feitos por ele alavancou durante a crise do coronavírus. A healthtech Vittude, que oferece terapia on-line com psicólogos a qualquer hora, em qualquer lugar, saltou de 22 mil para 150 mil pacientes de março até agora – crescimento de quase 600%. A telemedicina foi regulamentada pelo Ministério da Saúde para atender às demandas na quarentena. “É um tema que estava em andamento e foi acelerado pela pandemia”, disse o executivo da SuperJobs Ventures.

Startups apontadas no estudo como um dos três principais alvos para receber investimentos, as fintechs recebem críticas de algumas alas investidoras. Com a oferta de crédito muitas vezes não chegando na ponta final pelo sistema convencional, as techs financeiras não conseguiram absorver toda a demanda. A avaliação é de que poderiam liderar a estrutura de crédito e ser uma alternativa aos grandes bancos, como sempre disseram ser. O que não teria acontecido. “Ainda dá tempo de se aproximarem dos clientes e fazerem uma interação mais presente”, afirmou Martins, numa avaliação de quem tem acompanhado com lupa esse nicho. Continuam sendo foco do mercado investidor pelo aumento do número de clientes, pelos serviços de carteira digital e pelas formas de pagamentos em contato, como o QRCode.