O cantor Neil Young, de 76 anos, a voz do clássico Rockin’ in the Free World, tinha uma média de 6 milhões de ouvintes mensais no Spotify. Tirou seu catálogo e a Netflix da música perdeu 6% em suas ações e US$ 2,9 bilhões em valor de mercado.

Se Justin Bieber, um dos líderes de audiência da plataforma, com 78 milhões de ouvintes em janeiro de 2022, desligasse sua vitrola por lá, a perda poderia ser de US$ 37,7 bilhões, o exato valor de mercado do Spotify atualmente? Pode ser uma conta simplória e absurda, mas se Bieber atacar, vai doer.

O serviço de streaming de música, podcast e vídeo mais popular do mundo, nascido em 2008 na Suécia, teve uma amostra do quanto pesa uma controvérsia célebre em seus números — embora a médio prazo analistas digam que a tendência é se recuperar do golpe na boa. O primeiro direto no queixo aconteceu graças a seu podcast mais popular, The Joe Rogan Experience, que trouxe entrevistados polêmicos debatendo Covid-19, o que irritou Young.

A queda do Spotify não impacta 2021, que fechou o ano num crescendo contínuo, resultando em receita no quarto trimestre de 2021 de 2,7 bilhões de euros, alta de 24% comparado a 2020, e 407 milhões de usuários assinantes ativos, sendo 180 milhões de assinantes Premium.

Dentro de seus podcasts, o mais notório e caro é o de Joe Rogan, com média de 11 milhões de ouvintes por episódio — os ouvintes mensais de Young, infelizmente, não fazem muita cócega no número do apresentador.
No setor musical, o Spotify tem 70 milhões de músicas em seu catálogo e, dizem, só gera grana alta para os grandes nomes — os menores tiram um direito autoral ínfimo, uma das controvérsias das quais a plataforma tem escapado incólume, já que grandes artistas não estão protestando contra isso.

VETERANOS EM AÇÃO Young e a cantora Joni Mitchell (abaixo), com 3,7 milhões de ouvintes no Spotify, que seguiu o amigo e retirou seu catálogo do streaming (Crédito:Joshua Roberts)

Mas por que tudo aconteceu? Young luta com Rogan, que tem uma longa, multifacetada e bem-sucedida trajetória no showbusiness americano. É um respeitado comediante standup desde 1990, comenta lutas de UFC desde 1997, já foi ator de sitcoms como NewsRadio (1995) e encontrou no rádio, em streaming, seu microfone preferido.

Não é um apresentador comum. Faz entrevistas sem script de duas a três horas, com uma diversidade de personalidades, incluindo cientistas e inovadores, como Elon Musk, que o apoiou esta semana, ironizando Neil Young: “Se você não pode censurar o cara de que eu não gosto, não vou deixar você ouvir Rockin’ in the Free World”.

A controvérsia O Spotify teria pagado US$ 100 milhões para Rogan migrar para sua plataforma, em 2020. O valor nunca foi confirmado ou negado, nem dito em quantos anos isso seria diluído, mesmo assim é uma das maiores operações no meio.

A entrevista que disparou a ira da comunidade científica e Young foi a de Robert Malone, pioneiro bioquímico, físico, farmacêutico, pesquisador, vacinólogo e precursor da tecnologia mRNA, que é a base das vacinas contra o Covid-19. Com esse currículo, ele tem opiniões agudas a respeito dos possíveis efeitos colaterais.

Ele mesmo tomou duas doses, não é um antivacina, mas teve séria miocardite depois da segunda. Além disso, acredita na imunidade natural como superior à vacina e criou a expressão Psicose de Formação em Massa para explicar a campanha do governo contra o Covid-19.

E Rogan? Em suas longas entrevistas, já afirmou que se a pessoa fosse saudável e jovem e perguntasse pra ele se deveria tomar a vacina, diria “não”. Depois voltou atrás dizendo que ele não é a melhor fonte de informação pra ninguém, nem pra ele próprio.

Segundo ele, o podcast foi acusado de espalhar desinformações por causa das entrevistas com Malone e Peter McCullough, cardiologista que é o mais publicado médico da história em sua área. Ambos são altamente credenciados, inteligentes, bem-sucedidos e têm opiniões diferentes da narrativa usada no mainstream. “Eu quero ouvir a opinião deles.

O Spotify sugeriu colocarmos um aviso dizendo que a opinião do entrevistado é contrária à do consenso de experts. E que eu fizesse em seguida entrevistas com outras perspectivas. Concordei. Vou tentar balancear isso”, afirmou.